Livro: Tu só tu puro amor
Warning: Undefined array key "p" in /home4/mult6346/multiajudaromances.com.br/livro.php on line 148
Autor - Fonte: Machado de Assis
Warning: Undefined array key "p" in
/home4/mult6346/multiajudaromances.com.br/livro.php on line
168
...
LITERATURA BRASILEIRA
Textos literários em meio eletrônico
Machado de Assis.
Edição referência: Obra Completa, de Machado de Assis, vol. II,
Nova Aguilar, Rio de Janeiro, 1994
TU SÓ, TU, PURO AMOR*
COMÉDIA
Tu só, tu, puro amor, com força crua,
Que os corações humanos tanto obriga.
(Lusíadas 3 CXIX)
PESSOAS
CAMÕES D. MANUEL DE PORTUGAL
D. ANTÔNIO DE LIMA D. CATARINA DE ATAIDE
CAMINHA D. FRANCISCA DE ARAGÃO
Sala no paço
CENA PRIMEIRA
CAMINHA, D. MANUEL DE PORTUGAL
(CAMINHA vem do fundo à esquerda; vai a entrar pela porta da direita quando lhe sai D.
MANUEL DE PORTUGAL, a rir)
CAM. Alegre vindes, senhor D. Manuel de Portugal. Disse-vos El-rel alguma cousa
graciosa, decerto.
D. MAN. Não; não foi El-rei. Adivinhai o que seria, se é que o não sabeis já.
CAM. Que foi?
D. MAN. Sabeis o caso da galinha do Duque de Aveiro?
CAM. Não.
D. MAN. Não sabeis? Pois é isto: uns versos mui galantes do nosso Camões. (CAMINHA
estremece e faz um gesto de má vontade) Uns versos como ele os sabe fazer. (À parte)
Dói-lhe a notícia. (Alto) Mas, deveras, não sabeis do encontro de Camões com o Duque
de Aveiro?
CAM . Não .
D. MAN. Foi o próprio duque que mo contou agora mesmo, ao vir de estar com El-rei. . .
CAM. Que houve então?
D. MAN. Eu vo-lo digo; achavam-se ontem, na igreja do Amparo, o duque e o poeta.
CAM. (com enfado). O poeta! o poeta! Não é mais que engenhar aí uns pecos versos,
para ser logo
poeta! Desperdiçais o vosso entusiasmo, senhor D. Manuel. Poeta é o nosso Sá, o meu
grande Sá! Mas, esse arruador, esse brigão de horas mortas.
D MAN. Parece-vos então?.
CAM. Que esse moço tem algum engenho, muito menos do que lhe diz a presunção dele
e a cegueira dos amigos; algum engenho não lhe nego eu. Faz sonetos sofríveis. E
canções. digo-vos que li uma ou duas, não de todo mal alinhavadas. Pois então? Com
boa vontade, mais esforço, menos soberba, gastando as noites, não a folgar pelas
locandas
...
e Lisboa, mas a meditar os poetas italianos, digo-vos que pode vlr a ser.
D MAN. Acabai.
CAM. Está acabado: um poeta sofrível.
D. MAN. Deveras? Lembra-me que já isso mesmo lhe negastes.
CAM. (sorrindo). No meu epigrama, não? E nego-lho ainda agora, se não fizer o que vos
digo. Pareceu-vos gracioso o epigrama? Fi-lo por desenfado, não por ódio. Dizei, que tal
vos pareceu ele?
D. MAN. Injusto, mas gracioso.
CAM. Sim? Tenho em mui boa conta o vosso parecer. Algum tempo supus que me
desdenháveis. Não era impossível que assim fosse. Intrigas da corte dão azo a muita
injustiça; mas principalmente acreditei que fossem artes desse rixoso. Juro-vos que ele
me tem ódio.
D. MAN. O Camões?
CAM. Tem, tem.
D. MAN. Por quê?
CAM. Não sei, mas tem. Adeus.
D. MAN. Ide-vos?
CAM. Vou a El-rei, e depois ao meu senhor infante (Corteja-o e dirige-se para a porta ela
direita. D. MANUEL dirige-separa o fundo).
D. MAN. (andando).
Eu já vi a taverneiro
Vender vaca por carneiro.
CAM. Recitai versos?.São vossos?.Não me negueis o gosto de vos ouvir.
D. MAN. Meus não; são de Camões. (Repete-os descendo a cena)
Eu já vi a taverneiro
Vender vaca por carneiro;
CAM. (sarcástico). De Camões?. Galantes são. Nem Virgílio os daria melhores. Ora,
fazei o favor de repetir comigo:
Eu já vi a taverneiro
Vender vaca por carneiro.
E depois? Vá, dizei-me o resto, que não quero perder iguaria de tão fino sabor.
D. MAN. O Duque de Aveiro e o poeta encontraram-se ontem na igreja do Amparo. O
duque prometeu ao poeta mandar-lhe uma galinha da sua mesa; mas só lhe mandou um
assado. Camões retorquiu-lhe com estes versos, que o próprio duque me mostrou agora,
a rir:
Eu já vi a taverneiro
Vender vaca por carneiro
Mas, não vi, por vida minha,
Vender vaca por galinha
Senão ao Duque de Aveiro.
Confessai, confessai, Senhor Caminha, vós que sois poeta, confessai que há aí certo
pico, e uma simpleza de dizer. Não vale tanto decerto como os sone ...
Warning: Undefined global variable $_POST in
/home4/mult6346/multiajudaromances.com.br/livro.php on line
252
Comentários:
Warning: Undefined global variable $_POST in
/home4/mult6346/multiajudaromances.com.br/livro.php on line
258
Warning: Trying to access array offset on value of type null in
/home4/mult6346/multiajudaromances.com.br/livro.php on line
258
Deixe aqui seu comentário sobre este livro: