Livro: Anjo Proibido Página 2

... o. Ao abrir os olhos de novo, o rosto da mulher estava um pouco mais claro. E percebeu que ela era linda. Não. Os olhos dele não eram acinzentados, como os de Max. Nem azuis. Mas uma mistura das duas cores. E o resultado era espetacular. Theo franziu a testa. Era intrigante o fato de que só podia ver seu rosto, emoldurado por nuvens brancas. En¬tão, compreendeu imediatamente o que se passava. E tudo pareceu tão claro, que quase sorriu. Tinha morrido. Era por isso que não sentia mais dor. Alívio e raiva invadiram-lhe a alma. Alívio por não sofrer mais. Raiva por não poder executar sua vingança. Aquele rosto só podia pertencer a um anjo. Mas foi aí então que se lembrou de que não acreditava em anjos. Nem no céu. E o inferno, se existisse, se localizava na Terra. O rosto chegou mais perto dele. E o perfume de flores do campo ficou ainda mais forte. — Que é você? — ele deu um jeito de perguntar. O anjo deu um sorriso. — Meu nome é Julie. Agora feche os olhos e durma um pouco. Anjos falavam francês? Desde quando? Aquilo era muito estranho. Antes que pudesse compreender o que estava acontecendo, uma mão suave e fria pousou em sua testa. E ele sentiu algo que já nem mais sabia que existia: paz. Pela primeira vez em muito tempo, adormeceu tranquilamente. UM Quando Theo acordou novamente, a dor que estraçalhava seu corpo lhe dizia que estava muito vivo. Fez uma careta. — Bem, Max, pelo visto, você não afiou bem sua faca. Max sorriu e encostou a mão no ombro do irmão caçula. Estudou seu rosto disfarçadamente. Havia rugas fundas em volta de seus olhos e de sua boca. Parecia ter mais do que seus vinte e nove anos. Lembrava-se bem do jovem alegre, despreocupado e sonhador que ele havia sido cinco anos atrás. Max não conseguia esquecer a culpa. A culpa que ainda corroía sua alma. Fora ele quem jogara o irmão no inferno da revolução, da qual ele saíra completamente mudado: um homem amargo, triste e ferido no corpo ...

e no coração, seu único objetivo de vida bem definido. Vingança. Uma vingança bem pessoal. — Como está se sentindo, meu irmão? Theo fez outra terrível careta de dor. — Estou me sentindo como um peru atingido por uma lâmina enferrujada. — Você poderia ser um pouco mais específico? Ele apertou os dentes. A dor certamente aumentara. — N. não. Max fez um sinal para Julie, parada perto da estreita cama de ferro. Ela fez que sim com a cabeça, mostrando que tinha entendido a ordem e, afastando o cobertor que cobria os pés do paciente, espetou-lhe um dos dedos com uma agulha. Theo tentou levantar a mão. — Ei! Posso saber o que está havendo por aqui? O alívio que Max sentiu foi tão grande, que seus joelhos tremeram como geléia. — Apenas um exame de rotina, irmãozinho. Então Theo lembrou-se do que Max lhe explicara antes da operação. Que não sabia ao certo se seria capaz de remover a bala de suas costas sem danificar-lhe a espi¬nha. E que se a espinha fosse danificada, ele jamais vol-taria a andar. Theo engoliu em seco, tentando não alimentar em demasia a esperança que nascia em sua alma. Max apertou o ombro do irmão. — Não sei se consegui livrá-lo da dor para sempre, mas há uma chance, uma boa chance, de que você possa voltar a se movimentar livremente. — Ele fez um gesto para que Julie se aproximasse. — Esta é a enfermeira Julie, Theo. E ela quem vai tomar conta de você. Surpreso, Theo olhou para o rosto que havia aparecido em seus delírios. Um rosto emoldurado por uma touca bran¬ca, que escondia totalmente seus cabelos. Havia sido aquela a razão pela qual a confundira com um anjo. Por alguma estranha razão, a explicação lógica o aborreceu, como se ela o tivesse enganado de propósito, apenas para irritá-lo. Julie percebeu que ele a encarava com um olhar pouco amistoso. Sim. O paciente à sua frente não iria ser nada fácil. De qualquer forma, pretendia dar o melhor de si. Porque sempre o fazia ...

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