Livro: Adorável forasteira Página 2

... ta do sujeito e tentou esticar as pernas. Ao menos, chegariam em Deadwood naquela noite. Então, ela poderia encontrar Parker, descansar por dois ou três dias e, com um pouco de sorte, estaria de volta a Nova York dentro de menos de duas semanas. Cutucou a perna do passageiro com o joelho. Através do tecido fino de seu vestido, sentiu-lhe os músculos rijos da coxa. Para sua própria surpresa, Amélia corou. Não era o tipo de mulher que corava com facilidade, mas também não estava habituada a ter as pernas enlaçadas com as de um estranho… Um estranho muito atraente. Um estranho de cabelos loiros e ondulados, costeletas e bigode. Os olhos eram azuis. Amélia teve um rápido vislumbre deles, antes que o homem adormecesse. Dispondo de tempo para examiná-lo, chegara à conclusão de que ele não era um sujeito decente. As roupas, apesar de serem de boa qualidade, apresentavam-se amarrotadas. A camisa branca estava aberta no colarinho, onde não havia o menor sinal de uma gravata. Além disso, fazia no mínimo três dias que ele não se barbeava. Como as tentativas anteriores, bastante sutis, não haviam surtido efeito, Amélia pigarreou e disse: — Senhor, poderia fazer a gentileza de encolher um pouco as pernas? Os olhos azuis se abriram. — O que disse? — ele inquiriu, sonolento. Amélia apontou para as pernas coladas às dele. — Não creio que as diligências tenham sido projetadas para proporcionar camas aos passageiros — declarou com frieza. — Preciso de mais espaço. Gabe Hatch passou a mão pelo rosto. Lentamente, endireitou-se no assento. As horas de sono não o haviam livrado da dor de cabeça latejante. Sentiu um gosto ácido na garganta. Quando comera pela última vez? Certamente, não depois de ter começado a beber o uísque horrível do Mad Mule Saloon. Ao entrar na diligência, naquela manhã, sua mente estivera clara o bastante para lhe permitir formar uma idéia sobre seus companheiros de viagem, especialmente sobre a beldade s ...

ntada à sua frente. A julgar pelo vestido de tafetá bem cortado, pelo chapéu elegante e pela arrogância com que ela empinara o nariz, quando ele e Mattie se acomodaram em seus assentos, Gabe concluíra tratar-se de uma sulista mimada. Agora, porém, olhando melhor, Gabe descobriu-se obrigado a reconsiderar. Uma sulista mimada morreria de dor, antes de colar a perna à dele. Uma sulista mimada jamais lhe sustentaria o olhar de maneira tão direta. Foi então que ele notou que aqueles olhos ousados eram de um castanho profundo e aveludado. — Eu não queria acordá-lo, mas passei a maior parte do dia encolhida, sr… Gabe acomodou-se melhor, a fim de proporcionar a ela mais espaço. O movimento provocou-lhe pontadas atrás dos olhos e uma forte náusea. — Gabriel Hatch, madame… ou seria senhorita? Amélia tratou de esticar as pernas depressa e respondeu em tom menos hostil: — Srta. Amélia Jenks Prescott. Ele arregalou os olhos, surpreso. Por um momento, pareceu prestes a dizer algo, mas limitou-se a assentir e murmurar: — É um prazer conhecê-la. — E sorriu. Amélia perdeu o fôlego. O sr. Gabriel Hatch não se parecia em nada com os cavalheiros com quem ela costumava se relacionar, mas, mesmo nos salões mais elegantes de Nova York, aquele sorriso provocaria uma comoção entre o público feminino. Ofereceu um sorriso hesitante em resposta. — Desculpe-me por tê-lo acordado — insistiu. Gabe inclinou-se para ela, até que seus rostos se encontrassem a poucos centímetros um do outro. — Pode me acordar sempre que desejar, srta. Prescott. A frase foi pronunciada em um tom que deixou Amélia sem palavras. E não foi somente o comentário o que a chocou. Quando Gabriel Hatch se aproximou, ela sentiu o odor inconfundível de álcool. Ora, o homem era um bêbado! Amélia reclinou-se no banco, afastando-se o máximo possível e fechando os olhos. Aquele era exatamente o tipo de criatura que ela imaginara que conheceria, quando iniciara ...

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