Livro: Um reino de sonhos Página 2

... o sacerdote -ordenou Lorde Balfour. Jennifer enguliu com dificuldade e tentou afugentar de sua mente qualquer pensamento de sacrifícios potenciais. «Deus meu- rogou em silêncio-. Por que me fazeis isto? Não ides permitir que isto me aconteça, não é verdade? » Se abriram as portas e no grande salão se fez o silêncio. « Sim, Jennifer, o permitirei» A multidão se apartou para deixar passar o sacerdote e Jennifer teve a sensação de que sua vida acabava naquele momento. Seu noivo se adiantou e se situou a seu lado, e Jennifer não pôde evitar afastar-se um pouco, ressentida e humilhada por ter que suportar sua proximidade. Se ela tivesse sabido que um ato descuidado podia terminar em tanto desastre e tanta desgraça. Se não tivesse sido tão impulsiva e imprudente! Jennifer fechou os olhos e tentou esquecer os rostos hostis dos ingleses e os olhares sanguinários de seus parentes escoceses e, no fundo de seu coração, enfrentou a aterradora verdade: a impulsividade e a imprudência, seus dois maiores defeitos, os mesmos que a induziram a cometer suas mais desastrosas estupidezes, tinham-na conduzido à situação em que se encontrava. Aqueles mesmos defeitos que, combinados com o desesperado anseio de obter o carinho de seu pai, que amava mais a seus enteados, foram os responsáveis pelo fracasso de sua vida. Quando tinha quinze anos, esses dois defeitos a induziram a tratar de vingar-se de seu astuto e desprezível meio-irmão da forma que lhe pareceu mais correta e honrrada, que conseguiu em pôr-se secretamente a armadura de Merrick e depois enfrentar-se a ele no torneio. Aquela estupidez foi merecedora de uma boa surra por parte de seu pai, ali mesmo, no campo de honra, e só lhe proporcionou a minúscula satisfação de ter derrubado limpamente do cavalo a seu malvado meio-irmão. O ano anterior, esses mesmos rasgos de seu caráter lhe tinham feito comportar-se de tal forma que o velho Lorde Balder retirou a solicitação de petição d ...

sua mão e, ao fazê-lo, destruiu o mais querido sonho de seu pai, que consistia em unir às duas famílias. Devido a isso a confinaram na abadia de Belkirk onde, sete semanas atrás, tinha sido presa fácil das patrulhas do Lobo Negro. E agora, devido a tudo isso, via-se obrigada a casar-se com seu inimigo, um brutal guerreiro inglês cujos exércitos oprimiam a seu país, um homem que a tinha feito prisioneira, e depois de arrebatar-lhe sua virgindade, tinha destruído sua reputação. Mas já era demasiado tarde para preces e promessas. Seu destino ficou selado no momento em que sete semanas antes se viu arrojada aos pés desta arrogante besta que agora se encontrava a seu lado, oferecida como uma perdiz em dia de festa. Jennifer sentiu que lhe faltava o ar. Não, antes de que isso sucedesse ela mesma preparou o caminho que a conduziu para o desastre quando, esse mesmo dia, fez caso omisso das advertências sobre a cercania dos exércitos do Lobo Negro. Mas por que teria que ter feito caso daquelas advertências?, perguntou-se Jennifer em defesa própria. \\"¡O Lobo marcha contra nós!\\" era o grito aterrorizador que durante os últimos cinco anos se tinha escutado quase toda semana. Esse dia que fazia sete semanas, no entanto, o grito escondia uma terrível verdade. Todos os presentes no salão se moveram inquietos e voltaram a mirar o sacerdote. Mas Jennifer se encontrava perdida em suas recordações daquele dia. A manhã era imesuravelmente bonita, o céu de um azul alegre e soprava uma brisa balsámica. O sol brilhava sobre a abadia banhando com sua luz dourada as agulhas góticas e os graciosos arcos. O sonolento e pequeno povo de Belkirk, se orgulhava de ter uma abadia, duas lojas, trinta e quatro sítios e um poço comunal de pedra onde os aldeãos se reuniam os domingos pela tarde, como fizeram então. Sobre uma colina longínqua, um pastor cuidava de seu rebanho, e num claro, não muito longe do poço, Jennifer jogava à cabra cega com os ...

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