Livro: Nas teias do Ciúme - Katryn Cranmer Página 2

... e, olhando para o céu —, a chuva está parando e eu vou indo. Até amanhã, companheiro. Liz entrou no apartamento elegante e confortável, tirou a capa e as botas molhadas. Parecia bastante jovem com a calça marrom e a blusa creme. Poucos diriam ser a esposa de Francisco, com quem tinha se casado há seis meses. Penteou os cabelos devagar e depois foi à cozinha. Abriu a geladeira e encontrou tomates frescos e um pedaço de queijo, comprados naquela manhã pela sra. Hammond, a empregada. Na verdade, não sentia o menor apetite, mas resolveu fazer um esforço para alimentar-se. Com desânimo preparou um sanduíche de queijo e um suco de maçã. Enquanto comia o sanduíche sem muita vontade, começou a se perguntar em que momento o seu relacionamento com Francisco tinha começado a se tornar difícil. Dez meses atrás, amavam-se tanto, que nada parecia impossível de superar. A primeira vez que se viram, na casa de um amigo muito rico da faculdade, foi como um sonho que se transformava em realidade. Cinderela e o Príncipe Encantado, pensou com certa ironia. Na época, não acreditou que Francisco Ramirez, o filho mais velho de uma das famílias espanholas mais ricas e tradicionais, um dia ia se apaixonar por ela. Pegou o prato de louça com o sanduíche que mal começou a comer e deixou-o de lado. Em seguida, foi para a sala de estar e sentou-se no sofá de couro, os pensamentos ainda voltados para os primeiros momentos de seu romance com Francisco. Suspirou fundo. A paixão que os uniu superou barreiras de classe e de cultura, mas agora havia chegado a hora de parar de sonhar. Precisava encarar a realidade: eles se casaram, mas Francisco em tudo demonstrava estar arrependido. Levantou-se, andou até o conjunto de som e colocou um disco. Talvez uma música a ajudasse a abandonar aqueles pensamentos. Quando os acordes de um dos últimos quartetos de Beethoven encheram a sala, trouxeram junto as lembranças do casamento. Parecia tão longo aquele dia, que e ...

a como se outra pessoa tivesse subido ao altar. Não podia esquecer, porém, do buquê de rosas brancas e da mão de Francisco, que prendia a sua com força após a cerimônia. A noite de núpcias também era uma lembrança viva e gratificante. Francisco foi um amante habilidoso e apaixonado e com muito carinho ajudou-a a quebrar as barreiras criadas por sua inexperiência. Liz caminhou impaciente pela sala, agitando a cabeça como que para afugentar as lembranças. Desligou a vitrola, interrompendo a música bruscamente. Só agora se dava conta de que o primeiro desentendimento entre eles tinha surgido logo que ela entrou para a universidade. Era inacreditável que tudo tivesse acontecido por causa de Steve Farren, estudante de línguas e seu melhor amigo na faculdade. Certo dia Francisco foi buscá-la na saída das aulas e viu Steve com o braço nos seus ombros, num simples gesto de amizade. Mas ele interpretou a cena como quis e se recusou a ouvir explicações. Liz ainda estremecia ao se lembrar da expressão de fúria do rosto dele. A discussão, porem, acabou quando ele a tomou desesperadamente nos braços e em seguida fizeram amor. Mas depois desse incidente, nada voltou a ser como antes. Ele passou a amá-la com certa violência e, sem quase entender como, Liz viu o relacionamento entre eles ir ficando mais e mais complicado. Normalmente Francisco era gentil, mas na cama sempre demonstrava arrogância e grosseria. E veio a crise. Deprimida com essas lembranças, Liz foi até a janela e olhou para fora. Mas, na verdade, não estava vendo os prédios molhados e suavemente iluminados pelo sol que já começava a aparecer. Todo seu pensamento, toda sua esperança estava no que Francisco havia dito antes de partir para a Espanha: que precisava dela. Suspirou e apoiou a, cabeça contra a vidraça fria, pensando que aquilo nada significava. Era uma falsa esperança. Tinha recebido apenas dois telefonemas dele: um para dizer que chegou bem, outro para dizer que ...

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