Livro: A Máscara do Desejo Página 4

... ipal preocupação nesse momento. A única! Mas era inútil, ele decidiu mais tarde enquanto se enxugava diante do fogo. Ver Madrigal sem tocá-la era como olhar para uma garrafa de vinho de boa qualidade e não prová-lo. Ele se vestiu sem admitir o esforço que fazia para tornar-se apresentável. O criado providenciou uma lâmina e pente para a barba e os cabelos* e ao per¬ceber o sorriso no rosto do jovem, ele explicou que se empenhava em parecer apresentável ao rei. Para o rei, ele pensou mais uma vez ao sair do quar¬to penteado e barbeado, vestindo meia azul, camisa de seda branca, colete de veludo preto, e levando no braço a capa guarnecida de pele. Mas era inútil. Podia enganar todo mundo, menos ele mesmo. Tocou o amuleto que levava no pescoço, uma lem¬brança tangível do pai. Ele teria aprovado sua esco¬lha, não? Deus! Como sentia falta de seu velho pai. Muita falta. E esta noite convenceria o rei a devol¬ver as terras que haviam pertencido a sua família, e assim seu pai poderia finalmente repousar em paz. Madrigal entrou no quarto e fechou a porta. Suas mãos tremiam, e ela temia que o coração parasse de bater a qualquer momento. Não conseguia esquecer o corpo forte e dourado do homem de cabelos casta¬nhos acobreados. Ele havia sorrido, e ela quase perde¬ra a fala. Era assustador pensar que um homem: po¬dia ter tanto poder sobre ela. Ela, Madrigal Renfred, fizera papel de tola. Mas não permitiria que ele a afetasse daquela maneira. Durante o jantar, trataria de ignorá-lo como se jamais o houvesse visto antes. — Milady? Quer que a ajude com o vestido? — perguntou uma das criadas no quarto. — Sim, sim. O vestido! — E também o fascinaria com sua aparência esta noite. Madrigal abriu as portas do armário para es¬colher um vestido, e parou diante do espelho, segu¬rando o traje de brocado azul diante do corpo esguio. Esguio demais para uma corte repleta de damas voluptuosas. — É perfeito, milady — a criada opinou com ...

m sorriso cúmplice. — Vai atrair o olhar que deseja cativar. — Não quero atrair ninguém, Elaine! Quero dizer. ninguém em especial. As duas riram, e ela contou tudo a Elaine enquan¬to se vestia. — Ah, ele deve ser tão belo quanto meu Dickon — a criada concluiu com um suspiro sonhador. — Espe¬ro que tudo dê certo para milady, como deu certo para mim. Madrigal aceitou o espartilho enquanto ouvia a criada. Normalmente, recusava-se a usar a peça, mas, com ela, sua cintura parecia mais estreita, e os seios ganhavam volume. A saia ampla do vestido criava curvas ilusórias na região do quadril, e ela sorriu. — Ah, ele a notará, milady — Elaine murmurou, satisfeita ao analisar o resultado de seu trabalho. Depois de escovar e prender os cabelos dourados de sua senhora, ela os cobriu com um arranjo delicado, um chapéu com um véu que lembrava as asas de uma borboleta. Madrigal continuava pensando no desconhecido. Quem poderia ser? Não sabia nem mesmo seu nome. Pronta, ela saiu do quarto e se deparou justamen¬te com o homem que ocupava seus pensamentos. — Ah, nos encontramos novamente — ele comen¬tou sorrindo, oferecendo-lhe o braço para acompa¬nhá-la ao salão. — Talvez o destino tenha decidido entrelaçar nossos caminhos. Madrigal caminhava ao lado dele para a mesa no salão e pensava que, talvez, ele estivesse certo. O grande salão abrigava os convidados que riam e conversavam sobre política, negócios, e a guerra. A luz das velas e do fogo na lareira criava sombras que pareciam dançar nas paredes de pedra. O cavalheiro a acomodou em um assento à mesa, um lugar bem perto da cabeceira, como cabia à sua posição. — Meu nome é Stephen. Stephen Valentine — ele se apresentou. O aroma da carne assando em grandes espetos no fogo em um canto do salão o fez perceber que estava faminto. Criados viravam os espetos e despejavam so¬bre a carne o aromático molho de ervas e especiarias. — Parece estar com fome — Madriga ...

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