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Apaixonada por Beethoven

Livro: Apaixonada por Beethoven

Autor - Fonte: Salomão Rovedo

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... Salomão Rovedo Rio de Janeiro 2001 (CONTOS) 1 Apaixonada por Beethoven, pg. 3 2 A casa só, pg. 10 3 Cigarras, pg. 16 4 Falava com os mortos, pg. 21 5 O guarda-roupa do defunto, pg. 27 6 Tipo assim., pg. 32 7 O pacto dos meninos da Rua Bela, pg. 36 “Beethoven é classificado muitas vezes como a ponte que ligou o período clássico e romântico na história da música. É verdade, mas apenas em parte (.), pois ele foi o último renascentista, o último barroco, o último clássico, enquanto foi o primeiro romântico, o primeiro expressionista, o primeiro moderno, sua música é onde o passado desembocou e onde o futuro se baseou. Ele foi a ponte entre o que havia antes e o que viria depois.” (Gregório Calleres, compositor - http://www.calleres.net/) 3 APAIXONADA POR BEETHOVEN (Inspirado em Guiomar Novaes) "Expressivo. Suave. Com Profundo Sentimento. São as palavras-chave para a atmosfera desta maravilhosa sonata. E quão apropriada é esta música, que foi dedicada por um compositor de 52 anos de idade, para uma jovem de 19 anos, cujos encantos não haviam escapado a ele". (Sobre a Sonata nº 30, para piano, de Beethoven). Quando Elizabete Maria retornou da Europa, além do meritório diploma do Conservatório de Música de Paris, trouxe todos os recortes dos jornais que publicaram comentários sobre seus recitais. E seu maior prazer era mostrá-los às amigas que vinham visitá-la. Nessas ocasiões, seu rosto normalmente pálido, sofria uma mutação, avermelhava-se, adquiria uma cor púrpura, provocada pelos risos alegres. A revista “Classic”, de Londres, como a se escusar diante dos leitores, publicou em editorial: "Buscar descrever o que foi o Recital Beethoven da pianista brasileira Elizabete Maria, seria a mesma coisa que tentar definir para um cego o que é a luz do sol". Acho que vale a pena contar a curta trajetória de Elizabete Maria, porque temos cada vez menos a graça e o privilégio de, ante a luz do sol e de todos os as ...
ros, descortinar a total plenitude, a nesga do gênio que foi, como artista, essa nossa pianista. Temos o som de algumas das suas execuções, é claro, mas são pouquíssimas – e nenhuma à altura dos prodígios que ela perpetrava. Então, vale a pena sim (e convém repetir mil vezes), vale a pena tentar encontrar palavras que simbolizem a justa condição em que se põe a humanidade diante do miraculoso. Porque é importante como legado, que deve ficar ao menos como lembrança, a imortalidade menor. E, ainda mais, quando o resto não passa quase sempre de lantejoulas, é bom relembrar Mozart, que dizia com propriedade: "A música, como forma sonora, reina soberana e é preciso esquecer tudo o demais". Elizabete Maria nasceu em Rosário, uma cidadezinha do interior maranhense próxima à Ilha de São Luís, sétima filha de família numerosa, quase todas as mulheres, às quais se adicionavam dois homens. Tinha os cabelos louros encaracolados e os olhos azuis da avó catarinense de origem nórdica. Sendo de compleição frágil, a mais frágil das irmãs, era difícil prever-se qual seria a sua trajetória futura, mas o milagre que a acometeu muito cedo tirou todas as dúvidas. Mal aprendeu a ler e falar diante da espantada família sentava-se ao colo da mãe e dedilhando o velho piano a quatro mãos executavam valsas e polcas brasileiras. Um pouco mais tarde aventurou-se sozinha, reproduzindo de ouvido o que escutava, deixando as pernas curtas flutuando num vai e vem ritmado, quando sentada no banco do piano. 4 Na verdade o milagre era mais devido à sua força e determinação com que buscava compensar a fragilidade do corpo, para colocá-la em igualdade de condições perante os demais irmãos. Cansara-se de ser tratada com excessivo desvelo, como se fosse um doente inútil e esse esforço foi logo premiado com o apoio irrestrito de toda a família, dos mestres e dos amigos. O piano a igualava a todos e alguma vez dava até certa vantagem. Isto é o que tam ...

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