Livro: Umas Férias
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Autor - Fonte: Machado de Assis
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...
VIERAM DIZER ao mestre-escola que alguém lhe queria falar.
-- Quem é?
-- Diz que meu senhor não o conhece, respondeu o preto.
-- Que entre.
Houve um movimento geral de cabeças na direção da porta do corredor, por onde devia
entrar a pessoa desconhecida. Éramos não sei quantos meninos na escola. Não tardou
que aparecesse uma figura rude, tez queimada, cabelos compridos, sem sinal de pente, a
roupa amarrotada, não me lembra bem a cor nem a fazenda, mas provavelmente era
brim pardo. Todos ficaram esperando o que vinha dizer o homem, eu mais que
ninguém, porque ele era meu tio, roceiro, morador em Guaratiba. Chamava-se tio Zeca.
Tio Zeca foi ao mestre e falou-lhe baixo. O mestre fê-lo sentar, olhou para mim, e creio
que lhe perguntou alguma cousa, porque tio Zeca entrou a falar demorado, muito
explicativo. O mestre insistiu, ele respondeu, até que o mestre, voltando-se para mim,
disse alto:
-- Sr. José Martins, pode sair.
A minha sensação de prazer foi tal que venceu a de espanto. Tinha dez anos apenas,
gostava de folgar, não gostava de aprender. Um chamado de casa, o próprio tio, irmão
de meu pai, que chegara na véspera de Guaratiba, era naturalmente alguma festa,
passeio, qualquer cousa. Corri a buscar o chapéu, meti o livro de leitura no bolso e desci
as escadas da escola, um sobradinho da Rua do Senado. No corredor beijei a mão a tio
Zeca. Na rua fui andando ao pé dele, amiudando os passos, e levantando a cara. Ele não
me dizia nada, eu não me atrevia a nenhuma pergunta. Pouco depois chegávamos ao
colégio de minha irmã Felícia; disse-me que esperasse, entrou, subiu, desceram, e fomos
os três caminho de casa. A minha alegria agora era maior. Certamente havia festa em
casa, pois que íamos os dous, ela e eu; íamos na frente, trocando as nossas perguntas e
conjeturas. Talvez anos de tio Zeca. Voltei a cara para ele; vinha com os olhos no chão,
provavelmente para não cair.
Fomos andando. Felícia era mais velha
...
que eu um ano. Calçava sapato raso, atado ao
peito do pé por duas fitas cruzadas, vindo acabar acima do tornozelo com laço. Eu,
botins de cordovão, já gastos. As calcinhas dela pegavam com a fita dos sapatos, as
minhas calças, largas, caíam sobre o peito do pé; eram de chita. Uma ou outra vez
parávamos, ela para admirar as bonecas à porta dos armarinhos, eu para ver, à porta das
vendas, algum papagaio que descia e subia pela corrente de ferro atada ao pé.
Geralmente, era meu conhecido, mas papagaio não cansa em tal idade. Tio Zeca é que
nos tirava do espetáculo industrial ou natural. -- Andem, dizia ele em voz sumida. E nós
andávamos, até que outra curiosidade nos fazia deter o passo. Entretanto, o principal era
a festa que nos esperava em casa.
-- Não creio que sejam anos de tio Zeca, disse-me Felícia.
-- Por quê?
-- Parece meio triste.
-- Triste, não, parece carrancudo.
-- Ou carrancudo. Quem faz anos tem a cara alegre. -- Então serão anos de meu
padrinho.
-- Ou de minha madrinha.
-- Mas por que é que mamãe nos mandou para a escola? -- Talvez não soubesse.
-- Há de haver jantar grande.
-- Com doce.
-- Talvez dancemos.
Fizemos um acordo: podia ser festa, sem aniversário de ninguém. A sorte grande, por
exemplo. Ocorreu-me também que podiam ser eleições. Meu padrinho era candidato a
vereador; embora eu não soubesse bem o que era candidatura nem vereação, tanto
ouvira falar em vitória próxima que a achei certa e ganha. Não sabia que a eleição era ao
domingo, e o dia era sexta-feira. Imaginei bandas de música, vivas e palmas, e nós,
meninos, pulando, rindo, comendo cocadas. Talvez houvesse espetáculo à noite; fiquei
meio tonto. Tinha ido uma vez ao teatro, e voltei dormindo, mas no dia seguinte estava
tão contente que morria por lá tornar, posto não houvesse entendido nada do que ouvira.
Vira muita cousa, isto sim, cadeiras ricas, tronos, lanças compridas, cenas que mudavam
à vista, passan ...
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