Livro: Amar Não é Pecado Página 2

... aste com a pele morena, incomum para um in¬glês. Devia ter entre vinte e trinta anos. — Perdão, senhorita! Achei tratar-se de uma menina de onze, doze anos! Ou nem pensaria em segurá-la. — Ele a fitou com certa malícia. Abigail, envergonhada, apavorou-se. Príncipes ciganos eram mais seguros a distância. — Como cavalheiro, eu deveria certificar-me antes de er¬guê-la do chão. — Ele riu. — Da próxima vez, será melhor pedir o certificado de batismo antes de prestar assistência a uma senhorita. Abigail enrubesceu, o que acentuou o tom de suas sardas. Ela não conseguiu falar, a língua parecia presa. Teria ficado surpresa se soubesse que ele admirava os cabelos loiros cor de caramelo, os grandes olhos castanhos, a boca generosa e o nariz pequeno. — Obrigada. senhor — ela finalmente balbuciou. — Cary Wayborn — O cavalheiro tocou na aba do chapéu. — As suas ordens. — O senhor disse Wayborn? — Abigail engasgou pela sur¬presa. — Minha mãe era uma Wayborn! — Sua agitação fez um dos embrulhos escorregar para a frente, ameaçando o equilíbrio da pilha. — Já que somos parentes, permita-me ajudá-la. — Ele empurrou o volume com a ponta da bengala. — Obrigada. Será que somos primos? — Tornou a corar pela audácia da pergunta. Como um homem que parecia oriundo de uma pintura de Caravaggio poderia ser parente de uma jovem sardenta e de cabelos encaracolados? — A senhorita deve ser uma das primas de Derbyshire. — Lorde Wayborn é meu tio, embora eu não o conheça. O casamento de minha mãe não agradou à família. — Então, prima — Cary não se espantou com a revelação —, para onde se dirigia antes daquele bárbaro derrubá-la? — Não deveria insultá-lo. — Não o estou insultando, apenas descrevendo. Afinal, eu o conheço desde os tempos do colégio. Espere, para onde vai? Eu levo seus pacotes. — Não se preocupe. Vou encontrar meu pai na Livraria Hatchard. — Que coincidência! Era para l ...

� que eu ia. Venha, conheço um atalho. Abigail não teve como não segui-lo. Cary entregou-lhe a bengala e pegou os pacotes de suas mãos. — Vou comprar um livro — ela informou sem olhar para trás. — É sempre um presente que agrada. A viela tinha aspecto desagradável, escura e barulhenta, e parecia não ter fim. Abigail assustou-se. Nunca saíra das principais ruas londrinas. — Tem certeza de que está na direção certa? — Por favor, poderia segurar a caixa pequena? — Não houve tempo. O embrulho caiu. — Contém algo frágil? — Não. — Abigail abaixou-se, temerosa. — São luvas. — Ah, pensei em comprar luvas, mas minha irmã tem muitos pares. Abigail segurou o barbante da caixa, levantou a barra das saias para evitar a sujeira da rua. — Minha irmã está noiva — Cary continuou —, por isso pensei em dar a ela de presente um daqueles livros que as mulheres só lêem depois do casamento. — Ele virou por outro beco ainda mais estreito, que só permitia caminharem em fila indiana. — Por aqui, prima. — A que livros se refere? — Abigail não ocultou a curio¬sidade. — Tom Jones, Moll Flanders. ou algo parecido. — Eu li os dois e não sou casada. — E do qual gostou mais, prima? Do patife ou da pros¬tituta? — Bem, Tom Jones diverte mais. Moll Flanders é depres¬sivo. Qual a sua opinião? — Eu não os li. Meu primo vigário ficaria escandalizado. Prefiro deixar a leitura para a sra. Wayborn. Enquanto caço faisões para o jantar, ela pode ler Fanny Hill, muito mais útil de que bordar os meus lenços, não acha? O que a esposa diria ao saber que o marido atravessava becos escuros ao lado de jovens desconhecidas?, Abigail refletiu. — Vamos, prima? — Cary abriu uma porta e um brilho carmim o envolveu. Abigail seguiu-o em meio ao calor escaldante dos fornos. O cheiro de pão não deixava dúvida. Era uma padaria. Os aprendizes se espantaram ao vê-los e ela corou, mas Cary conservou a calma. Chegaram à ...

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