Livro: Os jardins de Barcelona Página 3

... ela achava estranho que a presença de Ryan a deixasse nervosa e insegura. Mas disfarçou bem: fez com que ele entrasse em sua sala, tentou tratá-lo como um cliente qualquer. só que percebeu que estava agindo como uma tola. Quanto a Ryan Sagan, já estava acostumado a esse tipo de atitude por parte das mulheres e o comportamento de Holly não o surpreendeu. No entanto, apesar do nervosismo, ela se conteve para não rir ao reparar na camisa havaiana estampada que Ryan usava e que destoava completamente da decoração da sala. Para Holly, a cor branca representava paz e serenidade, algo geralmente reservado a lugares de respeito. A camisa havaiana de Ryan era uma afronta para a sagrada instituição bancária. Mas, de certa forma, ela já esperava que o rebelde de Indian Palms, conhecido por suas grotescas proezas, não fosse aparecer vestido de acordo com o que era considerado próprio para um encontro de negócios. Holly conseguiu esconder a raiva, transformando-a num sorriso frio, e estendeu graciosamente a mão para cumprimentá-lo. Admitia que o grande astro do mundo do rock não tinha nada de supérfluo ou falso, como muitos dos músicos que haviam desperdiçado a juventude com drogas e álcool. Reparou que os olhos dele, de um verde escuro, estavam mais brilhantes, e que o magro porte juvenil se transformara num corpo atlético. Os cabelos longos que chocavam as pessoas da cidadezinha de Indian Palms, no início dos anos sessenta, agora tinham um corte perfeito, rigorosamente dentro da moda. Holly observou-lhe a pele bronzeada e isso a fez lembrar-se de uma tarde quente e ensolarada, muitos anos atrás, em que Ryan e Lisa lavavam o velho Chevrolet que pertencia a ele e brincavam, espirrando água um no outro. Aquele carro velho vivia sujo e foi um custo deixá-lo limpo. Holly recordou que os dois namorados usavam maiôs e que seus corpos bronzeados brilhavam ao sol. Bem, mas agora não era o momento certo de ficar relembrando o passado. Holly tinha que ...

trabalhar. Por isso respirou fundo e encarou Ryan com indiferença. Ela só não esperava o que veio a seguir. Entre surpresa e assustada, ouviu-o dizer, os olhos brilhando: — Lisa? Lisa Tammer, você por aqui? — Em seguida explodiu numa gargalhada e continuou: — Não, não. Claro que não. É Holly. Sabe, vim até aqui esperando encontrar a sra. Hollis T. McBain e veja só quem encontrei! Como você cresceu, Holly, desde aquele Natal! Ryan nem percebeu que ela o olhava com raiva e, levantando-a, abraçou-a com força. Foi um abraço tão efusivo que os cabelos loiros de Holly soltaram-se da fivela de ouro e sua impecável blusa de seda saiu de dentro da saia. Nesse momento Donald entrou na sala. — Bem, então depois de longos anos vocês se encontraram novamente, hein? Que bom! Hollis me disse que são da mesma cidade. — Eu não estou acostumado a pensar nela como Hollis — disse Ryan enquanto a colocava no chão. — Este é o meu nome verdadeiro, Ryan. Ela murmurou essas palavras só para ter alguma coisa a dizer enquanto se ajeitava. Percebeu que seu brinco de ouro caíra no chão, mas achou que não ficaria bem procurá-lo agora naquele espesso carpete branco. — Mas. e este sobrenome, McBain? Você está casada? — Divorciada. — E como vai Lisa? — Ótima. Mentira. Lisa não estava ótima coisa nenhuma. Aliás, não esteve desde o dia em que ele a deixara, vinte anos atrás, e Ryan sabia disso. Na certa lera o artigo de primeira página de uma revista de fofocas, para a qual Lisa vendera sua história por quinhentos dólares e onde afirmava ter sido "a única mulher que Ryan Sagan amou”. À matéria trazia uma foto de Lisa, muito envelhecida para os seus trinta e cinco anos e vinte quilos mais gorda do que quando ele a abandonara. — E sua mãe? — Morreu há cinco anos. — Sinto muito. "Que hipócrita! Nunca gostou dela!", pensou Holly. Donald, sentindo tensão no ar, mudou rapidamente de assunto. Ninguém melhor do que ...

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