Livro: Amar Não é Pecado Página 3

... frente da loja, onde fregueses se amontoavam diante do balcão de vidro. Atravessaram a rua e pararam diante da placa da Hatchard. Abigail teve a impressão de ter chegado à embaixada britânica depois de sair do território inimigo. — Obrigada por sua bondade em ajudar uma estranha. — Não somos estranhos, prima. Quer abrir a porta? Estou com as mãos ocupadas. Abigail anuiu e entrou na livraria. Cary entregou os pacotes a um criado e espantou-se ao ver Abigail abaixar-se atrás do balcão. — O que está fazendo? — Ele debruçou-se por cima da divisória larga de madeira. Abigail acenou, aterrorizada, pedindo silêncio. — Lorde Dulwich está aqui! — ela sussurrou. — Por favor, não denuncie a minha presença! — Wayborn! — O visconde de Dulwich bateu nas costas de Cary. — Pensei que estivesse em Hertfordshire entre pi¬lhas de feno e chiqueiros! — Como vê — Cary encostou-se no balcão —, estou aqui. — Moço! — Dulwich dirigiu-se ao funcionário com rudeza. — Estou com pressa e o seu ajudante é um idiota! Quero uma porcaria chamada Kubilai Khan. — Milorde, sinto informá-lo que o sr. Coleridge ainda não publicou essa obra. Talvez daqui a alguns meses. — Sou lorde Dulwich, homem! Quero isso agora! — O funcionário não pode tirar um livro do nada — Cary interveio. — Como sempre, metendo a colher onde não é chamado, Wayborn! — o visconde retrucou, enfurecido. — Não tem com¬postura? — Eu é que lhe pergunto isso, Dulwich. Milorde derrubou uma jovem em Piccadilly e nem ao menos lhe pediu desculpas. — Essa é boa! Acha que vou me deter por qualquer uma? Abigail sufocou um grito. — Era minha prima. — Então queira me desculpar — Dulwich falou com supe¬rioridade. — A culpa foi dela, que estava no meu caminho. — Não foi nada disso! Vi quando a derrubou. E se eu co¬mentar sobre isso no White\'s. — Não se atreva! — Sujeito asqueroso! — O que está pretendendo, Wayborn? — U ...

pedido de desculpas, e por escrito, pois minha prima não deseja encontrá-lo. Para espanto de Abigail, o lorde não protestou e molhou na tinta a pena que estava sobre o balcão. — Qual o nome da sua prima? — Não interessa. Escreva: O odioso lorde Dulwich expres¬sa seu profundo e lamuriento. — Espere aí! — .pedido de desculpas por haver agido de maneira ver¬gonhosa em Piccadilly esta tarde, e por isso perderá o direito de ser chamado de cavalheiro. Pela presente, atesta, ainda, que é o camarada mais grosseiro na face da Terra. Sem mais. — Espere um pouco! Não poderei lhe dar umas vinte libras? — Na nossa família, não costumamos trocar dinheiro por insultos. Além disso, seus rendimentos já foram cortados por seu pai, não é? — Fale baixo! — Assine logo. — Em seguida, Cary examinou o papel assinado, guardou-o e falou com Eldridge como se nada ti¬vesse acontecido. — Por favor, o senhor tem um exemplar de Tom Jones? — Eu cheguei primeiro e quero Kubilai Khahl — O vis¬conde bateu com a bengala no balcão. — Milorde terá de assinar a lista. — o livreiro informou-o com cortesia. — Que lista? — Dos que aguardam o livro, milorde. — Está bem, dê-me a maldita lista. — Não imaginei que fosse amante de poesia — Cary co¬mentou. — Detesto poesia e poetas. É para minha noiva. — Não sabia que estava noivo, ou teria enviado a ela mi¬nhas condolências. — Escute aqui, seu idiota! — Dulwich avisou Eldridge. — Se o livro chegar antes do dia 14 de janeiro, ficarei com ele. Caso contrário, pode jogá-lo fora! — O que vai acontecer nessa data? — Cary indagou. — Meu casamento. Não vou desperdiçar dinheiro com¬prando um livro idiota para minha esposa. — Ah, ela deve se dar por muito feliz de contar com um noivo tão apaixonado — Cary ironizou. — E quem disse que estou apaixonado? Quero o dinheiro do pai dela! Quando eu me casar, pagarei minhas dívidas, inclusive o que estou lhe dev ...

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