Livro: Os jardins de Barcelona Página 2

... e lembrava direitinho da cena: em pé em frente à porta da antiga e mal conservada casa de sua mãe, na pequena cidadezinha de Indian Palms, vira sua irmã mais velha, Lisa, chorar feito louca enquanto Ryan se dirigia para o carro. — Tchau, Holly. E feliz Natal! — dissera ele, parando para acariciar-lhe os longos cabelos. Holly ficara quieta, olhando-o entrar no veículo e desaparecer na primeira curva. Depois olhara para Lisa e não se contivera: — Se algum dia eu vir Ryan Sagan morrendo e sangrando na rua, não vou mexer um dedo para socorrê-lo. Ela só repetira uma frase que a mãe vivia dizendo a respeito do pai, que tinha saído de casa há dois anos. Para a inocente cabeça de Holly, ir embora era alguma coisa que somente os homens costumavam fazer. E, na sua ingenuidade de criança, dizia que achava um desperdício chorar e amaldiçoá-los. A única maneira de evitar a mágoa era simplesmente esquecê-los. Holly cedo aprendeu a ser prática. A mãe trabalhava num café barato e Lisa era incapaz de permanecer muito tempo num emprego. Assim, a responsabilidade de tomar conta da família logo caiu sobre os ombros dela, que fazia de tudo para ganhar dinheiro. Limpava casas, recolhia folhas secas dos quintais, lavava carros, cuidava de crianças e passeava com cachorros. Mas sua carreira em bancos começara cedo. Aos dez anos, trabalhando na casa de uma senhora, limpando os armários, foi-lhe pedido que ajudasse a conferir um saldo bancário. Holly descobriu um erro do banco, a notícia se espalhou rapidamente pela vizinhança e, logo, todas as velhinhas do bairro queriam que ela pagasse contas, conferisse talões, preenchesse formulários complicados. Aos dezesseis anos, além de fazer esses trabalhos para as senhoras de Indian Palms, Holly trabalhava meio período como caixa num banco próximo a sua casa. Conseguia ganhar mais dinheiro que a mãe. Sua reputação e popularidade se espalhavam na escola e na comunidade. Mas ninguém prestava atenç� ...

o em sua beleza. Ela sentia falta dos olhares e dos sorrisos amáveis que os rapazes dirigiam às outras mulheres. Com dezessete anos, Holly resolveu sair de Indian Palms e foi, de ônibus, para Los Angeles. Chegando lá, deixou sua pequena e velha mala no guarda-volumes e se dirigiu para o centro da cidade, onde se encontravam todos os grandes bancos. Em apenas duas horas conseguiu um emprego como caixa no First City Bank e, logo em seguida, alugava um pequeno apartamento e matriculava-se numa escola noturna. Aos vinte anos conseguiu o título de bacharel em Administração de Empresas e aos vinte e três tornou-se mestra. Com vinte e cinco foi promovida para o departamento de crédito do banco e logo depois subiu a gerente desse mesmo departamento. Era a primeira jovem, em toda a história do banco, a conseguir o cargo, e uma das executivas mais bem-sucedidas da área. O gerente da filial do First City Bank e o vice-presidente foram, em parte, responsáveis por sua rápida ascensão. Donald Walters, uma pessoa inteligente, racional e prática, era o vice-presidente até resolver criar seu próprio banco. Contratou alguns dos melhores administradores para ajudá-lo e Holly foi sua primeira escolha. — Nós temos inteligência e coragem — dissera ele na época. — Você não conseguirá ir além do seu cargo dentro do First City. Nenhuma mulher conseguirá tal avanço. Holly, que se sentia um pouco desanimada e cansada da vida, devido ao fracasso de seu casamento, estava ansiosa por uma mudança e excitada com a idéia desse novo desafio: tornar respeitado um novo banco na concorrida área de Beverly Hills. Financeiramente, o trabalho também seria ótimo, pois Donald lhe pagaria o aluguel de um lindo apartamento, lhe daria um carro de luxo, um ótimo salário e uma conta bancária sem limites. Isso bastou. Em pouco tempo Holly dominava o mercado. O Banco Walters já se posicionava entre os maiores de Beverly Hills e isso deu segurança a Holly. Por isso ...

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