Livro: Uma vez mais Página 2

... ho algo a provar. — Você tem algo a provar? — A voz, grossa e com um ligeiro sotaque, fez com que Dan tivesse um so¬bressalto. — Eu não sou um fracassado. A pessoa atrás da mesa se levantou e se tornou mais intimidadora. Era um homem incrivelmente alto e com o corpo de um remador olímpico. Por longos e descon¬fortáveis minutos, Santiago ficou apenas olhando para Dan, em silêncio, sem que aqueles olhos fantasmagóri¬cos e penetrantes lhe dessem qualquer pista do que ele pensava. — Tudo bem, desculpe-me por tê-lo incomodado. — Segunda, oito e meia. Dan ficou de queixo caído quando Santiago se virou. — O que você acabou de dizer? Santiago arqueou uma das sobrancelhas. — Se você quiser o emprego, esteja aqui na segun¬da pela manhã, às oito e meia. Dan desabou numa cadeira próxima. — Você não se arrependerá — prometeu. Dan se mantivera fiel à promessa. Ele rapidamente provara seu valor e, talvez ainda mais surpreendente¬mente, os dois homens desenvolveram uma amizade. Algo que sobreviveu quando Dan deixou a empresa e montou a própria companhia dois anos depois. Dan adotou uma expressão injuriada ao olhar para o primo espanhol, que deixara de lado um arquivo que estava lendo para dizer algo na língua nativa pelo intercomunicador. Na verdade, ele poderia ter dito em vá¬rias línguas; Santiago era fluente em cinco idiomas. — Preciso dizer que acho que você está sendo um bocado insensível. — Se por insensível você quer dizer não passar um fim de semana me divertindo com uma mulher gorda, chata e mentalmente instável, palavras suas, então você pode ficar com a Rebecca toda para você. Eu realmen¬te estou sendo insensível. — Rachel, e a amiga dela não é exatamente instá¬vel. Eu acho que ela está passando apenas por um mo¬mento difícil ou coisa parecida. — Você realmente está me convencendo agora, mas a resposta ainda é não, Daniel. — Se você conhecesse a Rachel, não seria tão in� ...

sensível. — E a sua Rachel é bonita? — Muito, e não me olhe desse jeito. Este não é um caso à toa. Ela é especial, eu sei disso. — Ele ficou mais e mais indignado ao perceber que Santiago reagi¬ra à confissão com um sorriso cínico que era só um pouco menos corrosivo que ácido nítrico. — Eu achei que você seria mais solidário, levando em conta que. — acrescentou Dan, hesitante. Santiago desistiu de continuar trabalhando e afastou o cabelo negro e grosso que lhe caía sobre a testa. — Levando em conta o quê? — Você não vai se casar? — Em algum momento eu imagino que isso seja ne¬cessário. — A fina ironia de Santiago mostrava que ele fazia jus à fama da família Morais. — Você sabe o que quero dizer. Você não vai se ca¬sar com aquela cantora gostosinha que não pára de ser fotografada ao seu lado? — Aquela cantora gostosinha tem um agente com uma imaginação muito fértil. A Susie não está apaixo¬nada por mim. Dan ficou ainda mais curioso. — Então é só. — Não é da sua conta. — Está certo, mas eu ainda acho que você está sendo totalmente irracional. Eu estou lhe pedindo para passar um fim de semana num lindo chalé, não para fazer um transplante de medula óssea! Veja. — disse ele, tirando uma fotografia do bolso. — Ela não é linda? E, quanto a ela ser mais velha, eu gosto de mulheres mais velhas. — Acrescentou Dan de forma defensiva, esfregando a fotografia na cara de Santiago. Com um suspiro, Santiago pegou a foto amarrotada dos dedos do jovem Dan e obedientemente deu uma olhada na imagem ligeiramente fora de foco de uma loi¬ra alta que, para ele, se parecia com muitas outras loiras altas. — Sim, ela é muito. — Ele parou, ficando pálido ao olhar para a pessoa que estava semi-escondida pela namorada de Dan. — Você está se sentindo bem? — perguntou Dan, pensando no pai de Santiago, que morreu aos 55 anos por causa de um infarto fulminante há vários anos. Santiago ...

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