Livro: Catherine Página 2

... creditava que a rotina e organização proporcionavam bem-estar às pessoas. Pelo menos, era o que acreditava antes. Onde estava o erro? Em que momento começara a duvidar da vida que havia escolhido e que sua irmã reprovava? Por que deixara de ser feliz? O desengonçado balanço da diligência descendo uma ladeira íngreme fez com que Gregory fechasse os olhos no instante em que a sra. Pettigrew se preparava para outra rodada de perguntas indiscretas. Que o Senhor o poupasse das mamães casamenteiras! Sua fortuna, formada por investimentos inteligentes, fizera Gregory tornar-se alvo principal das jovens casadouras. Os organizadores do Livro Azul de Nova York, que registrava as festas de debutantes do ano, haviam lhe enviado convites em número suficiente para ocupar o tempo de quatro homens. Deixara de comparecer a festas caseiras desde que, por duas vezes, encontrara parceiras indesejadas à sua espera no quarto. A primeira fora uma atraente viúva que não fazia segredo de que o marido dissipara sua fortuna no jogo e a segunda era uma jovem praticamente recém-saída da escola. Nas duas ocasiões retirara-se do quarto e fora tomar uma bebida com os donos da casa, convidando-os para um jogo de bilhar que se prolongara a noite inteira. Ninguém Iria fazê-lo cair na armadilha do casamento. A doença o levara a romper o acordo com a última amante de uma longa lista de discretos relacionamentos. Complicações emocionais não eram para ele. Vira os sonhos de muitos amigos desfeitos depois que haviam sido arrastados ao altar. Suzanne era incapaz de avaliar a sorte que tivera casando-se por amor com um homem decente. Aliás, ele havia afirmado à irmã que se casaria, mas nunca com alguém que tivesse a natureza independente dela, que vivia causando embaraços ao marido interferindo em áreas nas quais as mulheres não se metem. No entanto, não poderia suportar uma senhorita insípida, incapaz de concatenar dois pensamentos e de falar sem consultar a mãe. Alé ...

disso, ainda não encontrara uma mulher que desejasse por companheira, fora da cama, durante mais que algumas horas. Do alto de sua posição privilegiada de única parente viva de Gregory, com exceção do marido e filhos, a irmã o declarava um cínico e dizia que a teimosia seria a ruína dele. Na verdade quando conhecia uma mulher que o interessava, ela acabava por entediá-lo quando começava com mexericos; ele não se interessava em saber por que um comerciante rico, da feira de gado, das ferrovias ou da mineração, comprava títulos de britânicos nobres empobrecidos e com eles tentava atrair maridos para as filhas debutantes. Também não se importava se moças encantadoras formavam-se na Escola de Aperfeiçoamento da Srta. Bidwell para se tornarem noivas na temporada seguinte. Gregory não fazia segredo de que uma mulher, mesmo maravilhosa, perdia o encanto para ele se beleza e procriação fosse tudo que tinha a oferecer. O que despertava seu instinto de caçador era o desafio de realizar bons negócios sob chances quase impossíveis. Suzanne, com fraterna preocupação, reclamava que ele estava obcecado em ganhar dinheiro e que aquela obsessão iria destruí-lo. O orgulho o impedia de admitir que ela poderia estar certa. A tensão dos pensamentos trouxe Gregory de volta à insatisfação em grau ainda mais elevado. Pressionou a mão contra o abdome como se isso pudesse conter as dores agudas que lhe torturavam o estômago. - Está tão pálido, sr. Mayfield! - a sra. Pettigrew inclinou-se para tocar-lhe o braço. Ele abriu os olhos, sentiu a testa suada e secou-a com um lenço que tirou do bolso do colete. - Quer um bombom? - ofereceu ela, solícita. - Posie não se importa em dividi-los. Viu como eles acalmam o meu queridinho? Implorando mentalmente que a senhora não iniciasse outra conversa sobre "seu queridinho", Gregory recusou, bem-educado. Ai dele! Sua esperança foi destroçada quando mais uma vez ela contou a história do nascimento do ...

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