Livro: Prisioneiro do destino Página 3

... um merecido repouso, já que se encontra presa nestes limites doentes e enfraquecidos. — Oh, Edith… Dói tanto assim? — Eada colocou as mãos macias sobre as da senhora, sentindo-as frias e extremamente enrugadas. — Chego a gemer por causa da força das dores, pela manhã e fico imaginando por que Deus seria tão cruel a ponto de me manter por mais tempo aqui, ou, então, que mal tão grande fiz na vida para suportar tamanho castigo… Ele parece estar bastante zangado comigo, pois me força sempre a viver mais um dia. Minha menina querida, não acredito que queira que meu sofrimento prossiga ainda por mais tempo. — Não se trata disso. Quero que seu sofrimento acabe, mas sei que vou sentir muito a sua falta. — Também eu a sua, meu amor. E essa é minha única tristeza. Mas… como vai sua família? — Estão todos bem. Meu pai é que… Bem, ele seguiu para lutar ao lado do rei Haroldo, contra Harald Hardrada e Tostig. A velha senhora meneou a cabeça, parecendo pensativa. — Seu pai nada vai ganhar tendo optado pelo gosto frio e amargo da espada, filha. Eada sentiu um arrepio percorrer-lhe o corpo e passou os braços em torno de si mesma. Em todos os anos desde que vira Edith pela primeira vez, nunca se acostumara à forma misteriosa que a mulher demonstrava quando falava de alguma coisa que conseguia prever. Era como se apenas ela pudesse ver o que nenhum outro mortal podia. E o fato de suas previsões geralmente estarem certas, só acrescentavam mais desconforto a sua já pobre vida. E Eada quase conseguia compreender porque o povo de Pevensey expulsara a mulher da aldeia. — Meu pai procura recuperar tudo que perdeu, caindo nas graças do rei Haroldo — tentou explicar. Um sorriso solidário, mas triste, apareceu nos lábios murchos de Edith. — Eu sei, mas ele não vai conseguir. O sol que ilumina o rei Haroldo já se pôs. E ele está caminhando para um destino que jamais poderá ser seu. Sinto muito, menina, mas Haroldo irá mata ...

seu pai, bem como ao rei. Não tem visto aquele clarão no céu, ultimamente? Eada assentiu muito de leve, tentando afastar o tremor que se apoderava de todos os seus nervos. O clarão no céu era comentado por todos. O medo que o fenômeno provocara nas pessoas parecia estar no ar. Todos tinham certeza de que era um presságio. Só não tinham certeza sobre seu significado, nem como deviam interpretá-lo. Havia muitas teorias, cada uma delas com seus seguidores. A única coisa de que Eada tinha certeza era que não gostava daquele sinal e rezava todos os dias para que ele não significasse nada em especial. — Somente os cegos não viram o clarão — murmurou. — Mas até mesmo eles devem ter uma idéia do que pode significar, porque todo o mundo comenta… Na verdade, esse é o único assunto que se ouve hoje em dia. Edith assentiu gravemente. — E todos os homens, mulheres e crianças, escravos ou libertos, imaginaram o que seria. Acho que até os mais duros de coração se ajoelharam e ergueram preces ao bom Deus pedindo ajuda e esclarecimento. — Edith, o que você acha que esse clarão significa? — Havia receio na pergunta, pois Eada sabia que não poderia ignorar ou deixar de lado qualquer coisa que a sabedoria daquela mulher lhe dissesse. — Minha pobre criança! Quer saber a verdade, mas a teme ao mesmo tempo, não é? E eu bem sei que há motivos para se ter medo; mas não deixe que esse sentimento roube seu bom senso e sua força. — Suas palavras me deixam ainda mais apavorada do que o clarão… — Oh, mas nunca tema a verdade! A ignorância é a maior ameaça de todas. O que você viu no céu foi o breve reinado de Haroldo sendo engolido palas chamas do destino. Cavalgando no astro luminoso do fogo que cortou o céu, está um novo rei, um normando, que acabará com a dominação saxô-nica nesta terra. — Guilherme, o Bastardo… — Eada sussurrou. — Seria melhor parar de pensar nele dessa forma, criança. — Um sorriso amáve ...

Comentários:

Deixe aqui seu comentário sobre este livro: