Livro: Catherine Página 3

... spaniel, das boas maneiras, instiladas em tenra idade e reforçadas pelo convívio social, que haviam feito dele um cãozinho civilizado. Gregory assentia com a cabeça, sem prestar atenção, pois não tinha escolha. Enquanto falava, a sra. Pettigrew desembrulhava outro bombom. Tirou um pedacinho pára o cão e colocou o restante na própria boca, sem parar de falar. Com as janelas bloqueadas, só se podia olhar para o chão. Algum dia sua irmã pagaria por isso!, pensou ele e tirou do bolso o relógio de ouro ao mesmo tempo que a sra. Pettigrew olhava o dela, que pendia sobre o amplo busto. - Já estamos perto, sr. Mayfield. Alguém irá esperá-lo? Se não, a carruagem de minha filha o conduzirá ao seu destino. - Não precisa se incomodar, minha senhora. Tenho certeza que alguém estará à minha espera. Era uma mentira necessária. Ele não ofendia as mulheres se pudesse evitar, mesmo as maçantes como a sra. Pettigrew. Esperava nunca mais vê-la depois que chegassem a Hillsboro. Suzanne havia combinado com uma velha amiga de escola, com quem mantinha contato, que Gregory iria passar algum tempo na casa dela onde teria paz e privacidade para recuperar a saúde. Evitar qualquer contato futuro com a sra. Pettigrew era o primeiro passo para esse objetivo. Ele cruzou as mãos sobre o estômago e fechou os olhos. Havia sofrido dois ataques de pneumonia, mas Suzanne só resolvera agir, mesmo, ao saber de suas crescentes indisposições estomacais, depois de qualquer coisa que comesse. Após várias discussões consigo mesma, com o marido e alguns médicos, a irmã o ameaçara dizendo que se teimasse em não obedecê-la iria impedi-lo de ver as crianças, que ele adorava, Maquiavélica, intimidara-o alegando que teria um fim terrível se continuasse a viver como vivia. E ele tivera que ceder. Gregory esperava que a viúva Hill, em cuja casa ia hospedar-se, fosse o oposto da sra. Pettigrew. Seus pensamentos foram interrompidos por um som alto, parecido com uma ...

chicotada, mas era o primeiro de muitos raios que se seguiram, acompanhados por trovões. -- Aí vem um aguaceiro, sr. Mayfield, próprio do nosso clima primaveril. - Espreitando por traz da cortina a sra. Pettigrew acrescentou: - O sol logo voltará. A chuva desabou imediatamente, provando que ela estava certa. O cão choramingou e, passando seu xale ao redor do focinho arrebitado do bichinho, a sra. Pettigrew sussurrou-lhe que a tempestade ia passar logo. Gregory não tinha tanta certeza. Ouvia-se granizos batendo nas bagagens empilhadas no teto da diligência. O caixeiro-viajante remexeu-se e continuou dormindo, roncando alto, o que abafou a voz da sra. Pettigrew. A idéia ficar preso por mais tempo na diligência atolada na lama, com a senhora e o bichinho, fez Gregory estremecer. Se isso acontecesse, percorreria a pé o resto do caminho, apesar da possibilidade de uma recaída da pneumonia. Em busca de segurança apertou o castão de sua bengala, que era de prata de lei. O destino não seria tão cruel! Como que em resposta, a diligência inclinou-se para um lado, fazendo-o rezar com mais fervor para a viagem terminar depressa, antes que a senhora lhe oferecesse bombons para curar o enjôo. Em seguida, a inclinação inverteu de lado, dando impressão que o veículo estava apenas sobre duas rodas. Ele quase caiu do banco. A cesta da senhora esparramou o conteúdo no chão. Um grossa linguiça seca caiu aos pés dele. Potes rolaram. Os latidos do cão juntavam-se aos resmungos da sra. Pettigrew, receosa de que suas provisões se estragassem. Quando Gregory ia pegar um pote sob o assento, ouviu-se um estalido. Ele foi jogado para a frente e evitou a custo cair no colo da senhora. Enquanto se ajeitava, a diligência deu um tranco e parou, inclinada. Os gritos da dama iam além do que ele podia suportar. Saltou para fora e imediatamente ficou ensopado. O cocheiro, Reggie Humbolt, fixou-o. - Aquele bastardo retardado que ajuda o Charlie vai ser demitido por ...

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