Livro: As meninas que vieram das estrelas Página 3
Autor - Fonte: Marcos Aragão Correia
...
ra.
- Claro, claro que existem, como me podia ter esquecido?! – e apontando
o dedo na delicada face de Sara – Tu és uma bruxa!
Imediatamente um coro se levantou na sala, em que todos os alunos
sem excepção gritaram, repetindo sem parar:
- Bruxa! Bruxa! Bruxa!
Sara estava arrasada. Não bastava o dia de ontem, para ainda ter que
suportar logo de manhã o desrespeito do professor e dos colegas.
As meninas que vieram das estrelas
7
Como que aprovando toda aquela gritaria dos alunos, o professor voltou
a se sentar sem pronunciar mais nenhuma palavra. Sara sentia-se perdida
de tão humilhada.
- Bruxa! Bruxa! Bruxa! – continuavam insistentemente todos os colegas,
agora ainda mais alto.
Sara desvaneceu-se em lágrimas.
- Não sou bruxa! – gritou desesperadamente, mas era inútil pois a sua
voz nem se ouvia com o barulho das vozes dos colegas. – Não sou bruxa!
– repetiu soluçando.
- Bruxa! Bruxa! Bruxa! – continuavam.
- Parem, não sou bruxa – tentou ainda mais uma vez, mas já com a
voz a esmorecer de tanto soluçar. Reparou que o professor sorria perante
aquele triste espectáculo.
Nisto, o sentimento de mágoa foi dando lugar a um sentimento de
zanga, ela começou a fi car mais e mais zangada, furiosa com toda aquela
injustiça.
- Parem! – gritou agora mais alto que nunca – Odeio-vos! – disse com
grande zanga.
De repente, para surpresa de todos, todos os vidros da sala de aulas
partiram-se sem razão aparente, caindo no chão em milhares de bocados.
Todas as janelas estavam subitamente quebradas. E todos se calaram em
consequência. Professor e alunos estavam estupefactos, e o silêncio deles
revelava também medo e um pânico controlado.
Sara correu para fora da sala, saindo da escola o mais depressa que
pôde.
Conhecia uma pequena loja que vendia livros, revistas e objectos, tudo
relacionado com o paranormal, na qual tinha fi cado muito amiga da dona,
a senhora Margarida. Era lá que gastava a maior parte
...
a sua mesada,
comprando tudo o que podia para aprender sobre o assunto. Lembrou-se
então de ir até lá para pedir um conselho amigo.
- Olá Margarida. – cumprimentou Sara logo que avistou a amiga atrás
do balcão.
- Olá Sarinha! O que te trás por aqui hoje? Não tiveste aulas? Dá cá
um beijinho, minha menina linda. – disse saindo do balcão e pondo-se de
cócoras enquanto abraçava ternamente Sara.
Sara retribuiu o abraço com vigor enquanto ainda enxugava uma lágrima
com uma das mangas da sua camisola.
Marcos Aragão Correia
8
- O que foi Sarinha? Estiveste a chorar? – perguntou Margarida
preocupada.
Sara colocou a sua mochila num recanto da loja.
- Preciso dos teus conselhos Margarida. – pediu, enquanto alcançou a
mão da amiga e a puxou de volta para dentro do balcão.
- Sarinha… pareces tão triste hoje.
Sara sentou-se numa das cadeiras que existiam ao pé do telefone, tirou
um lenço de dentro de um bolso das suas calças de ganga, assoou bem
o nariz, e amarrou o atacador de uma das suas sapatilhas que se havia
desabotoado ao fugir da escola.
- Sabes Margarida, hoje aconteceu algo de estranho. Lembras-te daquele
livro que te comprei a semana passada? Tinha lá um capítulo sobre pessoas
que são capazes de deslocar objectos.
- Sim, psicocinese. Era um capítulo sobre psicocinese – concretizou
Margarida.
- Sim, isso mesmo! Pois hoje aconteceu-me algo parecido. Acho que foi
algo que eu fi z inconscientemente.
- O que aconteceu querida?
- Sabes, estava hoje na escola, e cheguei um pouco atrasada. O professor,
que sabia que eu me interessava muito pelo paranormal, começou a gozar
comigo, e depois os outros alunos fi zeram o mesmo. Fui completamente
humilhada. Chorei muito, e depois fi quei tão zangada que disse a todos eles
que os odiava. Algo que até agora nunca tinha dito a ninguém. – lamentou
ainda meia chorosa. – Foi então que todos os vidros da sala se partiram, e
tenho o pressentimento de que ...
Comentários:
Deixe aqui seu comentário sobre este livro: