Livro: Amores Inconfessáveis Página 3

... coisa que a mantinha acordada. Mas fechar os olhos não lhe proporcionou o menor alívio, pois em seguida recordou com horror a nítida imagem do crime cometido por seu primo; tinha isso gravado na mente. Como tinha sido Mikhail capaz de matá-lo a sangue frio? E o pior de tudo era que se sentia em parte responsável. "Se não tivesse tratado de intervir." Abriu os olhos de repente com um calafrio; instintivamente, levou a mão à pequena concha que pendia de uma fita ao redor de seu pescoço. Graças à última lembrança que tinha lhe deixado seu pai, conseguiu armar-se outra vez de coragem. "Tens que seguir adiante". Devia chegar até o duque de Westland antes que os cossacos a encontrassem. Como representante da Coroa em West Riding de Yorkshire, o dever de sua excelência era ocupar-se de Mikhail, pois o assassinato tinha acontecido dentro de sua jurisdição. Becky não se incomodou em ir a nenhum oficial de justiça de categoria inferior devido ao elevado status de seu primo; só um homem muito poderoso ousaria enfrentar ao príncipe meio russo que, além disso, tinha herdado recentemente o título de conde de seu avô inglês. O velho Westland era conhecido por seu valor e sua integridade; ela se aferrava à esperança de que levasse Mikhail aos tribunais desde que obtivesse audiência com ele e pudesse lhe informar do crime. Ela sabia como podiam ser superficiais os aristocratas. Depois de quatro dias de fuga, com um aspecto mais próprio de uma mendiga que da senhora de uma mansão, ela tinha dúvidas a respeito de seria sequer recebida. A ideia de que a rechaçassem na porta era muito horrível para considerar. Westland tinha conhecido a seu avô, dizia a si mesma. Tinham sido rivais políticos em lugar de aliados, mas com certeza o nome de seu avô bastaria para que o grande duque do partido Whig a escutasse. Por desgraça, ela nunca tinha estado em Londres e não tinha nem ideia de onde se achava St. James’s Square, que era onde tinha ouvido ...

que o duque tinha sua residência. O esquadrão de cossacos que a perseguia tampouco era de ajuda, já que Mikhail não pensava deixar que Becky revelasse seu brutal crime. Não, tinha planos totalmente diferentes para ela. Acostumado a suas submissas servas, o príncipe se obcecou com a ideia de controlá-la. Ele tinha-lhe deixado bem claro o castigo que a esperava se o desafiasse, pegando-a pelo pescoço com a mão e lhe falando ao ouvido com sua voz ardente e cruel. "Ensiná-la-ei a obedecer, lubimaya ". Depois de morrer seu avô, convertera-se em seu tutor legal, mas Mikhail se equivocava de plano se achava que era seu dono, como se ela fosse uma espécie de propriedade. Becky preferia morrer a ver-se submetida ao trato brutal que lhe tinha prometido. Só a ideia disso a empurrou a seguir adiante com absoluta determinação. Ela saiu sigilosamente do espaço do portal, dirigiu-se com cautela ao extremo do beco e saiu. Os cossacos tinham desaparecido. Depois de olhar a um lado e a outro, dobrou a esquina e prosseguiu seu caminho. Confiava que esse lugar não estivesse muito longe, pois lhe doíam os pés e estava morta de fome. Ela se perguntava quantos jardins luxuosos podia haver em uma cidade, mas ao menos a elegante redondeza de West End parecia muito mais segura que as sórdidas zonas residenciais que tinha atravessado ao entardecer. Entretanto, naquele momento, passada a meia-noite, estava muito escuro para distinguir os letreiros das ruas situados no alto dos lados dos edifícios. Ela os olhava entrecerrando os olhos, consciente de que por causa da fome e esgotamento era mais fácil que se sentisse desorientada no meio do labirinto daquela cidade enorme, suja e desconcertante. Ah, como sentia falta do largo céu de Yorkshire e seus silenciosos paramos açoitados pelo vento. Embora o que mais sentisse falta de era sua cama. Um súbito relâmpago sulcou o céu. Becky se sobressaltou e se encolheu dentro de seu casaco de cor azeitona. As agitadas ...

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