Livro: O grande prêmio do amor Página 4

... ra descobrir que a severidade dele não passava de uma máscara para encobrir a timidez. Por isso, sempre que ia a uma pista de corrida, aproveitava para ficar em sua companhia por algum tempo. Poucas semanas depois de tê-lo conhecido, Rick comentara sorrindo que ela conquistara o sisudo mecânico. E com o correr do tempo Carla e Steve haviam se tornado amigos íntimos e dedicados, fato que contribuiu para que a separação fosse mais dolorosa. Agora, a caminho do hospital, viam-se numa correria louca pelas ruas quase desertas da cidade. "A situação tem um toque de humor negro", pensou Carla, com amargura. Não deixaria de ser engraçado se sofressem um acidente naquela hora em que ia ao encontro de Rick, o famoso piloto de corridas. O automóvel em que seguia ladeado pelo batedor de polícia, estacionou diante do hospital e Carla desceu apressada em direção à entrada de emergência. Antes de alcançar a porta, foi interceptada por dois repórteres. — Sra. Carla Fleming, a senhora concorda que todo piloto de corridas tem um desejo inconsciente de morrer? — perguntou um deles, o mais jovem. — Foi por isso que a senhora se separou dele há três anos? — quis saber o mais velho. — Por favor, deixem-me passar — implorou, cobrindo o rosto para se proteger contra os flashes da máquina fotográfica. — Conte Sra. Fleming, o que sente ao saber que seu marido está lá dentro às portas da morte? — insistiu o primeiro. Steve interferiu, empurrando os repórteres e levando-a embora. Em questão de segundos já percorriam os corredores que levavam à UTI. Ao se aproximarem de lá, a primeira coisa que chamou a atenção dela foi o cheiro, pavorosamente familiar, como se o tivesse sentido na véspera e não quatro anos antes. Encontrava-se agora no centro do prédio enorme, numa área sem janelas, absolutamente esterilizada, e onde todos falavam e sorriam de uma forma diferente. Bem no meio, rodeada pelos aparelhos milagrosos da era eletrônica, ...

enfermeira-chefe controlava os pacientes numa série de quartos atrás da parede de vidro. Alarmada, Carla percebeu que um deles estava com as cortinas fechadas, de maneira que só a enfermeira, através dos aparelhos, podia observar o que se passava lá. Seu coração bateu descompassado, enquanto aconchegava mais a malha de cashmere e apressava o passo. Tinha certeza de que aquele quarto era o de Rick, que só podia estar muito ferido ou, então, morto. Abafou um soluço, provocado pelo medo de ter chegado tarde demais, e correu para a porta. Rick não devia nem podia morrer pensando que ela não o amava. A enfermeira que estava sentada ao lado da cama levantou-se, e Carla se aproximou. Haviam erguido as grades de cromo e atrás delas jazia Rick num emaranhado de tubos. Respirava ainda, constatou soluçando, mas apresentava uma palidez mortal. Os cílios negros e longos e as sobrancelhas bem arqueadas pareciam feitos a carvão num boneco de neve. Ela estendeu a mão trêmula e tocou de leve a face ferida. Como por encanto, os anos de separação desapareceram. Não era mais possível negar o amor que os unia e que agora lhe dava forças para sorrir. Carla debruçou-se sobre a grade e beijou-o na testa, vendo-o abrir os olhos vagarosamente. — Oi, meu anjo — murmurou Rick, com naturalidade, como se houvessem se separado na véspera. — Eu sabia que você vinha. Ela teve que se curvar mais para ouvir as palavras, pronunciadas com esforço. Queria também que ele a visse e percebesse que continuava a amá-lo com toda intensidade. — Eu te amo, Rick. Se você morrer, minha alma e meu coração partirão junto, para lhe fazer companhia. — Fique comigo, Carla. . . Era desesperador presenciar o esforço que aquele homem forte tinha de fazer para murmurar umas poucas palavras. Pensou em colocar os dedos nos lábios dele, para que não gastasse as energias, mas, ao mesmo tempo, ansiava por ouvir aquela voz querida enquanto fosse possível. Seria mais um ...

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