...Carole Mortimer
(Sabrina 374)
Olhos frios. olhos cinzentos, cruelmente frios e lençóis de seda. Eram essas as lembranças que Danielle guardava de seu grande amor. E como continuavam vivas!
- Danielle? Danielle! - Lewis repetiu com impaciência tentando fazê-la prestar atenção na conversa - Perguntei se você concorda com o primeiro encontro amanhã à tarde. Sei que está terminado o retrato da Srª Gilbraith e .
- Terminei hoje - ela revelou, interrompendo-o com certa relutância - E acho que não quero começar outro quadro agora. Penso em tirar férias.
Lewis ficou tão surpreso com a idéia, que seu rosto de traços perfeitos não conseguiu disfarçar o desapontamento.
- Agora não, Danielle!
Aos trinta anos Lewis Vaughan aparentava exatamente o que era: um homem de negócios bem-sucedido. Vestia-se impecavelmente e não gostava do preconceito que se tinha contra arte, além de detestar a idéia de que artista e marchands eram todos uns boêmios. Ele certamente
era a exceção que confirmava a regra.
- Sabe quem vai pintar agora? - perguntou, como se não acreditasse que ela estava mesmo desprezando um trabalho como aquele.
- Claro que sei!
Danielle conhecia muito bem o próximo trabalho que deveria fazer e não gostava nem um pouco da idéia.
- Audra McDonald! Você vai pintar Audra!
- Já disse que sei Lewis - repetiu Danielle, sem demonstrar o mínimo entusiasmo.
Ele insistia no assunto, tentando dar-lhe um pouco de ânimo. Danielle não podia desistir logo agora! Sentia-se mal só de pensar no autor da encomenda, mas mantinha-se fria e controlada, como se não tivesse nada a ver com isso.
Danielle era muito reservada, do tipo que só revela suas emoções para os mais íntimos. E seu círculo de amigos era bem pequeno, não incluía sequer Lewis, o marchand que conhecia há cinco anos e que a promovera no mundo das artes plásticas, e nem mesmo Lewis conseguia chegar ao fundo de sua alma.
Ele tinha que se contentar com a beleza física de Danielle, com os cabelos loiros e sedosos que lhe caíam nos ombros, os olhos verdes e frios que escondiam mil segredos, o nariz pequeno e reto e dado a sardas nos meses de verão, a boca perfeita, os lábios carnudos sempre realçados com um brilho sabor pêssego.
Ela era alta, esguia e costumava usar roupas bastante descontraídas, como batas soltas e jeans. E não se considerava boêmia.
- Eu sei quem recomendou o trabalho, Lewis - ela respondeu secamente, contente por conseguir controlar as emoções. Havia aprendido bem a lição.
- Foi Nicholas Andracas! - Lewis apenas confirmou o que Danielle já sabia - Ele me telefonou sabe? Quase nem acreditei!
Danielle entendia muito bem aquele espanto, pois já sentira a mesma coisa.
- E ele quer que eu pinte o retrato da sua atual amante?
- Danielle!
- Como quer que eu a chame? - a voz soava com ironia - É público e notório que eles moram juntos a mais de um ano.
- Não acho que vivam juntos .
A gargalhada de Danielle interrompeu a frase de Lewis.
- Mas que homem puritano! - ela brincou - Não importa se moram juntos ou não. o fato é que continuam sendo amantes.
- Acho que não devemos discutir os problemas pessoais de um cliente promissor.
- Longe disso meu caro Lewis. É que não estou certa se quero fazer esse trabalho - E só ela sabia por que não gostaria de ter que pintar aquele retrato.
- Por que não? - Lewis perguntou, meio desapontado, e segui-a até a janela, onde Danielle se encostara - Sem dúvida Audra McDonald dará um belo quadro.
Verdade. Ninguem podia negar que a atriz era uma mulher muito bonita. mas para chamar a atenção de Nicholas, o magnata greco-americano, só podia ser assim mesmo.
Nicholas Andracas tinha a fama de andar sempre acompanhado de mulheres belíssimas, e seu caso com a ruiva Audra já durava algum tempo. Bem mais tempo do que o romance que tivera com Danielle.
Nick podia atrair a mulher que quisesse, mesmo sem seus milhões de dólares.
Alto, mor...