Livro: Cenário de uma paixão Página 3

... do os atores terminaram de ler a cena, ele levantou-se da cadeira. — Bem, ainda temos muito trabalho pela frente. Mas vamos reiniciar a leitura deste pedaço. Vejamos a cena final do primeiro ato. Lá do fundo do teatro, Rachel observava o diretor instruir o elenco sobre a cena final. O ator principal, na opinião dela, era ótimo; exatamente o tipo de homem que imaginara para interpretar David Hamilton. Maureen Dench, no entanto, era um desastre, atriz, além de fisicamente diferente da personagem imaginada, interpretava sem ênfase e sem brilho. O que teria feito Michael Hawkins escolhê-la para o papel? E por que ele teria ignorado a descrição que ela fizera da personagem? Enquanto pensava sobre isso, voltou a observar o diretor. Ele era moreno e alto; bonito de uma maneira incomum. Seus cabelos negros eram espessos, o rosto possuía traços fortes e o corpo, embora magro, transmitia muita energia. Apesar de não poder distinguir muito bem os traços de seu rosto, Rachel estava certa de que não eram suas características físicas que o faziam sobressair no palco. Ele tinha um ar de comando, de determinação e ambição fora do comum. A força que aquele homem demonstrava podia ser sentida mesmo à distância. Chegou a sentir pena de alguém que fosse ingênuo o suficiente para entrar em conflito com ele. Michael Hawkins não parecia ser o tipo de homem que gostasse de perder. Enquanto prosseguiam com o ensaio, Rachel passou a observar melhor o resto do elenco. Excetuando-se Maureen Dench, estava completamente de acordo com a escolha do diretor. Ficou impressionada com o ar arrogante de Geoffrey Beton. Mas, lembrando-se de que o egocentrismo era uma das características do personagem, achou-o perfeito para o papel. Reparando na figura alta e imponente de Ethel Findon, ela perguntou-se se a grande dama do teatro ainda se lembraria de ter sido apresentada a uma garotinha tímida e desajeitada, de apenas dez anos de idade, há dezoito anos. Era bastan ...

e improvável, já que, na época, Rachel não passava de uma menina órfã, que ainda não se havia acostumado ao novo continente e ao modo de vida de seus tios, os Baylor. Além do mais, todas as atenções na época estavam voltadas para sua prima Valerie, o famoso tio Lawrence e a linda e talentosa tia Pamela. Em meio à célebre família Baylor, dificilmente Ethel se lembraria dela. Movimentos à esquerda do palco chamaram sua atenção, e ela pôde ver um homem e uma mulher saindo da coxia. A mulher era baixa, gorducha, de uns quarenta e poucos anos. Apontava para a parte de trás do palco, num gesto abrangente. Seus movimentos eram rápidos e seguros. Com toda certeza, tratava-se de June Corbett, a cenógrafa. Haviam conversado várias vezes pelo telefone, quando Rachel ainda estava em Phoenix. Hoje, finalmente, se encontrariam pela primeira vez. Voltou a concentrar-se nos atores que recomeçavam a leitura do texto. Ela não precisava de script, pois sabia de cor cada palavra e cada detalhe. A cena em questão era a número 5, do 1º ato; onde as duas personagens principais, Anna Caulfield e David Hamilton defrontavam-se pela primeira vez, num encontro explosivo que dava um final emocionante ao primeiro ato. Sem perceber, Rachel inclinou o corpo para frente, prestando a máxima atenção. A representação estava errada. Esperara que com o desenrolar da cena ela melhorasse mas, ao contrário, foi piorando cada vez mais. Aquele era o primeiro ensaio, porém, com as constantes interrupções e sugestões de Michael Hawkins, o significado do encontro fora dramaticamente mudado. Em vez de confusa e amedrontada, pelo comportamento do amante, Anna parecia arrogante e intransigente. John Graham, por sua vez, personificava o sonho de qualquer mulher, não parecendo em nada com o homem rancoroso e inseguro que ela descrevera. Na verdade, parecia mais um pobre sofredor, com uma paciência infinita para lidar com sua tresloucada amante. Michael Hawkins estava dest ...

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