Livro: A Senhora de Falcon Ridge Página 4

... que iremos para Rouen depois da colheita. — O olhar de Merrik brilhou com uma afeição que causaria inveja aos próprios filhos. — Diga a Taby que ensinarei a ele um novo golpe de luta romana. Sinto muita falta de Taby. Ele está com dez anos e é um belo menino: honesto e leal. — Ele não poderia ter ficado a seu lado, Merrik. Como sobrinho de Rollo, o lugar dele é na Normandia. Era verdade. Rollo dominara o norte da França, e o rei francês o agraciara com o título de primeiro duque da Normandia, dando-lhe a posse das terras que ele já ocupava. Era importante que o poder de Rollo não enfra¬quecesse, para evitar novas incursões dos vikings. — Eu sei, mas nem por isso sinto menos falta dele. Cleve lembrou-se do que ocorrera havia cinco anos. Merrik estivera negociando em Kiev, e pretendia com¬prar um escravo para a mãe quando se encantara com um menino na arena. Comprara Taby, e resgatara a ele, Cleve, e também Laren, irmã de Taby, de outro merca¬dor que a comprara. Merrik parecia amar Taby mais que seus próprios filhos. — Merrik, suponho que Rollo deseje mandar-me para a corte do rei Sitric, na Irlanda, como o mensageiro su¬geriu. Sitric era um homem idoso e próximo da morte, mas quando fomos a Rouen, no ano passado, Rollo afir¬mou que Sitric recuperou a energia. O milagre deve-se a Hormuze, um mágico estrangeiro que desapareceu após operar a mudança no rei. Não creio nisso, mas a maioria aceita a transformação como um fato consumado. Já ou¬viu falar do caso? — Nem uma palavra. Cleve sabia que Merrik estava mentindo, mas não imaginava o motivo. Talvez descobrisse a verdade com o próprio rei Sitric. — Laren e eu ficamos felizes em saber que foi no¬meado emissário de Rollo, Cleve — comentou Merrik. — O duque pode se dar por feliz em contar com um ho-mem tão inteligente a seu serviço. — Eu poderia ser um idiota, e o duque me recompen¬saria de qualquer maneira por acreditar que salvei seus queridos Laren e Ta ...

y. — Rollo é um felizardo. — Merrik deu um tapa ami¬gável nas costas dele. — Como você não é um idiota, ele o recompensou, e ainda tirará bom proveito disso. * * * Corte do rei Sitric, Dublin, Irlanda, 924. Cleve a viu pela primeira vez quando ela discutia com uma mulher, dona de uma cabeleira que lembrava uma cascata prateada. Talvez fosse sua irmã mais velha. Mesmo sem escutar as palavras, a inimizade entre as duas era óbvia: amargura e ressentimento de longa data. — Sua bruxa malvada! — A mais jovem não escondia a raiva. — Não deixarei que a maltrate de novo, entendeu? — O que pensa fazer, sua mexeriqueira? Queixar-se para seu pai? Modere as maneiras e trate-me com o res¬peito devido, ou farei com que se arrependa! — Viver com você é o maior castigo que alguém pode¬ria suportar. De repente, a mão da mais velha, uma beldade ves¬tida em azul-claro, e com os cabelos maravilhosos que chegavam aos quadris, atingiu o rosto da jovem com vio¬lência. A moça cambaleou para trás, perdeu o equilíbrio e bateu o quadril em um banco de pedra. Cleve não chegou a interferir. A jovem endireitou-se, correu até a mais velha e puxou com raiva um punha¬do dos cabelos platinados. A mulher começou a gritar, a bater na mais moça e a espernear. Mas a jovem não a soltou. Parecia tão briguenta quanto o cãozinho que Kiri insistira para ele pegar havia três semanas, quando estiveram em Rouen. Ofegante e pálida pela dor e pela raiva, a mais velha fi¬nalmente se soltou e recuou com os cabelos desgrenhados. — Vai se arrepender por isso, Chessa, eu juro! Não pense que sua influência é tão grande, menina, para ficar acima de mim e de meus filhos. Seu pai e os filhos dele são importantes, mas não você! E eu sou mais valiosa que todos eles. Ainda vai se lembrar disso! — A mulher se virou e saiu do jardim por uma pequena porta que Cleve ainda não notara. — A senhorita está bem? — ele perguntou. A jovem se voltou, surpre ...

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