Livro: Anjo Vingador Página 2

... smitir a falsa, impressão de casual simplicidade, num misto de inocência e sedução, E tudo isso com um único intuito: cativar Paul. Celeste notou que a matrona no camarote ao lado estava literalmente bufando. Pelo visto, seus cuidadosos preparativos já começavam a dar resultados, ela pensou com um meio sorriso. — Não tolerarei isso! Prometa-me que não se dirigirá mais a essa criatura! — a outra exigia, cravando um olhar ameaçador no marido. — Mas, querida, esta semana nós a vimos todas as noites. Seria descortês ignorá-la. Ademais, o velho barão de Lansac levou-a à soirée de madame de Marsan pouco antes do Natal. — Bah! O barão está senil! Agora responda se for capaz: de onde surgiu essa mulher, hein? O Ano Novo já vai longe e quem é que sabe alguma coisa sobre o passado dela? A despeito disso, faz questão de cumprimentá-la em público! No mínimo, agora espera que eu a acolha em meu salão! A viúva Valvert, uma criatura sem eira nem beira! — a matrona exclamou sem esconder seu desdém. — Eu me pergunto se ela sequer teve um marido. Não que Paul de Beaufort pareça se importar com tais pormenores éticos. O sujeito simplesmente. — Modere suas palavras! Ela pode ouvi-la. — sussurrou-lhe o marido, puxando-a para o canto. Aposto que essa matrona quis que eu ouvisse cada uma de suas palavras!, Celeste pensou com seus botões. Agastada, cerrou parcialmente as cortinas de seu camarote para se pôr a salvo de outros comentários maldosos. Em seus vinte e três anos de vida, jamais conhecera maior crueldade que a destilada pelas línguas venenosas da sociedade parisiense. Ela deu um suspiro. No dia seguinte, os insultos daquela pobre matrona lhe pareceriam elogios se comparados aos mexericos que ainda haveriam de circular na cidade. Celeste voltou-se para o criado que a aguardava à porta do balcão. — Está tudo pronto, Joseph? — Sim, madame. A carruagem ficará à sua espera na entrada lateral da Ópera. — E quanto ...

� estalagem? — Pierre ainda não regressou, madame. Mas não tardará a aparecer para confirmar os arranjos que fez. Crispando as mãos, ela começou a andar de um lado para outro. Por fim concluiu que de nada lhe adiantaria sofrer por antecipação e deixou-se cair em uma cadeira. Todavia, os detalhes de seu plano continuaram a martelar-lhe o espírito. Preparativos. Detalhes. Incertezas. — O menu! — lembrou-se de súbito. — Pierre levou consigo o cardápio que preparei? Monsieur de Beaufort. — Acalme-se, madame Valvert. A ceia será servida conforme suas instruções, com os pratos preferidos do cavalheiro. — Tudo tem que sair perfeito. — Sim, madame. Fique tranqüila quanto a isso. Celeste perscrutou o rosto do criado. Joseph era acima de tudo leal e eficiente. Como a maioria dos serviçais que havia encontrado na breve estada na Cidade-Luz, ele naturalmente cobrava um preço por sua fidelidade. Ainda assim, era um homem já entrado nos anos e sabia proceder com sapiência e compreensão. Ela relaxou um pouco. Riu baixinho. — Quantos encontros amorosos arranjou para seus antigos patrões? Joseph sorriu polidamente. — Meus lábios estão selados, madame.— Ele fez uma mesura. — Há algo mais em que lhe possa ser útil? — Bem, o champanhe já foi providenciado? — Sim. Um garçom virá trazê-lo antes do intervalo, conforme a senhora pediu. Agora desfrute o espetáculo. Eu me encarregarei do resto. Joseph tornou a se curvar e deixou-a sozinha com seus pensamentos. Os músicos iam chegando e começavam a afinar os instrumentos, numa confusa balbúrdia que misturava a estridência dos violinos à aspereza dos metais e aos graves lamentos dos oboés. Um clarinetista pôs-se a ensaiar um arpejo enquanto um harpista tirava límpidas notas de seu instrumento. A massa de sons adensava-se um crescendo, preenchia todos os espaços do vasto teatro e criava uma atmosfera geral de expectativa. Celeste ficou ainda mais impaciente. O olha ...

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