Livro: Quase um estranho - Kay Gregory Página 2

... mara deixou-se cair na cadeira mais próxima, suspirando profundamente. — Ele está na sala. — O quê? Céus, por que não me avisou antes? — Pura curiosidade — admitiu Anna. — Queria saber quem ele era. Samara levantou-se bruscamente. É melhor eu ir vê-lo — disse quase para si mesma, olhando de relance para o short vermelho que usava e fechando os dois botões de cima da camisa branca. "Onze anos", pensou, enquanto seguia para o hall. E durante todo aquele tempo Ronnie ligara apenas uma vez, para perguntar-lhe se ela queria o divórcio. Samara dissera então que o assunto não tinha a menor importância; ele deveria fazer o que bem entendesse. Desde aquela época só tivera notícias dele uma ou. ou talvez através de Henriette, a governanta aposentada do seu tio, ainda morava em Montreal. A velha senhora comentara que vira ocasionalmente. sempre acompanhado de mulheres, claro. Forçando um ar despreocupado, embora estivesse com os nervos a flor da pele, Samara parou por um instante antes de abrir a porta da sala. Então respirou fundo, esperando que a palidez do rosto não denunciasse sua insegurança. Ao entrar na sala, cumprimentou-o com fingida naturalidade: — Olá, Ronnie! Como vai? Ele estava parado em frente à janela, os braços cruzados sobre o peito,e exibia nos lábios o mesmo sorriso sensual que a encantara tantos anos antes. As marcas da passagem do tempo ainda não enfeitavam suas feições. Parecia tão jovem quanto naquela época distante: as mesmas covinhas nas bochechas e no queixo for¬te, os mesmos olhos azuis realçados por grossas sobrancelhas, e a espessa cabeleira loira penteada para trás, como sempre usara desde a adolescência. Continuava musculoso como um atleta, e sua presença ainda perturbava Samara. Ronnie fez uma leve mesura com a cabeça, depois fingiu ajei¬tar o paletó do elegante terno escuro que vestia. — Olá, Samara. Estou bem, obrigado. E você? Seu tom de voz indolente, com um quê de provoc ...

ção, deixou-a irritada. Por que aquele homem decidira reaparecer justamente no momento em que ela mais precisava de tranqüilidade para to¬car sua empresa? — Vou bem, obrigada. — Por que mudou nosso nome? — Ronnie perguntou sem rodeios. — Lamontagne nunca foi nosso nome. Foi o nome com que ambos nascemos, é claro, e continua o mesmo após o nosso. ridículo casamento. Mas eu dificilmente o chamaria de nosso. — Ridículo casamento. — resmungou ele, para então assu¬mir um tom casual: — É, imagino que tenha sido uma brincadei¬ra para você. Mas não vejo por que devesse mudar seu nome — acrescentou com um toque de ironia. — Eu não mudei oficialmente — Samara explicou, impertur¬bável. — Apenas queria apagar tudo o que me lembrasse o pas¬sado. Além do mais, aqui onde moro agora, as pessoas acham mais fácil me chamar de Lamont. Em matéria de negócios, tam¬bém soa melhor. Ronnie estudou seu rosto delicado por um longo momento an¬tes de responder. — Então você se transformou em uma mulher de negócios! Interessante. Henriette tinha me contado que você estava tra¬balhando. — Henriette? Você a tem visto? — Sim. Foi ela quem me deu seu endereço. Embora nossos advogados também devam tê-lo trancado em alguma gaveta. Ao vê-lo apoiar as mãos ao peitoril da janela, numa pose ne¬gligente, Samara sentiu o coração bater mais forte. — Pois é, agora sou uma mulher de negócios. Sou diretora e proprietária da Lamont\'s Consultoria e fico satisfeita em dizer que a empresa vai muito bem. Tenho doze pessoas trabalhando para mim. — É? Estou impressionado. A bem da verdade, ele não parecia nem um pouco impressio¬nado com a novidade. Em vez disso aparentava dificuldade de conciliar a mulher madura que tinha diante de si com a quase ado¬lescente que, com certeza, era sua última lembrança dela. Ronnie a estudava com um misto de divertimento e surpresa. Evidentemente a visão de Samara tinha de surpreendê-lo. ...

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