Livro: Uma mulher casada Página 2

... a a casa de Malcolm Trevellyan e tirou um casaco do banco de trás do carro. Vestiu-o e atravessou a praça, puxando a gola para cima. Tremia de frio. Mesmo no rigor do inverno, Mendao não era assim c ele pensou com saudades na beleza barroca da quinta, no vale esplêndido em que ela se situava e no azul profundo do mar que banhava o litoral, não muito longe de lá. Achou que teria sido muito mais fácil não ter vindo. Poderia ter mandado Alonso Dias ou João de Almeida. Sua mãe, por um estranho capricho, teimou que ele fizesse a viagem. Com isso, talvez quisesse demonstrar a Malcolm Trevellyan que seu convite era pessoal. O barulho na atmosfera esfumaçada do bar diminuiu quase imediatamente assim que ele abriu a porta. Sentiu uma onda de curiosidade tomar conta da sala e percebeu algo que se avizinhava da hostilidade. Foi até o balcão e ficou parado. Era alto e moreno, mais alto e moreno do que a maior parte daqueles homens. Falando inglês com leve sotaque, indagou: — Por favor, sabe qual o endereço do sr. Malcolm Trevellyan? O dono do bar parou de enxugar um copo, e ele seria capaz de jurar que a hostilidade à sua volta aumentava. — E quem é o senhor? — Meu nome não tem importância e não haverá de querer dizer nada para o senhor. Preciso encontrar-me com o sr. Trevellyan e, como o tempo lá fora está muito feio, achei que talvez. — O povo daqui não gosta de dar informações a estranhos. — comentou um homem à sua direita, com o rosto todo enrugado. Ele fez o possível para se controlar. — Asseguro-lhe que os motivos que me levam a procurar o sr. Trevellyan são perfeitamente respeitáveis. Ele está à minha espera, mas o nevoeiro, dificulta tudo. O dono do bar olhou à sua volta, contemplando aqueles rostos tomados pela curiosidade, e pareceu chegar a uma decisão. — Veio pela estrada de Penzance? — Creio que sim. — Pois então passou pela casa dos Trevellyan. Fica a uns dois quilômetros daqui e dá para o mar. � ...

� Fico-lhe muito grato. Obrigado. Inclinou a cabeça e preparava-se para sair, quando foi barrado por um jovem pescador. — O que há de querer com o velho Trevellyan? — perguntou, com agressividade. — Tem certeza de que não é Rachel quem deseja ver? — Rachel? Acho que não conheço ninguém cora esse nome. — E diz que conhece Malcolm Trevellyan? Como pode conhecê-lo e não conhecer Rachel? — Posso saber quem é Rachel? — Começava a sentir-se pouco à vontade. — Devo dizer-lhe? — perguntou o rapaz, olhando para seus amigos. — Deixe-o em paz, Bart — disse um homem de meia-idade. — Talvez ele tenha vindo a negócios. Quem sabe não conhece mesmo Rachel. — Não, por favor, quero um esclarecimento. Quem é Rachel? — É a mulher dele, é claro! Não sabia? — Devo dizer-!he que não. — Bart! — O homem puxou Bart pela manga. — Deixe isso para lá. Não é assunto que lhe diga respeito. — Não é? Não é mesmo? Você não se importa com o que possa acontecer com Rachel? — Claro que me importo. Ele não se dispôs a ouvir mais nada. Deixou para trás aquele grupo de fisionomias hostis, chegou até a porta e enfrentou o ar gélido. Naquele momento, o frio era um alívio, infinitamente preferível à temperatura abafada do bar. Enquanto caminhava em direção ao carro, não conseguia parar de pensar na informação que acabara de receber. Malcolm Trevellyan era casado! Nunca havia feito a menor menção ao fato. Na correspondência de Trevellyan com sua mãe, jamais havia tocado no assunto. Pelo contrário, lembrava-se dos comentários da mãe referindo-se a Trevellyan como um solteirão convicto. Há quatro anos, quando ela e seu pai visitaram a Inglaterra, ele com certeza não tinha mulher. A sensação de mal-estar aumentou. O que significava tudo aquilo? Será que Trevellyan havia se casado com alguma viúva pelo fato de sentir-se só? E se assim fosse, porque não comunicara a ninguém? Ou esperava que eles sou ...

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