Livro: Apaixonados Página 2

... a quente, neste frio? — O encanador esteve aqui na semana passada e não resolveu nada — a sra. Martinez completou, e ambas continuaram a desfiar suas reclamações. — Senhoras, estou fazendo o melhor que posso — Mi¬chael, afinal, conseguiu interrompê-las. Com um suspiro de desaprovação, as vizinhas voltaram ao seu apartamento. Fechando a porta, Michael lembrou que restava apenas um candidato para entrevista. Olhou no relógio e cons¬tatou: ele estava atrasado, um mau começo. Ouviu, então, o som da campainha que acusava alguém entrando no saguão do prédio. Como o interfone também estava que¬brado, ele não pôde perguntar quem era. Através da porta de vidro do hall, pôde avistar o car¬teiro na calçada. O homem parecia irritado. — Tenho uma encomenda para o sr. Michael Janos, mas não consegui abrir a caixa de correio. — Sou eu mesmo. Sinto muito, este é um prédio velho e precisa de reformas. — Michael foi ao encontro do car¬teiro no saguão. — É um elefante branco, isso sim. Axton foi muito esperto em desfazer-se dele. David Axton fora o proprietário do prédio por um bom tempo. Um homem de boas maneiras, mas sem nenhum caráter. Michael fizera o seguro do edifício com a seguradora do próprio Axton e, desde então, só tivera pro¬blemas. O prejuízo foi se acumulando até que a questão precisou ser resolvida nos tribunais. Axton declarou-se falido, e Michael ficou com o imóvel como pagamento da indenização. — O prédio irá valorizar muito, tenha certeza — dis¬sera Axton, dando um tapinha nas costas de Michael na saída do tribunal. — Ele precisa apenas de uns pequenos reparos, mas tem um grande valor histórico. Esse "grande valor histórico", desde então, custara a Michael muitos dólares em consertos e, pior ainda, inú¬meras e constantes reclamações. O carteiro se foi. Michael, em pé na calçada com o misterioso pacote nas mãos, verificou o destinatário, sur¬preendendo-se ao ver seu nome de b ...

tismo escrito com capricho à mão: Miklos. Ninguém nunca o chamara dessa forma. Quem haveria enviado aquele pacote? O que con¬teria?, indagou-se perplexo. Observou que o selo era húngaro. Mas ele não conhecia ninguém em seu país de origem, uma vez que seus pais haviam imigrado para os Estados Unidos nos anos sessenta, quando era ainda criança. Sacudiu o embrulho próximo ao ouvido e constatou que estava com uma terrível dor de cabeça. De súbito, ouviu um ruído seco atrás de si, e ao virar-se, notou que a porta de entrada se fechara. Para completar aquele magnífico dia, ficara trancado do lado de fora. Brenda Munro parou com o papel nas mãos, conferindo mais uma vez o endereço: rua Roma, 707. Era aquele mesmo o lugar que procurava. Observando com atenção, o prédio parecia com um ve¬lho sobrado; talvez porque, décadas atrás, Fullerton fora um bairro muito próspero. Ao aproximar-se, viu um homem em uma situação constrangedora. Sem casaco algum, ele pressionava a por¬ta de entrada, que, obviamente, fechara atrás de si. Aflito, aquele homem de cabelos negros e porte atlético forçava a maçaneta até que ela se soltou. — Talvez seja mais fácil chamar alguém para abrir — Brenda disse, sorrindo. Ele a fitou, e Brenda prendeu a respiração, atenta àquele rosto. Não era um modelo de beleza masculina, mas exibia traços definidos e perfeitos. No entanto, foram os olhos que a fascinaram. Aquele homem tinha olhos castanho-claros, cor de mel, que produziam um olhar pro¬fundo, enigmático e encantador. Sob total impacto, Brenda sentira um frio na espinha, e os joelhos enfraqueceram. O que haveria de tão especial naquele olhar, naquele homem cativante?, pensou Brenda, enquanto tentava, em vão, não demonstrar suas emoções. — De onde você veio? — Michael perguntou, surpreso. — De longe. Quer que eu conserte isso para você? Michael empurrou a porta com o corpo, enquanto, mal-humorado, segurava o pacote. — Já tive ...

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