Livro: A Polêmica Página 2
Autor - Fonte: Artur Azevedo
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so, o mal-estar que acomete o espírito e se reflete
no corpo do homem todas as vezes que este pratica um ato inconfessável, e aquilo era uma
quase traição. Entretanto almoçou com apetite.
À sobremesa entrou na sala de jantar um menino, que lhe trazia uma carta em cujo sobrescrito
se lia a palavra "urgente".
Ele abriu-a e leu:
"Romualdo. - Preciso falar-lhe com a maior urgência. Peço-lhe que dê um pulo ao nosso
escritório hoje mesmo, logo que possa. Recado do - João Fernandes Saraiva."
Este bilhete inquietou o ex-jornalista.
Com certeza, pensou ele, o Saraiva soube que fui eu o autor do artigo! Naturalmente alguém me
viu entrar em casa do Caldas, demorar-me no escritório. desconfiou da coisa e foi dizer-lhe.
Mas para que me chamará ele?
O seu desejo era não acudir ao chamado; alegar que estava doente, ou não alegar coisa
alguma, e lá não ir; mas o menino de pé, junto à mesa do almoço, esperava a resposta. Era
impossível fugir!
- Diga ao seu patrão que daqui a pouco lá estarei.
O menino foi-se.
O Romualdo acabou a sobremesa, tomou o café, saiu, e dirigiu-se ao escritório do Saraiva,
receoso de que este o recebesse com duas pedras na mão.
Foi o contrário. O amigo recebeu-o de braços abertos, dizendo-lhe:
- Obrigado por teres vindo! Estava com medo de que o pequeno não te encontrasse! Vem cá!
E levou-o para um compartimento reservado.
- Leste o jornal do Comércio de hoje?
- Não - mentiu prontamente o Romualdo. - Raramente leio o Jornal do Comércio.
- Aqui o tens; vê que descompostura me passou o Caldas!
O Romualdo fingiu que leu.
- Isso que aí está é uma borracheira, mas não é escrito por ele! - bradou o Saraiva. - Aquilo é
uma besta que não sabe pegar na pena senão para assinar o nome!
- O artigo não está mau. Tem até estilo.
- Preciso responder!
- Eu, no teu caso, não respondia.
- Assim não penso. Preciso responder amanhã mesmo no próprio Jornal ao Comércio e, se te
chamei, foi para ped
r-te que escrevas a resposta.
- Eu?.
- Tu, sim! Eu podia escrever mas. que queres?. Estou fora de mim!.
- Bem sabes - gaguejou o Romualdo - que sou amigo do Caldas. Não me fica bem.
- Não te fica bem, por quê? Ele com certeza não é mais teu amigo que eu! Depois, não é
intenção minha injuriá-lo; quero apenas dar-lhe o troco!
No íntimo o Romualdo estava satisfeito, por ver naquele segundo artigo um meio de atenuar, ou,
se quiserem, de equilibrar o seu remorso.
Ainda mastigou umas escusas, mas o outro insistiu:
- Por amor de Deus não te recuses a este obséquio tão natural num homem que vive da pena!
Tu estás desempregado, precisas ganhar alguma coisa.
O Romualdo cedeu a este último argumento, e, depois de convenientemente instruído pelo
Saraiva sobre a resposta que devia dar, pegou na pena e escreveu ali mesmo o artigo.
Reproduziu-se então a cena da véspera, com mudança apenas de um personagem. O Saraiva,
depois de ler e reler o artigo, exclamou: - Bravo! Não podia sair melhor! - e, tirando da algibeira
um maço de dinheiro, escolheu uma nota de duzentos mil-réis e entregou-a ao prosador.
- Oh! Isto é muito, Saraiva!
- Qual muito! Estás a tocar leques por bandurra: é justo que te pague bem!
- Obrigado, mas olha: recomendo-te que mandes copiar o artigo, porque no jornal pode haver
alguém que conheça a minha letra.
- Copiá-lo-ei eu mesmo.
- Adeus.
- Adeus. Se o Caldas treplicar, aparece-me!
- Está dito.
No dia seguinte, o Caldas entrou muito cedo no quarto do Romualdo, com o jornal do Comércio
na mão.
- O bruto replicou! Vais escrever-me a tréplica!
E batendo com as costas da mão no jornal:
- Isto não é dele. Aquilo é incapaz de traçar duas linhas sem quatro asneiras. mas ainda
assim, quem escreveu por ele está longe deter o teu estilo, a tua graça. Anda! Escreve!.
E o Romualdo escreveu.
Durante um mês teve ele a habilidade de alimentar a polêmica, provocando a réplica, para que
não estancasse t
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