Livro: O Sentido do Amor Página 2

... rvas generosas, em forma de ampulheta, fazendo com que seu decote parecesse um fenômeno da natureza. Issy respirou fundo, e o arame que sustentava o corpete se enterrou em suas costelas. Ela retirou a faixa que prendia seus cabelos e deixou que a massa de cachos em estilo pré-rafaelita caísse sobre seus ombros nus enquanto contava até dez. Certo, talvez o figurino da temporada passada de The Rocky Horror Picture Show não fosse exatamente sutil, mas ela não tivera muitas opções, com tão pouco tempo, e o homem que a havia contratado para aquela manhã não queria algo sutil. — Vulgar, querida. Esse é o visual que procuro — ele dissera, em seu impecável sotaque de Eton. — Rodders está se mudando para Dubai e queremos mostrar a ele o que vai perder. Então, não economize nos peitos e no traseiro, querida. Já estava na ponta da língua de Issy mandá-lo para o inferno e dizer-lhe que contratasse uma stripper, mas ele mencionara a soma astronômica que estava disposto a lhe pagar se ela "fizesse um show decente", e ela engolira as palavras. Depois de seis meses de muita economia e da luta para encontrar um patrocinador, as opções de Issy para conseguir os trinta mil de que precisava para manter o Teatro & Bar Crown and Feathers aberto para outra temporada estavam se esgotando. A Agência Billet Doux de Musicogramas havia sido a joia da coroa entre suas muitas ideias para levantar fundos. Mas até aquele momento, ela tivera um total de seis reservas. E todas feitas por amigos bem-intencionados. Tendo avançado na carreira de faz-tudo a gerente geral nos últimos sete anos, todos no teatro dependiam dela para assegurar que o espetáculo continuasse. Issy suspirou, o peso da responsabilidade fazendo sua cabeça doer, enquanto as abas do corpete lhe apertavam os pulmões. Com o banco ameaçando suspender o empréstimo do teatro a qualquer momento, os princípios feministas eram um entre os muitos luxos a que ela não podia se dar o direito. Faria um ...

apresentação elegantemente sugestiva de Life is a Cabaret, mostraria um pouco de "peitos e traseiro", e iria para casa com uma soma razoável para o caixa do Crown and Feathers, além da possibilidade de conseguir outros trabalhos via propaganda boca a boca. Afinal de contas, aquele era um dos clubes de cavalheiros mais exclusivos do mundo, frequentado por príncipes, duques e lordes, sem mencionar os homens de negócios mais ricos e poderosos da Europa. Seria fácil. Ela havia deixado muito claro para o agente o que um telegrama cantado, o "musicograma", incluía, e o que não incluía. E Roderick Carstairs e seus amigos não poderiam ser um público tão difícil como os 25 meninos de 5 anos, à beira de uma overdose de açúcar, para quem ela cantara Parabéns pra você na semana anterior. Ou pelo menos era o que esperava. Mas quando Issy abriu a porta de carvalho que dava para a Sala de Convivência da Ala Leste e ouviu os assobios e as risadas que vinham do interior, sua esperança sofreu uma morte rápida e dolorosa. Pelo que parecia, seu público estava pronto para ela e não era, nem de longe, velho e fossilizado como imaginara. O corpete apertava suas costelas enquanto ela permanecia paralisada na soleira da porta, escondida das vistas deles. Fazer um "show decente" não lhe parecia assim tão fácil, agora. Ela estava olhando, como que hipnotizada, para as fileiras de estantes que cobriam as paredes, reunindo coragem para entrar na cova dos leões, quando percebeu um movimento na sacada, do outro lado do corredor. Com a silhueta destacada pela pouca luz do cair da noite, uma figura alta apareceu, falando ao telefone celular. Era impossível ver suas feições, mas o déjà vu fez com que os cabelos na nuca de Issy se arrepiassem. Momentaneamente seduzida pelo porte do estranho, os ombros largos e o modo confiante, quase predatório como ele se movia no pequeno espaço, Issy estremeceu, pensando em um tigre andando por uma jaula. Ela deu um pulo ao ...

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