Livro: Uma mulher Obstinada - Judith Stacy Página 2

... cidade aglomerava-se para ouvir as palavras do ministro. Jared afastou-se das carpideiras e, como de hábito, observou em minúcia o semblante dos presentes. Era sua especialidade. Já escapara da morte umas duas vezes por isso. Pelo visto, todos os cidadãos importantes de Stanford tinham vindo prantear o defunto. Aparentavam prospe¬ridade, tanto nos trajes quanto nos modos. Jared viu o prefeito e a esposa. Já o encontrara antes, no gabinete do xerife Hickert, que também comparecera. Seria esperado que o xerife não viesse, em virtude do ferimento na perna, resultante do tiroteio com os ban¬didos que Jared levaria no dia seguinte. As pessoas se moveram, quando o reverendo Harris foi de encontro à sra. Ingram. — Droga. Aquela era a viúva de Del! Jared sentiu como se hou¬vesse levado um soco no estômago. Não entendeu como Ingram galgara os degraus de um negócio próspero, nem como conseguira adquirir e manter uma boa casa e um bom nome. Muito menos como con¬seguira uma esposa tão bonita! Mesmo de luto e com um xale negro sobre a cabeça, a sra. Ingram era encantadora. Fios de cabelos castanhos esvoaçavam ao vento e batiam nas faces pálidas. Man-tinha-se ereta e apertava os lábios carnudos, fitando o horizonte. Jared calculou que ela parecia determinada a não dei-xar-se abater pela tristeza do passamento súbito do ma¬rido. Já presenciara isso antes. Depois de algum tempo impunha-se a realidade, e só então a perda dos entes amados deixava os corações em pedaços. Quem ampararia a sra. Del Ingram, quando isso acon¬tecesse?, Jared perguntou-se. E por que isso o incomodava? O artigo no periódico não mencionava filhos e, a bem da verdade, não havia nenhuma criança agarrada na saia da mãe. A viúva estava sozinha, sem o consolo de um filho. — Rezemos — o reverendo Harris pediu. Os presentes curvaram as cabeças, e Jared tirou o jornal do bolso com discrição, à procura do nome da viúva. Matilda. Ou melhor, Mattie, como a mu ...

her do prefeito mencionara antes. Jared fitou-a e susteve a respiração. Mattie Ingram, de queixo erguido, o encarava, sem piscar e sem acanha¬mento. Eram os olhos castanhos mais belos e grandes que já vira. Jared sentiu o calor irradiar-se, os joelhos enfraque¬cerem e o pulso disparar. — Amém — o pastor entoou. — Amém — todos responderam. Aí, sim, Mattie desviou-se. Acalorado, Jared abriu o paletó para sentir o vento frio. Desejou que ela o fitasse de novo, mas não o fez. Controlada, Matilda Ingram aceitou as condolências e se foi, no meio aos conhecidos. Em pé, ao lado do monte de terra que cobria a sepul¬tura, Jared observou-a afastar-se ondulando as anqui-nhas do vestido e sumir. Suspirou e dirigiu-se ao saloon mais próximo. Passou pelas portas de vaivém. Dentro do Dama da Noite não havia quase ninguém. Dois homens encontra-vam-se no bar, e as mesas de jogos estavam vazias. — Que silêncio por aqui. — Todos foram prestar a última homenagem ao sr. Ingram — o barman explicou a Jared. Era o que deveria ter imaginado. Todos se reuniriam na casa da viúva, consumiriam a comida que haviam trazido e fariam comentários sobre o falecido. Jared apoiou o cotovelo no balcão. Será que ficara na estrada há tantos meses que se esquecera de como agiam as pessoas civilizadas? Mais tarde o recinto encheu-se de gente. Homens be¬biam e falavam alto. Cada um tinha alguma coisa a dizer sobre Del Ingram. Quando Jared terminou a quarta cerveja, já ouvira todas as qualidades possíveis atribuídas ao homem do qual se lembrava como um malandro de primeira classe. Saiu do sallon e enfrentou a ventania gelada, ao ca¬minhar pelo passeio de tábuas, rumo ao hotel. Escure¬cera, e os bons habitantes de Stanford já haviam se re¬colhido para o aconchego do lar. Não parou no hotel onde estava hospedado. Dirigiu-se até a saída da cidade, onde ficava a construção sólida com a cerca de estacas e sobre a qual lera no jornal. A residência ...

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