Livro: Alguém que diga sim - Caroline Linden Página 2

... seria imensamente grato. David suspirou, mal-humorado. Cole conhecia Exeter até do avesso. Tinha de se aposentar justamente agora? — Mas ele deve ter passado parte de seu conhecimento para esse tal Adams. — Parece que não. — Marcus se levantou. — Por isso preciso de você, David. Não há ninguém mais em quem eu confie. David concordou com um gesto de cabeça. Em parte por ter consciência disso, em parte por estar surpreso com tanta confiança. Não se lembrava de o irmão ter acreditado nele alguma vez na vida. E depois do que acontecera na última primavera, então, era um verdadeiro milagre que Marcus ainda falasse com ele. E maior milagre ainda que lhe pedisse para tomar conta dos negócios por três meses. Mais um motivo para temer fazer alguma bobagem. Ergueu-se, decidido, observando o irmão guardar uma quantidade assustadora de papéis em uma valise de couro, que colocou sobre a mesa. — Estes são os papéis que eu mais uso — Marcus comuni¬cou. — O resto está em Londres, no meu escritório. Por uma questão de conveniência, sugiro que trabalhe lá. — Sorriu e deu a volta na mesa. — Estou bastante aliviado que tenha concordado em tomar conta de tudo para mim — confessou, apertando-lhe os ombros. — De outro modo, duvido que eu conseguisse ficar fora por tanto tempo. Menos de um mês antes, Marcus se casara e agora faria uma viagem de lua-de-mel com a esposa. Enquanto isso, David estaria afundado em meio a uma pilha de papéis e livros-caixa, ao lado de um secretário de competência duvidosa. Hesitou por um instante, depois balançou a cabeça. Quanto mais tempo permanecesse por ali, maior seria a chance de desistir da empreitada que o aguardava. E não podia desistir. — Antes que eu me esqueça — disse Marcus, dando a volta na escrivaninha para abrir uma gaveta. — Mandei fazer algo para você que vai tornar as coisas mais fáceis, David. — En¬tregou-lhe uma pequena caixa de veludo. Dentro dela, David encontrou ...

ma cópia perfeita do anel de sinete do irmão. Surpreso, colocou-o no dedo, admirando¬ se com o peso da jóia. Com um anel daqueles, não havia como não se sentir o próprio duque de Exeter, pensou, ligeiramente alarmado. Respirou fundo. Nunca tinha invejado o título de Marcus. Ser o filho mais novo sempre lhe fora conveniente e nunca ansiara por fazer mais do que posar de herdeiro. Era um bon-vivant por natureza e agradava-lhe o fato de ter o irmão à frente dos negócios da família, para que ele próprio pudesse seguir ao sabor do vento. Agora, porém, levava uma cópia do sinete de Exeter no dedo e a responsabilidade pelos bens dos Reece nos ombros. Ensaiou um novo sorriso. — Muito bem. Hora de ir embora — anunciou, fingindo uma alegria que não sentia. — Uma ótima viagem de núpcias para vocês dois. Marcus lhe deu um forte aperto de mão, e David saiu da sala, as costas eretas fazendo-o parecer ainda mais alto. Parecia um homem marchando para a forca. David estava na metade do caminho para Londres, quando percebeu que havia algo errado. Um de seus melhores cavalos, uma égua marrom, mudou de repente o ritmo do trote. Mesmo fazendo que a parelha prosseguisse com mais calma, ele notou que esta precisava de atenção. Assim, fez que a junta de ani¬mais parasse em um estábulo, próximo a uma hospedaria. — Precisa de ajuda, senhor? — indagou um rapaz. — A égua. parece estar ferida. O jovem cavalariço examinou as pernas do animal. — Está com uma pedra no casco. Basta que eu a remova e a deixemos descansar um pouco. — Mas ela suportaria a viagem até Londres depois disso? — Londres? Dificilmente, senhor. Se forçar a égua, ela pode ficar manca. É melhor que passe ao menos uma noite no estábulo. Posso mergulhar o casco na água, e amanhã ele estará novinho em folha. David suspirou. Mesmo que conseguisse sair logo dali, não chegaria a Londres antes do jantar. Com um animal machu¬cado, muito menos. E não podia abusar da ...

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