Livro: Corações em êxtase Página 2

... s e caminhos eram semelhantes, e todos os dias eram idênticos. Mas Lydia não era igual. Mais uma vez, tentou descobrir por que o conforto e a solidão da Sociedade Harmonia não a faziam sentir-se completa. Por que buscava algo que pudesse preencher o vazio secreto de sua vida sem graça? Gostaria de ver uma cidade com sua variedade de casas e lojas, suas ruas repletas de habitantes alegres e vestidos com roupas e chapéus coloridos, seus parques povoados pelo riso das crianças e pelo trotas dos cavalos. — Nikolaus! — a mulher exclamou. O pequeno havia derru¬bado uma xícara de cima da mesa e Lydia correu para tentar secar o leite com uma toalha. — Obrigado, moça — o homem mais velho sorriu. — Bitte. Gostariam de mais um pedaço de torta? — Posso experimentar a de maçã? — Jakob pediu, apresen¬tando o prato vazio. Sua voz despertava desejos estranhos que Lydia lutara para manter adormecidos. Ao estender a mão para receber o prato, fitou aqueles olhos grandes e azuis e surpreendeu-se com a in¬tensidade de seu brilho. Os lábios cheios e vermelhos encurva¬ram-se num sorriso e pequenas linhas formaram-se em torno de sua boca, sinal de que sorria com freqüência. Tão diferente dos homens sombrios de Accord! Uma pequena chama de esperança acendeu-se em seu peito. Como seria maravilhoso conhecer um homem capaz de sorrir! O calor que brotou de seu coração chegou ao rosto e o tingiu de vermelho. Em seus vinte anos, raramente falara com qualquer pessoa estranha à colônia. Esse estrangeiro não s6 era um Fo¬rasteiro, mas um homem, e isso tornava impossível disfarçar o desconforto. Envergonhada, inclinou-se e foi para a cozinha. — Não devia encorajar a moça, Jakob — Peine o censurou, a voz potente atravessando todo o ambiente. — Aposto que ela nunca foi sequer notada por um homem, muito menos com esse ar admirado. Não acredito que alguém tenha coragem de usar um vestido tão horroroso! Lydia continuou andando e deixou o ...

rato vazio sobre a pia da cozinha. Humilhada, levou as mãos ao rosto e respirou fundo, tentando conter o pranto. Então era assim que os outros a viam! Na mesa, Jakob mantinha os olhos fixos na porta da cozinha. — Vestidos não importam. A viúva Parkhurst compra os dela em Paris, e continua com cara de ameixa seca — e inclinou-se para o pai. — Linda, não? Os olhos azuis de Johann Neubauer iluminaram-se: — Seja bonzinho, e ganhará mais um pedaço de torta. — Eu não cortejaria uma mulher por um simples pedaço de torta! Peine estremeceu. Jakob não podia ter a intenção de cortejar aquela ratazana de igreja! A garota era comum como um pedaço de carvão! Jakob seria seu, mas precisava de mais tempo. Num gesto possessivo, fechou os dedos em torno de seu pulso. — Jakob, não pode estar realmente interessado. Anton, o marido de Peine, deixou o garfo sobre o prato e interferiu: — Uma mulher capaz de cozinhar com essa habilidade seria bem-vinda em qualquer família. — Mas ela é. diferente! — E você é esnobe — Anton censurou-a. Peine encarou-o com raiva, contendo o desejo de esbofeteá-Io. Precisava extravasar o rancor e a frustração! Se ao menos hou¬vesse esperado. Se houvesse conhecido Jakob primeiro! Agora estava irremediavelmente presa a Anton. — Você é insuportavelmente aborrecido. Seu Jakob era bom demais para aquela simplória de fim de mundo. Determinada, colocou o bebê adormecido nos braços de Anton e foi até a cozinha. A jovem assustou-se ao vê-Ia. Agora que estavam frente a frente, um estranho senso de familiaridade apossou-se de Peine. Impossível! — Qual é o seu nome? — Lydia Beker. — Sou Peine Neubauer. — É um prazer conhecê-Ia. — Os cavalheiros ficaram impressionados com suas tortas. Importaria-se em dividir as receitas? — De forma nenhuma. Vou buscar papel e tinta para escrever os ingredientes. — Muito obrigada. Enquanto isso, vou dar uma olhada em sua cozinha — Peine avisou, ...

Comentários:

Deixe aqui seu comentário sobre este livro: