Livro: Amores Inconfessáveis Página 2

... passo com suas botas de couro de pelica. Sua saia suja formava redemoinhos ao redor de suas pernas, ameaçando fazê—la tropeçar. A moça corria por uma sombria rua lateral, fugindo das luzes da longa avenida, com seu longo cabelo emaranhado e revolto. Seu pálido rosto juvenil mostrava uma expressão lúgubre de terror enquanto lançava olhares por cima do ombro e continuava correndo pesadamente com os punhos apertados, respirando com dificuldade. Dobrou a esquina precipitadamente lançando um pequeno grito abafado, apenas um soluço; meteu-se em um beco escuro como boca de lobo e imediatamente desapareceu no oco de um portal apertando-se para trás. Ela ficou imóvel, à exceção de seu peito palpitante. "Não se mova. Nem sequer respire". Iam a escassos segundos atrás dela. Os cavaleiros se aproximavam perseguidos de perto pela tormenta; implacáveis e inevitáveis como a tempestade que se avizinhava. Outro trovão rouco fez vibrar os vidros do escuro edifício no qual ela se escondia. A garota se agachou contra os tijolos, tratando de tornar-se menor, pois quando o ruído desapareceu, continuou ouvindo-se outro som mais tênue, mas muito mais terrível. Clipe, clop, clipe, clop, clipe, clop. A cadência implacável dos cascos dos cavalos se fazia mais audível. Becky Ward fechou os olhos fazendo uma careta de terror, enquanto uma gota de suor caía por sua face. O som do avanço dos cavaleiros ressoava pelo estreito beco; o chiado do couro bem engraxado, o tinido e o sussurro das letais espadas, pistolas e lanças; armas que nem sequer tinham nome em sua língua. Os cavaleiros não tinham sido enviados com o objetivo de matá-la. "Oh, não", pensou amargamente a jovem. O príncipe queria que a devolvesse viva. Se ela contava com uma vantagem, era essa. Ela recolheu a prega enlameada de seu vestido uma fração de segundo antes que os cavalos passassem pela boca do estreito beco. Ela ficou tremendo no meio do calor úmido da noite estival, conte ...

do a respiração, angustiada pela espera ao ver que se detinham a escassos metros de seu esconderijo. Já quase a teriam e, sendo como eram peritos rastreadores, os cossacos sabiam. O príncipe Mikhail Kurkov tinha enviado quatro de seus melhores guerreiros atrás dela, embora dispusesse de muitos mais se estes fracassassem. Do lugar onde ela se achava, podia ver as silhuetas cada vez mais próximas da segunda parelha. Os soldados cossacos, homens enormes e ameaçadores com barbas cheias e bigodes retocados, eram indivíduos endurecidos pela guerra. Estavam vestidos com casacos de cor cinza escura sobre calças folgadas, que tinha enfiado em suas botas negras de montar. Sob a aba de seus gorros de estranho aspecto, viam-se seus rostos inescrutáveis, morenos e curtidos pela vida na garupa do cavalo, e seus olhos ligeiramente enviesados de olhar frio e eficiente. Diziam que desciam dos hunos. Um deles cheirou o ar tratando de detectar sua presença, enquanto outros olhavam a seu redor e murmuravam perguntas e respostas entre si em uma língua grave e rápida que ela foi incapaz de decifrar. A jovem engoliu em seco quando os cossacos se separaram para continuar procurando-a em pares. Os dois primeiros continuaram adiante, enquanto que os outros deram a volta a seus velozes e robustos cavalos e retornaram em direção à ampla via pública iluminada pelas luzes, fosse qual fosse seu nome. Oxford Street? Picadilly? Becky não tinha certeza. Uma vez que os homens desapareceram, ela esteve a ponto de desmaiar de alívio e esgotamento, apoiando todo seu peso contra a porta fechada situada atrás dela. Por um breve instante, permitiu-se fechar os olhos. "Voltei a escapar por um fio de cabelo". Depois de quatro dias de fuga, perseguida de cidade em cidade enquanto avançava para o sul em direção a Londres, não achava que resistisse muito mais. Não tinha comido nada em todo o dia e se achava num estado de grande fatiga e atordoamento. O medo parecia à única ...

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