Livro: Dentro da noite
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Autor - Fonte: João do Rio
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MINISTÉRIO DA CULTURA
Fundação Biblioteca Nacional
Departamento Nacional do Livro
João do Rio
Preservai-nos, Senhor,
das coisas terríficas que
andam à noite
Rei Davi
A FELIX PACHECO
Cordíalmente
JOÃO DO RIO
INDICE
Dentro da noite.pag 2
Emoções.pag 5
História de gente alegre.pag 8
O fim de Arsênio Godard.pag 13
Duas criaturas.pag 19
Coração.pag 24
A noiva do som.pag 32
A sensação do passado. .pag 35
Aventura de hotel.pag 40
O monstro.pag 44
O bebê de tarlatana rosa.pag 47
A parada da ilusão.pag 51
Laurinda Belfort.pag 55
A peste.pag 59
Última noite.pag 63
Uma mulher excepcional.pag 67
A mais estranha moléstia.pag 72
O carro da semana santa.pag 78
DENTRO DA NOITE
— Então causou sensação?
—-Tanto mais quanto era inexplicável. Tu amavas a Clotilde, não? Ela, coitadita! parecia
louca por ti, e os pais estavam radiantes de alegria. De repente, súbita transformação. Tu
desapareces, a família fecha os salões como se estivesse de luto pesado. Clotilde chora. Evidentemente
havia um mistério, uma dessas coisas capazes de fazer os espíritos imaginosos
arquitetarem dramas horrendos. Por felicidade, o juizo geral é contra o teu procedimento.
— Contra mim?
Podia ser contra a pureza da Clotilde. Graças aos deuses, porém, é contra ti. Eu mesmo
concordaria com o Prates que te chama velhaco, se não viesse encontrar o nosso Rodolfo, agora,
onze da noite, por tamanha intempérie metido num trem de subúrbio, com o ar desvairado.
— Eu tenho o ar desvairado?
— Absolutamente desvairado.
— Vê-se?
— É claro. Pobre amigo! Então, sofreste muito? Conta lá. Estás pálido, suando apesar da
temperatura fria, e com um olhar tão estranho, tão esquisito. Parece que bebeste e que choraste.
Conta lá. Nunca pensei encontrar o Rodolfo Queiroz, o mais elegante artista desta terra, nem trem
de subúrbio, às onze de uma noite de temporal. É curioso. Ocultas os pesares nas matas
suburbanas? Estás a f
...
zer passeios de vício perigoso?
O trem rasgara a treva num silvo alanhante, e de novo cavalava sobre os trilhos. Um sino
enorme ia com ele badalando, e pelas portinholas do vagão viam-se, a marginar a estrada, as luzes
das casas ainda abertas, os silvedos empapados d’água e a chuva lastimável a tecer o seu infindável
véu de lágrimas. Percebi então que o sujeito gordo da banqueta próxima — o que falava mais —
dizia para o outro:
— Mas como tremes, criatura de Deus! Estás doente?
O outro sorriu desanimado.
— Não; estou nervoso, estou com a maldita crise. E como o gordo esperasse:
— Oh! meu caro, o Prates tem razão! E teve razão a família de Clotilde e tens razão tu cujo
olhar é de assustada piedade. Sou um miserável desvairado, sou um infame desgraçado.
— Mas que é isto, Rodolfo?
— Que é isto! E’ o fim, meu bom amigo, é o meu fim. Não ha quem não tenha o seu vício, a
sua tara, a sua brecha. Eu tenho um vício que é positivamente a loucura. Luto, resisto, grito, debatome,
não quero, não quero, mas o vício vem vindo a rir, toma-me a mão, faz-me inconsciente,
apodera-se de mim. Estou com a crise. Lembras-te da Jeanne Dambreuil quando se picava com
morfina? Lembras-te do João Guedes quando nos convidava para as fumeries1 de ópio? Sabiam
ambos que acabavam a vida e não podiam resistir. Eu quero resistir e não posso. Estás a conversar
com um homem que se sente doido.
— Tomas morfina, agora? Foi o desgosto decerto.
1 Casas onde se fumava ópio.
O rapaz que tinha o olhar desvairado perscrutou o vagão. Não havia ninguém mais — a não
ser eu, e eu dormia profundamente. Ele então aproximou-se do sujeito gordo, numa ânsia de
explicações.
— Foi de repente, Justino. Nunca pensei! Eu era um homem regular, de bons instintos, com
uma família honesta. Ia casar com a Clotilde, ser de bondade a que amava perdidamente. E uma
noite estávamos no baile das Praxedes, quando a Clotilde apareceu decota ...
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Comentários:
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