Livro: Amor sem compromisso - Daphne Clair

... A garota abraçava e beijava Russ com a graça e a espontaneidade de seus dezoito anos. Os dois estavam tão perdidos em sua felicidade que não notaram a presença patética de Stella, que os observava a pouca distância, a expressão consternada, os gestos contidos pela surpresa. Ela gostaria de arrancar um dos braços do outro, gritar, fazer um escândalo. No entanto, afastou-se lentamente, sentindo como nunca o peso de seus vinte e nove anos. Não havia sido ela que quisera parecer uma mulher moderna e liberada, propondo a Russ uma relação sem compromissos? Ela mesma havia precipitado aquela situação, e agora não suportava o peso de tanto sofrimento. Digitalizado por: Valéria O. Revisado por: Simoninha Amor sem compromisso “Take hold of tomorrow” Daphne Clair CAPÍTULO I A brisa suave da manhã e os reflexos da luz do sol nas águas do porto de Waitemata prome¬tiam um daqueles dias tranquilos e resplandecentes que desper¬tam o bom humor nas pessoas. Em High Street, porém, a agitação anunciava mais um dia de trabalho e o grande número de pessoas que passava por ali nem parecia reparar no céu totalmente azul e sem nuvens. Ca¬minhavam apressadas para o escritório, ou para a Universidade de Auckland, que ficava nas redondezas e era uma das mais conceituadas da Nova Zelândia. Stella Rawson parou diante da entrada de um dos prédios, olhando para a outra extremidade da rua. Bastaria caminhar mais alguns quarteirões, em direção à Queen Street, para sentir a brisa do mar e vislumbrar uma parte do porto. Era uma pena não poder aproveitar a beleza daquela manhã. Fazia tanto tempo que não se distraía um pouco. Desde a morte de Mark, há dois anos, que não fazia outra coisa senão mergulhar no trabalho, incansável. Suspirou, resignada, e empurrou a porta giratória de entrada do Rawson Building. June, sua secretária particular, estava abrindo a correspon¬dência e sorriu ao vê-la. — Bom dia, sra. Rawson. O ...

sr. Armstrong está esperando pela senhora. — Obrigada, June. Pode trazer as cartas quando estiverem em ordem. Owen Armstrong estava em pé diante da janela, observando os vários andares do estacionamento de carros que ficava em frente. Entre um pavimento e outro era possível ver a agitação no porto de Waitemata, e o assessor de Stella parecia distraído com o cenário. Não era o tipo de homem que se preocupava com o que vestir. Sua aparência naquela manhã era uma prova disso: usava um terno marrom e camisa azul, a gravata destoava totalmente do resto da roupa e, como sempre, estava torta. Ao ouvir o ruído da porta, ele se virou. — Bom dia, Owen. Chegou cedo, hein?—Mais uma vez, Stella ficou espantada por alguém conseguir usar uma gravata de tanto mau gosto. Desviou os olhos daquele colorido berrante, esforçan¬do-se para não rir. — Você é que está atrasada — ele replicou ternamente. — Atrasada? São nove horas! — E dois minutos — Owen insistiu, apontando para o relógio na parede. Ela riu e sentou-se, arrumando suas coisas sobre a escri¬vaninha. — A que horas vai chegar nosso novo funcionário? — Owen perguntou, enquanto ocupava uma das grandes poltronas de cou¬ro em frente à mesa. — Pedi que estivesse aqui às nove e quinze. Quer ler de novo o currículo dele? — Não, não é necessário. Posso me lembrar muito bem do garoto prodígio. Surpresa com o tom irônico, Stella levantou os olhos. — O que houve? Está querendo me dizer alguma coisa, Owen? — Não, não, tudo bem. Afinal, o rapaz disputou a vaga com outros dez candidatos e a conseguiu, não foi? Alguns tinham excelentes referências e muita experiência. mas, se não fosse sua interferência, Stella, a diretoria não teria escolhido Russ Langford. Para falar a verdade. — Owen tossiu e recostou-se melhor na poltrona, sem saber como continuar. — Termine o que estava dizendo, Owen. — Stella estava co¬meçando a ficar irritada com os rodeios do ...

Comentários:

Deixe aqui seu comentário sobre este livro: