Livro: Além da promessa Página 3

... am escadaria abaixo e atravessaram as portas duplas que levavam ao lugar onde o pai e a mãe as aguardavam, outra sala esplendidamente mobiliada. O pai sempre fora um senhor rural trabalhador e soberbamente bem vestido, mas agora se trajava feito um nobre, apto a rivalizar-se com os cortesões espanhóis que tinham acompanhado o marido da agonizante rainha Mary, Felipe da Espanha. Sua esposa, contudo, ainda se vestia da maneira simples de antes. Agnes Jermaine era uma mulher modesta que preferia a vida calma do campo às honras que agora tentava apreciar. Recusava-se a usar os trajes apertados e extremamente ornamentados que estavam na moda. Tudo isso estava para mudar, pois parte das novidades que John Jermaine queria contar era que a rainha havia decretado que não se poupariam despesas em sua coroação. — Ela quer que o mundo inteiro saiba que nossa corte é capaz de se rivalizar em esplendor a qualquer outra — ele contou em tom grave. — É o que diz Cas-tleford, e ele tem muito prestígio junto a nova rainha. Nosso traje deve estar à altura de seus desejos, e o mesmo é válido pra você, minha querida — ele disse, dirigindo-se à esposa. — A outra novidade que tenho a contar é que a nova rainha indicará a srta. Mary Jer-maine e a srta. Penelope Jermaine como duas de suas novas damas de companhia. Penelope encarou o pai. Não, isso não podia ser verdade. Não tinha o menor desejo de ser dama de companhia da rainha. Não podia imaginar posição menos atraente em toda corte, exceto a de criada de cozinha! Pensando bem, talvez até preferisse ser uma. Mary retrucou, cheia de inveja: — Por que razão ela também indicaria Penelope? O pai sorriu. — Também mal acredito nisso. Uma de suas damas a deixou por uma razão qualquer, casamento talvez, e Castleford sugeriu o nome de Penelope já que, de certo modo, ela fará parte de sua família. Está tão quieta, Penelope! Não tem palavras para expressar o prazer de receber tamanha honra, expre ...

sar a gratidão pelo que seu futuro irmão fez por você? Sorte nossa que ela não se importe com o triste fato de ele ainda apreciar a religião católica. — Não, sim — gaguejou Penelope, ciente do olhar de inveja de Mary e da expressão de desapontamento da mãe por sua falta de entusiasmo com aquela inesperada ascensão. Tinha sido abandonada até pela mãe. Não haveria mais conversas escondidas sobre como elas sentiam saudades da antiga vida no campo. — Mas também tenho notícias nada agradáveis — John Jermaine anunciou solenemente, soando tal qual o mordomo. — Infelizmente, recebi notícias de meu bom amigo, Niçholas Grantly. O grupo de seu filho, Harry, chegou a Dover dias atrás e enviou-lhe uma carta informando que o rapaz morreu na Itália de "febre romana", mas que seus dois companheiros, os srs. Oliver Woodville e Bevis Frampton, gozam de boa saúde. Penelope não pôde evitar dizer: — Oliver ficará desapontado quando souber que Mary se casará com Lorde Castleford. Afinal, eles haviam trocado alianças antes que ele partisse. Mary deu um grande suspiro enquanto o pai dizia, repreensi vãmente: — Brincadeira de crianças, minha querida, brincadeira de crianças. Tenho certeza de que o Senhor Woodville compreenderá. Espero que não seja tola a ponto de tocar nesse assunto quando o vir, embora eu acredite que seja improvável que isso aconteça já que você fará parte da corte da rainha Elizabeth. Claro que o pai aprovaria o casamento proposto a Mary, não fora ele mesmo quem o arranjara? Mary estava certa, estava sendo infantil por acreditar que, no mundo em que viviam agora, coisas como honra, dever e comprometimento fossem de extrema importância. No entanto, qualquer que fosse o custo, ela, Penelope Jermaine, tentaria viver de acordo com os preceitos que a Bíblia e que o pastor, nos sermões de domingo, haviam lhe incutido. OLIVER Woodville suspirou profundamente. Estava no cais do porto de Dover observando as bagage ...

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