Livro: Cenário de uma paixão Página 2

... o do que história real — a amiga falou com desprezo. — Mas, mesmo assim, não deixará de ser interessante. Talvez eu também compre um ingresso. Rachel não pôde ouvir o comentário final, pois as duas já se haviam afastado. Rachel podia imaginar o que se passava pela mente dos londrinos: "Será que a jovem autora americana contaria o verdadeiro motivo pelo qual seu charmoso e talentoso amante suicidara-se?" Um tremor percorreu-lhe o corpo e ela ansiou por entrar. Enquanto apertava a campainha, imaginou o que essas mesmas pessoas estariam pensando dali a quatro semanas. Será que o público teria sua curiosidade satisfeita ou a peça serviria apenas para aumentar o falatório? Afastou esse pensamento da cabeça, enquanto o porteiro conferia seus documentos, identificando-a. Seguindo as instruções dele, dirigiu-se à porta de entrada. Pela primeira vez, assistiria à leitura do script pelo elenco. Ninguém esperava que ela viesse; havia recusado várias vezes participar do planejamento do espetáculo. Mesmo agora, ainda não sabia exatamente por que resolvera voltar a Londres. Sentiu uma grande emoção ao ver os atores no palco ensaiando, o pessoal da iluminação definindo os melhores ângulos de luz e o resto da equipe montando o cenário. Fechou os olhos e reviveu antigas sensações como a ansiedade, a angústia e o medo de que todo esse exaustivo trabalho não fosse reconhecido. Em silêncio, ela dirigiu-se à última fila e afundou-se em uma das cadeiras sem, no entanto, conseguir relaxar. Seus músculos formigavam e seus nervos estavam à flor da pele. Pela primeira vez, em três anos, tinha consciência dela própria como ser humano. Jogou a cabeça para trás, satisfeita. Era como se ressuscitasse, pois desde a morte de Richard não se sentia assim. Estava viva outra vez! Michael Hawkins, o diretor, estava sentado ao lado da mesa, com o script apoiado sobre uma das pernas. Embora prestasse atenção à fala dos atores, parecia muito mais ...

interessado em analisar os atos de cada um deles. Maureen Dench, escolhida para fazer o papel de Anna Caulfield, a protagonista, estava um pouco tensa. Mas como ele já havia trabalhado com ela, antes, sabia que aos poucos iria descontrair-se, vindo a realizar um bom trabalho. Ao contrário da jovem, John Graham, o ator principal, estava completamente à vontade. Conhecendo sua reputação, era provável que a esta altura ele já tivesse incorporado totalmente o seu personagem: o desafortunado David Hamilton. Rapidamente, estudou as outras três pessoas à mesa, que fariam papéis secundários. Do lado direito estava Geoffrey Beton, cinqüenta e seis anos, muito magro, com os cabelos e o bigode já grisalhos. Era a personificação do clássico ator inglês. A esquerda de Beton, sentava-se Ethel Findon, que dizia ter cinqüenta e nove anos, embora todos soubessem que tinha pelo menos dez anos mais do que isso. Do lado aposto a Ethel, encontrava-se Germaine Ogilvy, trinta anos, solteira e terrivelmente ansiosa para subir na carreira. Para Michael, porém, Germaine estava fadada a ser coadjuvante o resto de sua vida, pois, apesar de talentosa, não possuía a menor presença no palco. Os cinco membros do elenco estudavam o script com diferentes graus de concentração, avaliando ao mesmo tempo a peça e os colegas. Michael considerava o primeiro dia de ensaio como um jogo de xadrez, onde cada jogador observava atentamente o adversário, seus pontos fortes e suas fraquezas. Como um juiz experimentado, ele os examinava, enquanto se posicionavam. Conhecia-os muito bem, pois já trabalhara com cada um deles antes, e sabia que em poucos dias estariam plenamente ajustados aos papéis. O elenco estava bastante interessado na peça, pois seu sucesso representava, no mínimo, a garantia de seus salários por um ano ou mais. Se fracassassem. Ele sorriu, afastando essa possibilidade. Escolhera os atores com cuidado, portanto não havia a menor chance de fracasso. Quan ...

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