Livro: Algemas de Cristal Página 3

... �s poderiam lhe dar, desde que não interfiram, é claro…”. A última frase parecia ter duplo sentido e uma espécie de viso. Fiquem longe, era o que ele queria dizer. Naquela época era só o que poderiam fazer, e sabiam que de nada adiantaria tentar enfrentar Raul DuBare à distância. Um ano depois, Eve continuava magoada com ele. Planejava um dia encontrar aquele homem e magoá-lo tanto quanto ele magoou seu tio e sua tia, e principalmente a pobre Carol. Depois de terminar os estudos, Eve aceitou um emprego temporário em Londres, cuidando do filho de um francês. Economizava tudo o que ganhava, pois queria visitar os tios na África. Nesse período, recebeu uma verdadeira enxurrada de cartas de Celeste. Eve não via a amiga desde que saíra da escola, e, numa das cartas, Celeste escrevia: "Queria morar em Paris e já estava tudo acertado antes do acidente. Depois, Raul achou que o meu dever era ficar na fazenda cuidando de Michel. Ele pensa que o menino precisa de mim, para ser educado corretamente, e que por ele devo me sacrificar a vida toda. Nossa prima Nadine disse que estou desperdiçando minha juventude aqui em Camargue. Raul quer que eu me considere satisfeita com os poucos amigos que ele escolhe para mim e com o Rally". Eve lembrou, vagamente, que o Rally era um grupo fechado, formado pelas mães da classe alta, que davam festas onde os jovens encontravam pessoas do mesmo nível econômico. Numa carta recente, Celeste a deixou muito preocupada. Dizia: "Você precisa vir aqui, Eve, e me ajudar a convencer Raul. Se alguém tem responsabilidade de cuidar de Michel, este alguém é você. É tia dele tanto quanto eu. Carol a considerava como irmã". Eve respondeu que era apenas prima de Carol, não era tia verdadeira de Michel e que Raul não iria aceitá-la. A carta seguinte de Celeste foi furiosa: "Você precisa vir! Se continuar a recusar, eu levarei Michel para a Inglaterra. Raul vai acusá-la de rapto". Celeste terminava a carta com um ped ...

do: "Você sabe que só farei isso se não houver outro jeito. Imploro que pense no assunto, querida. Raul é muito imprevisível e, se você encontrá-lo de bom humor, ele a ouvirá. Ele não poderá dizer que você é jovem demais, porque já tem quase vinte e dois anos, um ano mais do que eu, tenho certeza de que, com esses seus olhos azuis, você convencerá Raul. Diga que está preparada para cuidar de Michel, enquanto eu tiro umas férias. Afinal, não sei por que ele é tão rígido comigo enquanto é um conquistador e se diverte com total liberdade". Eve não queria saber da vida de Raul DuBare, já o desprezava o suficiente. Apesar de já ter resolvido que não poria os pés na França, Eve começou a pensar em Michel. Seria bom que o menino fosse criado por aquelas pessoas? Talvez fosse melhor que vivesse em Londres, mais modestamente… isto é, se o arrogante Raul permitisse! Quando finalmente, na última carta, Celeste ameaçou procurar George e Mavis, Eve viu que não tinha outra alternativa. George poderia ter outro colapso e ela não queria ser a culpada por isso. Respondeu que faria uma visita curta a Camargue e Celeste escreveu mandando uma série de instruções. Havia um hotel no vilarejo de Les Saintes Maries, administrado por uma inglesa que sempre alugava quartos aos compatriotas. Celeste dizia que Eve devia esperá-la no hotel e praticamente a proibiu de entrar em contato com ela na fazenda. Apesar de atemorizada com a situação, Eve sentiu-se envolvida numa aventura. Tinha algum dinheiro economizado do último emprego. Comprou algumas roupas, arrumou o passaporte e partiu de trem de Vitória para Dover, atravessou de balsa para Calais e lá pegou um ônibus para Paris. Dali em diante, o resto da viagem para o sul foi muito mais fácil e agradável. Encontrou o hotel sem dificuldades, mas ficou frustrada quando soube que todos os quartos estavam ocupados. A Sra. Wood, no entanto, foi muito gentil e lhe arranjou um quarto. Era mal vent ...

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