Livro: A tentação daquele olhar Página 2

... ueles foram tempos estranhos e infelizes, dos quais Stephaníe ainda se lembrava nitidamente, e durante os últimos dez anos ela não tivera nenhum contato com Carina ou seu pai. Contra os desejos de sua mãe, havia escrito regularmente para o pai, mas ele não respondera a nenhuma de suas cartas, enviando ape-nas cartões impessoais e presentes no Natal e em seu aniversário. A mãe de Stephaníe morreu quando ela tinha dezesseis anos. Os advogados comunicaram o fato a seu pai, e Stephaníe teve esperanças de que ele quisesse vê-la. Mas não houve nenhum convite da parte dele. Foi um golpe terrível, e ela ficou profundamente magoada, embo¬ra lutasse contra isso. Felizmente, foi acolhida pelos parentes de sua mãe. Dean fez de tudo para que eles a recebessem bem. Eles eram primos em segundo grau. Dean era oito anos mais velhos do que Stephaníe e os dois cresceram juntos. Agora estavam noivos, e ele esperava que ela marcasse a data do casamento. Era o único homem que se importara com ela, que cuidara dela desde que era pe¬quena. A convivência os havia unido. Dean sempre a confortara e Stephaníe sempre o amara. Ela sorriu, agora, ao pensar nele, olhando para o grande anel de safira que brilhava na mão direita. — Ele combina com os seus lindos olhos — Dean lhe dissera, ao dá-lo, com um sorriso. — Dez anos são uma eternidade. . . — Connie comentou, trazendo Stephaníe de volta à realidade. — Mas eu tenho que ir — Stephaníe falou, com outro suspiro. — Espero que possa resolver tudo depressa. — Consultou o relógio sobre a mesa. —- Você vai se atrasar sabe? Connie se levantou prontamente, com os rebeldes cabelos ruivos bri¬lhando à luz do sol. — Meu Deus, não pode me dar ao luxo de me atrasar de novo! — exclamou, e entrou no quarto, agitada. Connie trabalhava num dos novos hotéis de Moahu, que estava se transformando rapidamente num local de categoria internacional. Ela e Stephaníe eram amigas desde o tempo em que estud ...

vam no colégio de freiras da ilha. Connie era norte-americana, e sua família viera para a ilha por causa da transferência do pai, um engenheiro. Era alta e esguia, e tinha uma beleza exótica e uma certa dureza em sua persona¬lidade, que lhe davam uma visão prática do mundo. Stephaníe, por outro lado, era vulnerável e muito sensível, e invejava francamente a atitude despreocupada de Connie com relação à vida. Connie saiu dez minutos depois; afastou-se da casa correndo, depois de ter batido a porta. Sorrindo, Stephaníe serviu-se de mais café e olhou o oceano, feliz por não ter que ir trabalhar nesse dia. Ela trabalhava como secretária de uma escritora, Bertha Channing, que no momento viajava pela índia e que não devia voltar antes de decorridos alguns meses. Seu trabalho lhe convinha perfeitamente, uma vez que as viagens freqüentes de Bertha lhe deixavam tempo livre para a pintura, a sua primeira paixão. Para ganhar dinheiro, pintava paisagens, que vendia com facilidade aos turistas mais ricos. E, para si mesma, pintava retratos de seus amigos e de seus lugares prediletos da ilha. Sabia, sem convencimento, que tinha muito jeito, que era muito talentosa, mas nesse dia não estava com disposição para pintar, não estava com disposição para nada. Sentia-se apreensiva quanto a visitar a Inglaterra, embora não sou¬besse por quê. A rejeição de seu pai ainda a magoava, tinha um certo receio de aprofundar essa dor. Talvez fosse essa a causa de sua in-quietação. E também havia Carina: como ela a receberia, depois de todos aque¬les anos? A carta estava longe de ser afetuosa. Compreendia agora que Carina sentira ciúmes dela e de sua mãe. Naquela época, na certa, Carina tinha medo de ficar em segundo plano no afeto de seu pai. Mas o fato de compreender melhor agora os sentimentos de Carina não a tranqüilizava. E Stephaníe não tinha a menor idéia de como sua meia-irmã iria recebê-la. Ela lavou as xícaras, arrumou a casa e então ...

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