Livro: Quase um estranho - Kay Gregory Página 3

... A ga¬rota magricela e tímida do passado agora era uma mulher atraente, segura de si, dona de um corpo perfeito. No entanto, Samara sabia, melhor que ninguém, que ele ja¬mais admitiria que estava surpreso. Até mesmo porque isso im¬plicaria aceitar que já não era mais dono da situação como antigamente. — A julgar pela sua expressão, você não está impressionado — ela comentou, dando de ombros. — Não que isso tenha algu¬ma importância. Por sorte, agora já não preciso de sua aprovação. — E alguma vez precisou? — A rapidez com que ele retrucou deixara claro que o assunto o incomodava. Samara fez de conta que não percebeu seu tom irritado. — Realmente, não. Por que deveria? — É, por que deveria? — ele repetiu com um sorriso contagiante. Era evidente que não queria discutir. — É bom ver você novamente, Samara. Só naquele instante ela se deu conta da bagunça em que estava a sala, com relatórios financeiros espalhados pelos cantos e pi¬lhas de papéis de escritório sobre os móveis. Para completar a cena, ela estava de short, com as pernas expostas, enquanto Ron¬nie se apresentava impecavelmente trajado. — Não quer se sentar? — indagou formalmente, apontado pa¬ra a cadeira mais próxima. Ronnie sacudia a cabeça, ainda sorridente. — Onde sugere que eu me sente? Se existe uma cadeira sob essas pilhas de papéis, de lingeries e de livros, eu diria que é um segredo muito bem guardado. Parece que você não mudou tan¬to. continua tão desorganizada quanto antes. O tom suave, acompanhado do sorriso, amenizou a crítica, que nem por isso deixou de aborrecê-la. Então Samara sentiu uma súbita necessidade de provar-lhe que crescera. — Posso ser desorganizada em casa — disse com firmeza —, mas lhe garanto que mantenho meu escritório impecavelmente arrumado. Segundo Anna, isso é apenas um ligeiro desvio de meu caráter. — Ligeiro? Ela deve ser mais amiga do que você imagina. — E é mesmo. — Ao ...

erceber que Ronnie estava gracejando, acrescentou: — Ela gosta de me seguir e arrumar as coisas atrás de mim, quando não suporta mais a bagunça. — Pois eu obrigaria você mesma a fazer isso. Enquanto retirava uma pilha de revistas de uma das cadeiras, Samara retrucou friamente: — Já se passou o tempo em que você podia me forçar a fazer qualquer coisa, Ronnie. — É, talvez sim. — ele murmurou, observando suas pernas longas e bem torneadas. — Não existe nenhum talvez nisso. E, por favor, queira se sen¬tar. A não ser que esteja de saída. — Claro que não. Ainda é cedo. E você, onde vai se sentar? — Prefiro ficar de pé. — Então, eu também ficarei. Samara encolheu os ombros. — Faça como quiser. Ele sorriu novamente de maneira provocante, fazendo Sama¬ra evocar imagens do passado, da época em que acabava, de conhecê-lo. De repente Anna apareceu na porta da sala. — Estou de saída, Samara — informou ela, sem entrar. — Vou me encontrar com Bill daqui a meia hora. Fiquem à vontade. — Acenou levemente com a cabeça e fechou a porta. — E o almoço? — gritou Samara. — Comerei alguma coisa na cidade — a amiga explicou em voz alta. — Céus! Ela deve estar imaginando que nós vamos fazer amor aqui mesmo no sofá — Samara resmungou sem se dar conta da inconveniência do comentário. Ao reparar na expressão diverti¬da de Ronnie, virou-se para a janela, na tentativa de esconder as faces coradas. Quando voltou a encará-lo, instantes depois, surpreendeu-se com o olhar intenso que ele lhe lançava. Era como se Ronnie es¬tivesse avaliando a sério as palavras de Anna. No entanto, o co¬mentário que fez em seguida desmentiu aquela impressão. — Concordo que a idéia é atraente, mas, no momento, está fora de cogitação. — O que foi que você disse? — retrucou Samara, indignada. Quem ele pensava que era para falar-lhe daquela maneira? — Calma, deixe-me explicar o porquê de minha visita. — Ah, ...

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