Livro: Baile de Máscaras Página 2

... não tempo para ler. O setor têxtil da empresa participaria da próxima exposição comercial, e um de seus gerentes cuidaria do assunto. Não era necessário que o Presidente. Dio mio! Seu olhar recaiu sobre uma foto, quando um folheto de propaganda apareceu em meio aos papéis. Ele ficou tenso ao ver um pequeno sinal acima de lábios volumosos e sedutores. Seu sangue correu mais depressa e ele sentiu uma pressão nos ouvidos. Aquele sorriso, aquela boca. A sensação nada tinha de sexual. Um sopro de memória despertou seus sentidos: um gosto doce de cerejas maduras, rico e aliciante. Alessandro conteve a ansiedade. Não deveria pensar, apenas deixar que as emoções fluíssem. Desejou que sua memória voltasse. Como uma leve cortina ao vento, o manto opaco que encobria as lembranças daqueles meses, dois anos antes, se abriu, esvoaçou e voltou a cair no lugar. Ele apertou a beirada da mesa com toda a força. Não sentia dor: tinha apenas aquela sensação familiar e irritante do vazio. Só ele sabia a impotência e a fragilidade que aquele vácuo lhe causava. De nada adiantava que lhe dissessem que aqueles meses perdidos nada tinham de extraordinários. Outras pessoas se recordavam do que ele fizera e dissera, mas ele, Alessandro Mattani, não se lembrava. Ele examinou o folheto. Tratava-se de um hotel em Melboume, mas ele não o reconhecia. Não se lembrava de ter viajado para Melboume. Alessandro controlou sua impaciência. Ser dominado pela emoção em nada o ajudaria, mas, às vezes, a sua sensação de perda, de que algo vital lhe faltava, tornava-se insuportável. Ele virou o folheto e contemplou a fotografia. Uma recepcionista sorria ao receber um casal de hóspedes. Tratava-se de uma foto de propaganda, mas havia algo de fascinante no sorriso da moça. O ambiente luxuoso não o impressionava, mas aquela mulher era intrigante. Quanto mais ele a olhava, mais sentia que a conhecia, e seu sangue acelerava. Ela parecia familiar. Teria sorrido para ele daq ...

ele jeito? Ele teve quase certeza de que a conhecia e analisou sua imagem com cuidado: cabelos negros, puxados para trás; um rosto comum, mas bonito; nariz pequeno e arrebitado. Seus olhos eram incrivelmente claros para uma pele tão morena, a boca larga e atraente. Ela não era linda e nem exótica o suficiente para chamar a atenção. Mas, ainda assim, tinha um carisma que o fotógrafo conseguira captar. Alessandro observou as altas maçãs do rosto, a curva suave do seu queixo, e parou na promessa sedutora de seus lábios. Novamente, a intuição lhe dizia que ela não lhe era estranha. Ele sentiu os seus músculos se contraírem, como se estivessem prontos para agir. Por detrás do véu opaco que lhe encobria a memória, algo se remexeu: a sensação do roçar suave dos lábios dela sobre os seus; o gosto irresistível de cerejas maduras; o toque suave de dedos delicados sobre o seu queixo e o som de suspiros femininos depois do êxtase. Ele sentiu um peso no peito e começou a suar. Estava excitado. Era impossível! Mas o instinto clamava uma verdade que ele não podia ignorar. Ele a conhecia. Ele a encontrara, a abraçara e haviam feito amor. Alessandro dilatou as narinas como um macho que farejasse o seu par. Olhava para a imagem de uma desconhecida que morava do outro lado do mundo. Se ele não fora até Melboume, ela teria vindo até a Lombardia? A frustração de não saber o atingiu novamente, e ele contemplou a fotografia por longo tempo, sem perceber que acariciava o rosto da desconhecida. Podia parecer impossível, mas a cada segundo ele tinha mais certeza de que aquela mulher possuía a chave de sua memória. Ela seria capaz de abri-la, de recuperar o que ele perdera e de aliviar a sensação de que lhe faltava algo, livrando-o da sua insatisfação? Alessandro pegou o telefone. Por mais que lhe custasse, pretendia ter respostas. — Obrigada, Sarah. Você me salvou. — Carys estava aliviada. Tudo dera errado naquele dia, porém o mais im ...

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