Livro: Anjo Loiro Página 2

... Embora Durham e ele tivessem combinado não perderem contato, a distância entre a Inglaterra e San Gabriel, onde ele possuía a fazenda, era grande e nunca achara tempo para escrever cartas. Tivera muito que aprender sobre a plantação de milho e juta, e sobre a formação de pomares, onde pudesse colher suas próprias frutas. Mas o que tomava a maior parte de seu tempo era a criação de cavalos e bois, a sua verdadeira paixão. Era como se tivesse passado toda a vida à procura de sua vocação, e quando se vira diante dela, reconhecera-a imediatamente. Mas há seis semanas, tinha recebido aquela carta. A campainha do telefone interrompeu seus pensamentos e, movendo-se pela sala, atendeu à chamada. — Aqui fala Tarrant — falou tenso, mas acalmou-se quando ouviu a voz da telefonista do hotel. — Está aqui uma jovem que disse que o senhor a espera, sr. Tarrant. — Pode deixá-la subir. — Imediatamente, senhor. — Ah! — Tarrant mordeu o lábio inferior, indeciso. — Eu também. também estou esperando mais alguém. Um rapaz. Quando ele chegar, avise-me, sim? — Sim, senhor. Jason recolocou o telefone no gancho, enquanto pensava, preocupado, na entrevista que teria com a possível governanta para o garoto, principalmente porque ela era uma mulher. Infelizmente fora difícil conseguir um homem que se dispusesse a abandonar a civilizada Londres para ir morar numa remota casa, numa fazenda no interior do Uruguai. Esperava que a mulher não fosse muito jovem, pois tinha certeza de que Estelita não aprovaria que ele trouxesse uma mulher com menos de trinta e cinco anos para dentro de casa. Enquanto esperava, andava inquieto pela sala, olhando-se nos espelhos chineses que encimavam a lareira de mármore. Certamente aquela roupa dava a ilusão de ele ser um homem perfeitamente à vontade na cidade, mas Jason não via a hora de vestir novamente a calça e a camisa de brim, que usava costumeiramente em suas terras. Sorriu mais uma vez, imaginando o q ...

e Charles Durham pensaria se pudesse vê-lo agora. Sem dúvida o velho amigo ficaria orgulhoso pelo seu sucesso. Jason arrependia-se de seu descaso, não o procurando durante todos estes anos, mas agora era tarde demais para sentir remorso, e a única coisa que poderia fazer era dar àquele garoto o lar que ele também nunca tivera. Seus olhos críticos examinaram a suíte. Será que este lugar é o mais aconselhável para uma entrevista?, pensou, preocupado. Seria melhor se houvesse outra mulher presente? Mas quem? Conhecia pouca gente em Londres. Quem sabe a recepcionista do hotel? Ela certamente tinha mostrado grande interesse por ele, quando chegara, mas, sem falsa modéstia, aquele tipo de interesse dificilmente combinaria com a ocasião. Não, aquilo era uma coisa que teria que fazer sozinho, e teria que confiar em sua capacidade de julgamento. Continuou a andar pela sala, um pouco ansioso. Os dois homens que entrevistara anteriormente tinham pensado que, por ele ser um homem rico, deveria ter uma casa em Porto Novo ou Valvedra. Quando souberam que a estância ficava a cem quilômetros do litoral, logo se desinteressaram. Por que uma mulher pensaria diferente? A menos que fosse uma solteirona seca e feia, que visse ali uma oportunidade para se engraçar com o patrão. Fez uma careta. Estava sendo cínico e sabia disto. Mas anos de trabalho duro e de luta pela vida tinham-no ensinado a não confiar nos motivos aparentes de ninguém. Durante toda a sua vida, somente Charles Durham o ajudara, e, agora que ele estava morto, Jason estava disposto a fazer o que pudesse pelo filho do amigo. mas não à custa de sua própria liberdade. Tinha sentido por um breve espaço de tempo o gostinho do casamento, mas aquilo o tinha vacinado para sempre e não pretendia jamais repetir uma experiência tão traumática. Gostava de mulheres, não negava. Mas o casamento não estava mais em seus planos. o que fazia com que o sangue latino de Estelita fervesse de revolta. Uma ...

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