Livro: Algemas partidas Página 3

... ta e não os esforços gastos para prepará-la. Naquele dia, porém, ele estava diferente, com jeito de quem queria dizer algo. Mas Cally não teve paciência para esperar o que seu pai tinha a dizer. Havia chegado a hora de ela falar. — Estive pensando — falava, mexendo a sopa, sem olhá-lo de frente. — Quero ir ao México e assistir ao casamento de Rolfe. A voz estridente no alto-falante do aeroporto interrompeu seus devaneios. Em poucas horas estaria com seu irmão e aquilo lhe dava uma alegria imensa. Colocou a carta nova¬mente na bolsa e imaginou se ele recebera sua resposta. Claro que sim, pensou. Escrevera; logo, tudo fora resolvido. Cally sorriu ao pensar na surpresa de Rolfe. Não somente por sua viagem, mas pelas notícias que vinham a seguir. Cally havia se virado para encarar o pai após ter dito que queria ir ao México. E, como esperava, encontrou um olhar furioso e penetrante, pronto para atacá-la. Mas aquela raiva, ela percebeu depois, não havia sido causada por sua decisão de partir. O que realmente o aborreceu foi a capacidade de Cally finalmente expressar suas idéias claramente e sem rodeios. O velho Shearman, por sua vez, também tinha novidades. E estava igualmente receoso quanto à reação da filha. — A sra. Bates vai jantar hoje conosco — ele disse, fria-mente. — E quero que saiba que ela será sua nova mãe. Ele saiu da cozinha, deixando-a completamente atônita e sem ação. Durante o jantar, Cally tentou observar disfarça-damente sua futura madrasta. Ainda não havia conseguido sentir simpatia por ela, mas, de qualquer maneira, estava satisfeita com o casamento deles. Porém, a esperança de assistir ao casamento do irmão desaparecia a cada instante. Seu pai havia ignorado sua decisão completamente e com certeza se recusaria a pagar-lhe as passagens. — Parabéns, papai — ela dissera, forçando um sorriso. — Parabéns, sra. Bates. Tenho certeza de que serão muito felizes. Mas a viúva não estava muito in ...

eressada em cumpri-mentos. — Seu pai me falou que você está querendo em ir ao México para o casamento. Cally fora pega de surpresa. Olhava para seu pai, que continuava a comer calmamente, feliz em deixar o problema para Elma resolver. — É verdade — ela murmurou, ansiosa pelo rumo que a conversa tomaria. — Nós achamos que você deve ir — continuou a viúva, como se aquilo já estivesse resolvido. Cally ficou tão feliz que nem se importou com o pouco-caso da sua futura madrasta, quando continuou a falar. — Bernard vai vender esta casa e vamos morar juntos no meu apartamento. Mas, infelizmente, ele é pequeno demais para nós três. Portanto, você terá que morar em outro lugar quando voltar do México. Mas que coisa maravilhosa, havia pensado Cally em seu quarto, após o jantar. Afinal, ter um lugar só dela era tudo que queria. Até que enfim estava livre da vigilância de ferro do velho Bernard! Porém, no dia seguinte, Cally descobrira que as coisas continuavam difíceis. — Vou pagar sua passagem — ele dissera. — Mas só a de ida. — Isso significa que você não me quer de volta? — explo-diu, revoltada. Era a primeira vez que o desafiava e sentiu-se arrepen¬dida por não ter feito isso antes. Suas palavras, surpreen-dentemente, tocaram o sr. Shearman. — Não quis dizer isso. — Ele ficou embaraçado. — Seu irmão falou que pagaria a viagem de volta, não falou? Então deixe-o pagar! Com certeza está muito rico! Cally não tinha escolha, e aceitou a passagem de ida. — Será que posso comprar alguns vestidos leves para le-var? — perguntara timidamente. — Com certeza vai estar muito quente no México. O velho Bernard concordara e lhe dera um cheque cuja quantia era suficiente para a passagem, algumas roupas e ainda sobrava um pouco para que ela gastasse por lá. O avião já iria partir. Ela se levantou e dirigiu-se ao por¬tão de embarque, enquanto uma onda de ansiedade tomava conta de seu corpo e de sua men ...

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