Livro: A princesa e o plebeu Página 3

... ãe. A música e o vozerio continuavam enquanto sir Harry puxava Caroline rumo às portas para o jardim. Deus do céu, o homem pretendia ficar a sós com ela já. Nem esperaria levá-la para casa. Tentou esqui¬var-se, mas prendeu o salto do sapato na bainha da saia e, com um gritinho, caiu para a frente. Praguejando, ele a forçou a erguer-se. ― Vamos embora, menina. Vivacidade numa mulher é uma coisa, desafio, outra bem diferente. A não ser que esteja brincando. Já sei. Você se faz de mocinha rebelde e eu a corrijo, não é? Com olhar desesperado, Caroline o encarou. ― Não, senhor, me perdoe. Não foi minha intenção fazer brincadeira alguma com o senhor. De maneira inesperada, sir Harry torceu-lhe o pulso fazendo-a gemer de dor. ― Comigo ou sob mim ,vamos brincar o tempo todo, não é, minha gatinha? ― Solte a moça, Wrightsman ― soou uma voz suave atrás deles e Caroline, ainda com o coração disparado pelo medo, virou-se para ver quem a defendia. De aspecto severo, magro, feioso, com cabelos gri¬salhos e curtos e um paletó simples de seda marrom, ele não parecia um herói. Mas aos olhos de Caroline, ele merecia um garanhão branco. ― Não creio que ela queira sua companhia por nem mais um minuto. ― O que ela quer não interessa, Byfield. É a filha de Merry Miriam e comprei seus serviços da própria mãe ― resmungou sir Harry. O homem grisalho franziu a testa. ― A própria mãe lhe vendeu a filha? ― Isso mesmo. Miriam executou uma transação dig¬na de um agiota. Paguei uma soma exorbitante por esta rameirazinha virgem. ― Ora, se é virgem, não pode ser uma rameira ainda. Pelo que vejo, ela é muito novinha para qualquer atividade venal. Desde quando passou a preferir crianças, Wrightsman? ― Desde a semana do Natal passada em Bath com aquela atriz infernal. A maldita me deixou com a sífilis francesa. Até um puritano, como você, sabe que a única cura se cons ...

gue deitando-se com uma virgem. Para se ter certeza, o jeito é arranjar uma meninota. Incrédulo, Byfield encarou o outro. ― Você tem coragem de, em sã consciência, passar sua doença a ela na esperança vã de se curar? ― Ela será muito bem paga pela amolação. ― Não vou permitir que faça isso, Wrightsman. Não importa o quanto você pagou a Miriam. Passe amanhã por meu banco e eu lhe devolverei a quantia paga em dobro. ― Vá para o inferno com sua interferência, Byfield. Quero a menina e não o dinheiro. ― Dou-lhe o triplo e você poderá procurar um novo médico. Onde já se viu pôr preço numa alma inocente? Com um sorriso, o sexto conde de Byfield estendeu a mão para Caroline. ― Pronto, menina. Você vai para casa comigo e eu juro que ninguém jamais a tocará contra sua vontade. Finalmente, Caroline chorou. CAPÍTULO UM Abril de 1803 Ele não sentiria medo. Jeremiah respirou fundo e fechou o topo da manga da lamparina com a mão, isolando a chama sob a palma. Enquanto o ar se extinguia, esta começou a bruxulear e as sombras do quarto, mais densas, o envolveram. Sentindo o acelerar do coração e a tensão muscular, ele lutou para fugir do pânico irracional. A pequena chama desapareceu deixando apenas uma fa¬gulha no pavio. Com um gemido profundo, ele levantou a mão e concentrou a atenção no pontinho reluzente, a única maneira de vencer o terror cego que lhe estragaria a vida, se permitisse. ― Volte, maldita! Volte! Não morra me deixando so¬zinho na noite escura! Por Deus, como a situação chegara a tal ponto? Vagarosamente, a fagulha foi se dilatando até trans¬formar-se em chama outra vez. Incapaz de desviar o olhar, Jeremiah continuou a fitá-la. Com as sombras afastadas, os demónios tinham sido vencidos. Mas por quanto tempo? Quando encontraria paz novamente? Com outro gemido, ele tornou a deitar-se. Que diabos estaria acontecendo com ele? Não fora sempre assim. Era um ...

Comentários:

Deixe aqui seu comentário sobre este livro: