Livro: Vidas Paralelas Página 2

... comuns eram enterradas em cemitérios pú¬blicos, refletiu Sierra, irritada. Os McKettricks eram sober¬bos, vivos ou mortos. Não se satisfaziam com um mausoléu, como outras grandes famílias. Oh, não! Precisavam de um cemitério só deles, com vista. E que vista! Enfiando as mãos nos bolsos do casaco de algodão, quase tão decrépito como seu carro, Sierra se virou para observar o Triple M Ranch, que se espalhava para cada direção, bem além de onde a vista alcançava. Morros e colinas isoladas de terra vermelha, com uma leve camada de neve. Bosques de majestosos carvalhos brancos bem arranjados ao longo de um regato largo e bri¬lhante. Imensas expansões de pasto e até mesmo um cacto ocasional, uma planta estranha à região alta, um invasor que lá chegara por engano. Como ela. Uma onda de ressentimento subitamente cresceu em Sierra e, em apenas um momento ou dois, reconheceu a emoção pelo que era: não sua própria opinião, mas a de seu falecido pai, Hank Breslin. No que se referia aos McKettri¬cks, Sierra não tinha opiniões realmente próprias, já que não conhecia essas pessoas. Sabia quem eram apenas por sua re¬putação. Adotara o nome deles por uma única razão, fazia parte do acordo. Liam precisava de cuidados médicos, e ela não podia pagar por eles. Eve McKettrick, a mãe biológica de Sierra, estabelecera um fundo financeiro para o tratamento do neto, mas havia condições. Com os McKettricks, ouvia a voz do pai, como se ele estivesse em pé ao lado dela naquele mo¬mento, sempre há condições. — Cale a boca — disse Sierra em voz alta. Estava grata pela ajuda de Eve, e se tinha que adotar o nome McKettrick e viver no Triple M Ranch por um ano para atender às exi¬gências, que fosse. Não tinha mesmo qualquer outro lugar para ir. Resolutamente, aproximou-se da entrada do cemitério e passou sob o arco de metal do portão, com adornos que for¬mavam a palavra "McKettrick" em letras elegantes. Uma es¬tátua em bronze, de t ...

manho natural, de um homem mon¬tado a cavalo, imponente, ombros largos, com uma bandana no pescoço e um revólver na cintura ocupava o centro do pátio. Era Angus McKettrick, o patriarca, o fundador do Tri¬ple M e da dinastia. Sierra sabia muito pouco sobre ele, mas enquanto observava aquele rosto forte, determinado, escul¬pido pelas dificuldades da vida no século XIX, sentiu uma ligação de sangue com ele. Velho bastardo impiedoso, disse a voz de Hank Breslin. Foi daí que todos os McKettricks herdaram sua arrogância. Dele. — Cale a boca — repetiu Sierra, afundando mais as mãos nos bolsos do casaco. Ficou lá em pé, em silêncio, por um longo momento, ouvindo o som irregular do motor da ca¬minhonete, o grito solitário de um pássaro próximo, o rugir do sangue no ouvido. O perfume de pinheiro temperava o ar. Sierra se virou e viu os anjos de mármore que marca¬vam os túmulos das esposas de Angus McKettrick. Geórgia, mãe de Rafe, Kade e Jeb. Concepcion, mãe de Kate. Procure por Holt e Loreley, Eve lhe dissera da última vez que haviam conversado pelo telefone, esse é o nosso ramo da família. Sierra viu outras estátuas de bronze, menores do que a de Angus, mas não menos impressionantes em seus detalhes. Eram trabalhos artísticos, peças de museu, e se não estivessem solidamente presas por cimento, provavelmente teriam sido roubadas. Aquele refinamento e a preservação no lugar am-pliavam o significado da lenda dos McKettrick, ela supunha, o fato de não haver vandalismo neste lugar isolado, visitado apenas pelo vento forte. Jeb McKettrick, o mais jovem dos irmãos, era representado por um caubói com seu revólver de seis balas na mão; sua esposa, Chloe, por uma estátua de mulher esguia em roupas de pioneira, cobrindo os olhos com uma das mãos e sorrindo. Seus filhos, netos, bisnetos e al¬guns tataranetos os cercavam, suas lousas caras colocadas em fileiras arrumadas, como as ruas de uma cidade do Oeste. A seguir, estava Kade McKettr ...

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