Livro: Anjo pecador Página 3

... r. No outono e no inverno Abilene ficava livre da corja de invasores texanos. Mas de maio a setembro, eles apinhavam a cidade, virando-a de pernas para o ar com suas arruaças. ― Afaste-se daí antes que algum deles a veja! ― Não há nenhum mal em apenas olhar ― insistiu a jovem de quinze anos com teimosia, ajeitando seus cachos loiros com a mão, enquanto continuava a observar os rapazes de rostos bronzeados, cinturões de couro e lenços vermelhos ao pescoço. ― É bom que "apenas olhar" seja tudo o que faça ― avisou-a Mercy, num tom exasperado. ― Você nunca se preocupa por acabar adquirindo uma reputação por ser apressadinha? ― sussurrou-lhe, irritada. ― Oras! Qualquer coisa que ande mais depressa do que uma tartaruga já é considerada apressada demais pela congregação de papai. E você fala exatamente como aquelas beatas. Até parece que é uma velha solteirona, em vez de uma garota de dezoito anos! Oh, veja só aquele ali adiante, o alto, de chapéu preto! Não parece um tipo misterioso? ― A jovem tornou a suspirar. A irmã aproximou-se mais. Notou que Abigail Barnes, a fofoqueira da cidade, acabara de entrar na loja e fingia não estar tentando ouvir a conversa de ambas. Mas como já a conhecia, ela baixou a voz, tornando a avisar a irmã para afastar-se da janela. Charity ignorou-a e apontou pelo vidro empoeirado para o caubói que estava admirando. Mercy descobriu que não podia evitar olhar na direção indicada. O estranho estava recostado numa viga de madeira afixada ao longo da calçada oposta, os polegares nos passadores da calça, acima do cinturão de couro. Sem dúvida, parecia um tipo misterioso, com a aba do chapéu ocultando-lhe parte do rosto. Tudo o que podia ver eram as maçãs do rosto um tanto salientes, os lábios de formato masculino, apertados numa linha tensa, o queixo forte, a barba crescida. O caubói falava com um outro homem, provavelmente um dos jogadores de cart ...

s locais, concluiu ela, notando-lhe as roupas mais refinadas, de onde pendia a corrente de ouro do relógio. Enquanto observava, algo que o jogador dissera devia ter soado para o estranho como engraçado, pois de repente, os lábios dele relaxaram, abrindo-se num sorriso. Jogou a cabeça para trás, oferecendo um rápido lampejo de seus olhos. Aquele sorriso não apenas transformou a expressão do caubói, deixando-o ainda mais atraente, como também causou um efeito inesperado em Mercy. Sentiu um estranho calor percorrendo seu corpo e o pulso se acelerando. Que absurdo!, censurou a si mesma. Estava agindo como uma tola por causa de um desses farristas texanos que ficavam de passagem em Abilene para cometer seus excessos. Tinha que admitir que esse caubói em especial era muito atraente. Mas, agora que vira seu sorriso irresistível, precisava certificar-se de que sua irmã nunca o conheceria. Era o tipo de homem perigoso, que poderia facilmente arruinar a virtude de alguém inocente e ingênua como Charity. Preocupada, olhou de relance para a irmã, mas viu que, com tantos exemplares de virilidade para admirar, Charity já se distraíra. Desviara o olhar para um outro caubói mais adiante na rua, de estatura média e cabelos loiros, que se destacaram ao tirar o chapéu para uma dama. Que, por sinal, não era nenhuma dama, percebeu Mercy, enquanto a primeira das garotas de saloon passava na frente da Moon\'s Frontier. ― Aquelas despudoradas! ― exclamou Abigail Barnes, num tom carregado de reprovação. A mulher robusta parara silenciosamente atrás das duas e agora espiava pelo vidro da janela. ― Elas deviam ser proibidas de morar na mesma cidade onde vivem mulheres decentes, é o que meu Horace sempre diz. Alguém devia fazer alguma coisa! As mulheres eram realmente uma visão indecorosa, de seus vestidos justos e decotados de cetim com cores vibrantes. Enquanto desciam das calçadas de tábuas até a rua, erguiam as barras das saias ar ...

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