Livro: Conflito - Helen Bianchin Página 2

... negável sensualidade. Ainda que oculto por um terno muito caro, seu corpo denotava uma espécie de força selvagem que intimidava qualquer pessoa. — Acho que está na hora de ir embora. Mara virou-se imediatamente, ao ouvir a voz de sua mãe. — Pode ir que eu vou em seguida — retrucou, tendo tomado uma súbita decisão. — Antes de sair, preciso resolver umas coisas. Minutos depois, ela surpreendeu-se com sua própria coragem, ao defrontar-se com o homem que comprara toda a sua felicidade. — Sr. Saval. — Pois não — respondeu ele, com um ar de respeito formai. — Talvez você não saiba quem sou eu. — continuou Mara preparando seu ataque. — Claro que sei. Você é a filha de Blair Adams — retrucou ele, com um sorriso cheio de cinismo, mas sem perder a formalidade. — Pois eu gostaria de saber o que você veio fazer aqui — inquiriu Mara, com os olhos verdes molhados de ódio. — Talvez não tenha resistido à possibilidade de se divertir com a desgraça alheia. — Eu vim apenas a um leilão — contestou Rafael, com a mesma indolência e indiferença. — Seria um crime participar de leilões? — Você nem fez ofertas. — Mas havia um advogado fazendo isso por mim. Rafael respondeu com a mesma indiferença de quem dá uma sim¬ples informação. A agressividade de Mara parecia-lhe tão insignificante como uma mosca insistente. — Você já não é dono de propriedades demais? — perguntou ela, com os olhos reluzentes de ódio. — Então, por que comprar também esta casa? Não seria para jogar sal na nossa ferida? — Você tem alguma denúncia a fazer? — contestou Rafael, com a voz demasiadamente controlada. — Se tiver, nada a impede de contratar um advogado. — Esta casa — retorquiu Mara, explosivamente — era tudo o que minha mãe tinha. Ela passou sua vida aqui e agora vai ser forçada a deixar tudo isso para trás. Será uma mudança violenta demais para uma pobre. — Pois conte com a minha compreensão. ...

�� Ora, às favas com a sua compreensão! — retrucou Mara, ante a insistente indiferença de Rafael. — Você é culpado da morte de meu pai! — Não tenho qualquer responsabilidade na morte de seu pai, senhorita — respondeu ele, com olhos tão endurecidos que Mara sentiu um calafrio. — Claro, não diretamente — replicou ela recuperando-se do medo. — Só Deus sabe como eu odeio você! Felizmente minha mãe não o reconheceu, na multidão. Ela não teria suportado uma tal humilhação! — Bom, simplesmente não vejo motivo para esta discussão. — Como se atreve a dizer isso, depois de tudo o que fez? — Deixando de lado sua histeria, quem sabe você poderia me explicar os motivos? — replicou Rafael, friamente. — Caso contrário, posso me prevenir judicialmente contra as suas calúnias. Seria desa¬gradável para. — Seu desgraçado! — grilou Mara, não se contendo. — Mais alguma coisa, senhorita? Agora, Rafael parecia à beira da explosão. Mas Mara não se deu por vencida. — Não tenho medo de você. Ao contrário, sinto pena de uma pessoa assim rica e tão solitária, que não tem compaixão nem inte¬gridade. Só espero que não esteja ensinando o. mesmo estilo de vida para a sua filhinha! Coitadinha! Imagino que esteja rodeada de babás e empregadas, quase sem chance de ver o pai, a não ser quando sobra algum tempinho. — A senhorita parece estar metendo o nariz onde não é da sua conta. — Pois isso é pouco. Se pudesse fazer alguma coisa para prejudi¬car você, eu não hesitaria um instante sequer! — Poxa! Estou morrendo de medo. — replicou ele, com um sorriso insuportavelmente sarcástico. Mara não agüentou. Antes que pudesse se dar conta do que estava fazendo, esbofeteou o rosto de Rafael e um ruído áspero ecoou pelo salão vazio. De início, os olhos dele lançaram chamas de ódio, para logo a seguir se mascararem novamente com indiferença. — Sente-se melhor agora, senhorita? Mara tentou se recompor, ...

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