Livro: Vozes da África Página 3

... r, nem era a hora para isso. Além disso, ela não o ouviria. O juiz deixara bem claro que Meg não queria vê-lo nunca mais, depois do casamento. Bem, em breve, ela teria o seu desejo satisfeito. Antes mesmo do anoitecer, Cameron partiria para Aberdeen, onde embarcaria no próximo vapor para Mombasa. E passaria anos fora. Talvez, nunca mais voltasse. Meg segurava nas mãos frágeis alguns ramos de urze, apanhados de última hora. Com gestos trêmulos, ela mudou o triste buquê de mão e estendeu uma delas para Cameron colocar-lhe a aliança. Ele se surpreendeu ao notar que a argola ajustou-se ao dedo de Meg, como se houvesse sido feita sob encomenda. Cameron ainda percebia o pardal voando por entre os bancos, quando o padre limpou a garganta e declarou. — Com a autoridade que a igreja da Escócia depositou em mim, eu vos declaro marido e mulher! O silêncio que se seguiu foi quebrado apenas pelo rufar das asas miúdas. Então, Cameron deu-se conta de que esperavam que ele beijasse a noiva. Desde aquela noite de paixão, na enseada, não a beijara e nem sequer a tocara. Agora, tomá-la nos braços diante de todos… Fez um movimento hesitante na direção dela, mas Meg não aceitaria mais aquela humilhação. Permaneceu rígida, os braços ao longo do corpo, os lábios formando uma linha dura. Bem, ele não a forçaria. Sentindo-se em parte aliviado, em parte furioso, Cameron virou-se. Finalmente, terminara. Ele e a jovem Meg haviam cumprido com sua obrigação. Seu filho não carregaria consigo a pecha de bastardo e não havia mais nada a ser dito. Os familiares já começavam a levantar-se de seus lugares. Cameron esperou que o pai de Meg lhe tomasse o braço e a encaminhasse lentamente para a saída, para então segui-los à distância. Seus pensamentos eram tão sombrios quanto as nuvens que se amontoavam no horizonte. Perdera a maior parte de sua vida cultivando a frustração inútil. Agora, desprezava mais a si mesmo do que ao padrasto ou aos medí ...

cres irmãos de criação, pois havia coroado seus atos inconseqüentes ao gerar um filho com uma moça que jamais o escolheria para marido. Já causara muito mal por ali. Estava na hora de partir, antes que fosse tarde demais. Só uma coisa animava seu espírito: a perspectiva de seguir para a África, aquela terra aberta e indomada, à sua espera, como uma amante perfumada. Em poucos dias estaria a caminho. Em algumas semanas, chegaria lá e seria livre para entregar-se ao esplendor selvagem. Cameron ouviu o pardal chocar-se contra o vidro da janela, virou-se e viu o passarinho cair no chão. Meg, que também acompanhara a cena, emitiu um pequeno grito, soltou o braço do pai e adiantou-se para onde o animalzinho caíra. — Não! — Cameron falou num impulso. — Deixe que eu o apanhe. Ela ficou imóvel, observando-o esgueirar-se por entre os bancos e abaixar-se para apanhar o pássaro. Cameron acomodou o pardal na palma da mão, sentindo-lhe o coração bater e o corpinho estremecer por baixo das penas macias. Percebeu o olhar inquisitivo de Meg. — Está apenas atordoado — informou-a. — Vá com seu pai, agora. O juiz Owen já segurava o braço da filha e a puxava na direção da porta. Ela lançou um último olhar para Cameron, que viu por trás da fascinante tonalidade violeta, toda a sua mágoa, ternura e desespero. Então, ela se virou e saiu. Cameron soltou o ar devagar, parado entre os bancos, registrando na memória a última imagem de sua noiva, da mãe de seu filho. Como se pertencessem a outro mundo, ouviu os sons produzidos pelas botas do padrasto e dos irmãos de criação, que seguiam pelo corredor. E, também, ouviu os soluços abafados de sua mãe. — Muito bem, está tudo terminado! — anunciou Jock MacKenna. — Vamos tratar de voltar à fazenda. Há muito trabalho a fazer. O pardal começava a agitar-se, debatendo as asinhas contra os dedos de Cameron. Com gestos lentos e cuidadosos, ele saiu da igreja e devolveu o passarinh ...

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