Livro: Um toque de audácia Página 2

... o decorado com folhagens e cadeiras de ferro brancas ao redor de mesas de vidro, dobrou à esquerda. No negro céu noturno, as estrelas permaneciam indiferentes e fixas, assim como a lua quase cheia. Era fim de novembro. Em Marblesea, havia neve fresca sobre o solo; em San Francisco, a brisa suave fazia pensar que o inverno ainda estava longe. Soltando um profundo suspiro, Katie sentou-se numa cadeira. Vencera, mas com grande sacrifício dos únicos nervos que possuía. Onde já se viu?! Katie Jellicoe, de paetê vermelho e saltos altos; exibindo-se a fim de lograr Adam Hartivan! Recostou-se e fechou os olhos, sentindo o ferro frio da cadeira contra a pele. Deprimida e exausta, desejou, de repente, nunca mais ver Adam Hartivan. Só o desespero a fizera ultrapassar todos os limites. Agora que tudo se acabara, queria voltar para casa e refugiar-se nos antigos e seguros padrões, que não incluíam o uso de vestidos de paetê colantes e sandálias de salto alto para pegar empresários desprevenidos. No entanto, agindo assim, desistiria do objetivo, não? Havia muito em jogo, e poucas alternativas. Não percorrera quase cinco mil quilômetros para dar meia-volta e declarar ao pessoal de Marblesea que fracassara. Adam Hartivan morderia a isca, tinha de morder!, encorajou-se, mais uma vez. Logo depois, passos soaram nas lajes do terraço. Ao ouvir um farfalhar de tecidos, Katie abriu os olhos e viu um vulto contra a luz. No instante seguinte, uma grande mão se fechou ao redor de seu braço e, sem-cerimônia, obrigou-a a levantar-se. — Katie Jellicoe. muito esperta — elogiou Adam Hartivan, irônico. — Você conseguiu, seja o que for que pretendia. Agora, é a minha vez. Antes que Katie pudesse retrucar, colou os lábios aos dela num beijo duro e opressivo. Então, sem lhe dar tempo para concluir se apreciava ou não o contato, interrompeu-o. Sem deixá-la recobrar o fôlego, arrastou-a para fora do terraço, através da passagem que levava ao estacionamento. ...

�� Era isso que queria, não? — Sabe que não. Katie tocou os próprios lábios, mas não tentou eliminar o calor do beijo que ainda os fazia arder. Passando pelo manobrista, Adam a puxou para junto de seu carro esporte conversível preto cuja capota estava abaixada. — Entre — ordenou, abrindo a porta do passageiro. — Está louco? — Desvencilhando-se, ela deu meia-volta. — Nada disso. — Ele voltou a agarrá-la pelo braço. — Nunca deixo incompleto o que belas loiras começam. — Com o olhar, apreciou-lhe a pele branca, que parecia quase transparente ao luar. — Entre, madame, a menos que queira que eu a force. A poucos metros de distância, o manobrista os observava, sorrindo curioso. Katie parou de resistir. Dentro do clube, atuara diante de uma platéia bem maior. O que não conseguia evitar era o rubor e a sensação de vitória que a invadia e quase subjugava seu pavor quanto às conseqüências de seu ato. Seria Adam Hartivan capaz de fazer com que a prendessem por agressão? A um passo dele, notou como estava atraente em seu smoking, com a gravata desfeita e o colarinho aberto. A fraca luminosidade incidia sobre os traços ciganos de seu rosto, o nariz comprido e estreito, o queixo pontudo com a covinha profunda, os olhos indagadores verdes como esmeraldas. As fotos dele que os jornais publicavam eram falhas, mas sua memória, não. — Já se decidiu? — indagou ele. Katie lançou os cabelos para trás. — Já. Após um instante de hesitação, entrou no automóvel. Embora tudo corresse de acordo com o planejado, não sabia se estava mais exultante ou mais aterrorizada. — Assim é melhor. Adam fechou a porta depois de apreciá-la com um olhar que tinha tudo a ver com o passado. Após ligar o carro, pisou no acelerador e saiu disparado do estacionamento do Plantageous Country Club. Esperava tê-la amedrontado. No salão do clube, estremecera ante o nome Marblesea, e toda a antiga raiva voltara a dominá-lo. Deliberadamente, ...

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