Livro: A Senhora de Falcon Ridge Página 2
Autor - Fonte: Catherine Coulter
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residên¬cia de madeira com telhado de colmo e ripas. Uma forta¬leza. O silêncio imperava apesar de homens e mulheres estarem trabalhando nos campos, carregando lenha, cui¬dando das crianças. Não se ouviam risos, conversas, nem brincadeiras.
De repente escutou vozes vindo de dentro da fortale¬za, mas não quis entrar. Os sons se tornaram mais altos quando a enorme porta de madeira foi aberta. Apesar da fumaça proveniente da lareira funda e central, ele pôde ver os homens afiando os machados e polindo os elmos. Mulheres teciam, costuravam e cozinhavam. Embora tudo parecesse normal, ele quis fugir dali, mas não pôde.
Então ele a viu: loira, de cabeça baixa, pequena e in¬defesa.
Recuou, sentindo uma pontada aguda dentro do pei¬to. Recordou-se que ela fiara e pintara os fios antes de tecer a capa de lã que o agasalhava.
Agarrou-se ao manto como se a abraçasse e pudesse salvá-la. Entendia o perigo em que ela se encontrava.
Ouviu uma voz baixa e calma, quase um lamuriar, em sua mente. Sabia que tudo ficaria em silêncio até escutar os gritos lancinantes da mulher. Sabia o que acontecera.
O pônei havia sumido, e ele correu, desesperado. Os gritos se sucederam, cada vez mais altos, e o preenche¬ram com um vazio inefável.
Cleve sentou-se na cama, ofegante e suado.
— Papai?
Ele escutou a voz suave antes de se recuperar do ter¬ror sufocante. Ele sabia.
— Papai, por que gritou? Está tudo bem?
— Sim. — Finalmente, ele conseguiu ver a filha. Mechas de cabelos loiros como os dele caíam pelo rosto miúdo. — Foi apenas um sonho ruim, nada mais. Venha cá, doçura, deixe-me abraçá-la.
Devia ter sido um pesadelo devido ao excesso de sopa de cevada que tomara na refeição da noite.
Ergueu a filha e a tomou nos braços. Apertou junto ao coração o pequenino ser perfeito que ele criara como por magia. Procurou não pensar em Sarla, a mãe dela, a quem ele tanto amara. e que tentara matá-lo.
Kiri o beijou no queixo, os braços pequeno
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abraçando-lhe com força o pescoço. Seu riso fácil o trouxe de vol¬ta à realidade.
— Papai, Harald me proibiu de usar a espada dele. — sussurrou, ainda sonolenta. — Falou que eu era menina e que não precisava aprender a matar como os homens. Aí eu disse que ele não era homem, mas sim um garoto. Ele ficou vermelho de raiva e falou um palavrão, por isso dei um pontapé nele.
Cleve sentiu um aperto no coração. Gostaria de prote¬ger a filha da verdade, mas crianças escutavam as con¬versas dos adultos, que muitas vezes se referiam a tem¬pos passados. Sempre que mencionavam Sarla, olhavam Kiri de viés, porém ela não se parecia com a mãe, e sim com ele.
Abraçou-a com um amor tão imenso, que chegava a doer. Linda e doce, Kiri faria os homens perderem a ca¬beça quando crescesse, embora desde pequena, ela pre¬ferisse brincar com a faca do pai a entreter-se com a bo¬neca de pano que a tia fizera para ela.
— Sonhei com um lugar parecido com a Noruega, sa¬bia? A cerração era suave, cinzenta e luminosa, e flores amarelas e roxas cresciam por toda a parte — contou em voz baixa. — O local me era familiar e senti muito medo, mas. — Parou ao ver que a filha já adormecera.
Suspirou profundamente. Não saberia explicar a sen¬sação estranha da própria presença no sonho. Era como se não fosse ele.
Beijou a cabeça de Kiri e a ajeitou ao lado cuidado¬samente. Em seguida adormeceu, sentindo o cheiro das flores com que sonhara.
Fazenda Malverne, Vestfold, Noruega, quase dois anos mais tarde.
— O que acontece, Cleve? Eu poderia tê-lo matado! Ficou parado aí como um animal irracional, pronto para receber uma flechada que o tornaria o assado da noi-te. Onde está a faca que deveria estar apontada para o meu peito?
Havia cinco anos, em Kiev, Merrik Haraldsson o sal¬vara junto com Laren e seu irmão pequeno, Taby. Merrik, seu melhor amigo, o homem que o ensinara a lutar e a ser um guerreiro viking, se aproximava com o arco no om ...
Comentários:
Paula: Chatoooooooooooooo..
Vânia: Maravilhoso!!! Dos três esse é o melhor!! Amei essa trilogia!! .
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