Livro: Reliquiae
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Autor - Fonte: Florbela Espanca
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Florbela Espanca
Título dado a este livro por Guido Battelli, que ficou depositário destes originais
após a morte da poetisa. Foi publicado, como apêndice, nas 2ª e 3ª edições de
Charneca em flor.
POBREZINHA
Nas nossas duas sinas tão contrárias
Um pelo outro somos ignorados:
Sou filha de regiões imaginárias,
Tu pisas mundos firmes já pisados.
Trago no olhar visões extraordinárias
De coisas que abracei de olhos fechados. -
Em mim não trago nada, como os párias.
Só tenho os astros, como os deserdados.
E das tuas riquezas e de ti
Nada me deste e eu nada recebi,
Nem o beijo que passa e que consola.
E o meu corpo, minh\\\'alma e coração
Tudo em risos poisei na tua mão!.
.Ah, como é bom um pobre dar esmola!.
ROSEIRA BRAVA
Há nos teus olhos de oiro um tal fulgor
E no teu riso tanta claridade,
Que o lembrar-me de ti é ter saudade
Duma roseira brava toda em flor.
Tuas mãos foram feitas para a dor,
Para os gestos de doçura e piedade;
E os teus beijos de sonho e de ansiedade
São como a alma a arder do próprio amor!
Nasci envolta em trajes de mendiga;
E, ao dares-me o teu amor de maravilha,
Deste-me o manto de oiro de rainha!
Tua irmã. teu amor. e tua amiga.
E também - toda em flor - a tua filha,
Minha roseira brava que é só minha!.
NAVIOS-FANTASMAS
O arabesco fantástico do fumo
Do meu cigarro traça o que disseste,
A azul, no ar; e o que me escreveste,
E tudo o que sonhaste e eu presumo.
Para a minha alma estática e sem rumo,
A lembrança de tudo o que me deste
Passa como o navio que perdeste,
No arabesco fantástico do fumo.
Lá vão! Lá vão! Sem velas e sem mastros,
Têm o brilho rutilante de astros,
Navios-fantasmas, perdem-se a distância!
Vão-me buscar, sem mastros e sem velas,
Noiva-menina, as doidas caravelas,
Ao ignoto País da minha infância.
O MEU SONETO
Em atitudes e em ritmos fleumáticos,
Erguendo as mãos em gestos recolhidos,
Todos os brocados fúlgidos, hieráticos,
Em ti
...
andam bailando os meus sentidos.
E os meus olhos serenos, enigmáticos,
Meninos que na estrada andam perdidos,
Dolorosos, tristíssimos, extáticos,
São letras de poemas nunca lidos.
As magnólias abertas dos meus dedos
São mistérios, são filtros, são enredos
Que pecados d’amor trazem de rastos.
E a minha boca, a rútila manhã,
Na Via Láctea, lírica, pagã,
A rir desfolha as pétalas dos astros!.
NIHIL NOVUM
Na penumbra do pórtico encantado
De Bruges, noutras eras,já vivi;
Vi os templos do Egito com Loti;
Lancei flores, na Índia, ao rio sagrado.
No horizonte de bruma opalizado,
Frente ao Bósforo errei, pensando em ti!
O silêncio dos claustros conheci
Pelos poentes de nácar e brocado.
Mordi as rosas brancas de Ispahan
E o gosto a cinza em todas era igual!
Sempre a charneca bárbara e deserta,
Triste, a florir numa ansiedade vã!
Sempre da vida - o mesmo estranho mal,
E o coração - a mesma chaga aberta!
ÉVORA
Évora! Ruas ermas sob os céus
Cor de violetas roxas. Ruas frades
Pedindo em triste penitência a Deus
Que nos perdoe as míseras vaidades!
Tenho corrido em vão tantas cidades!
E só aqui recordo os beijos teus,
E só aqui eu sinto que são meus
Os sonhos que sonhei noutras idades!
Évora!. O teu olhar. o teu perfil.
Tua boca sinuosa, um mês de Abril
Que o coração no peito me alvoroça!
.Em cada viela o vulto dum fantasma.
E a minha alma soturna escuta e pasma.
E sente-se passar menina-e-moça.
À JANELA DE GARCIA DE REZENDE
Janela antiga sobre a rua plana.
Ilumina-a o luar com o seu clarão.
Dantes, a descansar de luta insana,
Fui, talvez, flor no poético balcão.
Dantes! Da minha glória altiva e ufana,
Talvez. Quem sabe?. Tonto de ilusão,
Meu rude coração de alentejana
Me palpitasse ao luar nesse balcão.
Mística dona, em outras Primaveras,
Em refulgentes horas de outras eras,
Vi passar o cortejo ao sol doirado.
Bandeiras! Pajens! O pendão real!
E na tua mão, vermelha, triunf ...
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